terça-feira, 27 de abril de 2010

Napëpë versus O segredo da tribo

Ontem recebi o email da Professora Isabelle Braz Peixoto da Silva.

Achei que deveria apresentar isso para vocês. Aquele Abraço.


Caros,

boa noite!

Escrevo para comentar um assunto que me parece ser de enorme interesse para nós, tanto como cientistas sociais quanto como pesquisadores em geral, e da ciência, em particular.

Em 2004, uma aluna da Ciências Sociais da USP, minha colega de Faculdade, Nadja Marin, fez um excelente documentário chamado Napëpë sobre a luta dos Yanomami para recuperar suas amostras de sangue retiradas no final dos anos 1960 por uma equipe de pesquisadores norte-americanos que pretendiam comparar as amostras de sangue Yanomami, como grupo de controle, com as amotras de sangue dos sobreviventes da bomba de Hiroshima. Na época, quem intermediou o contato dos cientistas com os Yanomamis foi o antropólogo Napoleon Chagnon que conviveu um ano entre os índios e sobre eles escreveu inúmeros artigos e livros de sociobiologia sobre o caráter e a "natureza" dos Yanomami. Unindo pesquisa genética com análises culturais, o antropólogo criou uma imagem dos Yanomami como um povo guerreiro e violento, o que acabou levando os militares, durante a ditadura, a propor a demarcação descontínua das terras Yanomami na tentativa de isolar os índios em "ilhas" e evitar, assim, as guerras entre as diferentes tribos Yanomami. Desnecessário dizer que o território Yanomami é uma das reservas mais ricas em minérios, os mais variados. Essa demarcação descontínua, como sabemos, não ocorreu, mas isso não eliminou os conflitos ligados a essa pesquisa. As amostras de sangue Yanomami retiradas, na época, continuaram a ser usadas em pesquisas genéticas longo dos anos 1980, 1990 e 2000 sendo, inclusive, parte do projeto Genoma Humano. Acontece que os Yanomamis não foram avisados de que suas amostras de sangue seriam guardas o que, para a cultura deles, é totalmente inadmissível, sobretudo depois que a pessoa morre, já que o cerimonial funeral envolve a destruição de todo o corpo do morto. Bem, eles estão numa disputa enorme para que se reconheça que se trata de um caso explícito de biopirataria e ter as suas amostras de volta.  Foi sobre isso que a Nadja fez um belíssimo documentário que inclusive ganhou o 8th Gottingen International Ethographic Film Festival. O documentário está disponível no you tube em quatro partes (acessíveis pelos links abaixo) e eu realmente recomendo!!

Napëpë - parte 1



Napëpë - parte 2



Napëpë - parte 3



Napëpë - parte 4



Bem, mas não bastasse o interesse íntrenseco ao tema, o filme se tornou, recentemente, ainda mais interessante. O diretor de cinema José Padilha, famoso pelo seu controverso Tropa de Elite, acabou de lançar um filme, feito com um patrocínio enorme da Globo e da BBC, chamado "O segredo da tribo". O filme estreiou no festival "É tudo verdade" e está fazendo um sucesso enorme. Mas apesar de ser explicitamente um plágio do filme da Nadya, nem sequer menciona o Napepe. Isso porque os dois filmes têm cenas idênticas!! O que torna esse quiprocó de pirataria ainda mais interessante é que o José Padilha é um dos protagonistas do caso mais polêmico de pirataria cinematográfica do Brasil, uma vez que o seu Tropa de Elite - uma das maiores bilheterias do cinema brasileiro - foi pirateado antes do lançamento oficial e apesar de ter milhões de cópias piratas do mesmo circulando, isso não impediu que ele fosse um dos filmes mais visto da história do cinema nacional.


O segredo da tribo-Trailer


Enfim, é um caso sociologicamente bem interessante nas suas multiplas dimensões e, por isso, achei que vocês poderiam se interessar.

Abaixo, segue um email que recebi da Nadja!
abraços,
Maria



Oi pessoal,

Desculpa estar usando esse espaço para isso, mas é por um motivo muito
importante pra mim. Voces sabem como eu me dediquei para fazer meu documentario "Napepe", e voces são prova
de que ele existe!! O Jose Padilha (onibus 174 e Tropa de Elite) lançou o documentário dele como inédito esse
mes,... mas leiam o texto que escrevi, o filme é basicamente uma cópia do meu só que feito com mais recursos. Ainda tem
um lado negro dessa história que conto pessoalmente com uma cervejinha. Não preciso dizer que não fiquei bem
com essa história...
Por favor, me ajudem a divulgar, ok?? Confio em voces, amigas pensantes, nessa guerra contra a grande mídia...
Enviem para jornalistas, historiadores, antropólogos, ... ou repassem a história boca a boca...
Obrigada! Beijos,
Nadja



Filme novo de José Padilha critica antropólogos mas é plagio de documentário

O novo documentário de José Padilha, “Segredos da tribo”, que abriu a
15˚ edição do Festival de Documentários “É Tudo verdade”, apesar de
todo bafáfá da mídia, não traz nenhum ineditismo, a não ser para
aqueles que ficaram ausentes todos esses anos da polêmica do sangue
Yanomami retirado na década de 80. O filme é plagio do documentário
“Napëpë”, de 2004, da antropóloga e jornalista Nadja Marin. Como
infelizmente no Brasil ninguém pode com as organizações Globo, ainda
mais quando se têm também o patrocínio da gigante inglesa BBC, o
documentário independente “Napëpë” não conseguiu atingir a mesma
divulgação de Padilha. Mesmo com uma qualidade infinitamente superior
e isento de sensasionalismos, e apesar de ter chegado a vencer o 8th
Gottingen International Ethographic Film Festival e de ter passado em
diversos festivais no Brasil, tendo sido também citado na revista
Época em 2004 em reportagem sobre o assunto, o documentário não
conseguiu fazer tanto barulho quanto parece estar fazendo “Segredos da
tribo”.

O plagio é muito fácil de ser comprovado, bastando apenas uma pesquisa
básica no google, ou visualizando o documentário de 2004 na íntegra no
site do “you tube”. José Padilha sabe muito bem da existência do
documentário anterior, apesar de não falar no assunto e não dar o
crédito, tanto que chegou a gravar o filme “Napëpë” em um evento na
Universidade de São Paulo na ocasião de uma palestra sobre o tema com
um dos antropólogos entrevistados na sua versão. Talvez o único mérito
do filme de Padilha, do qual ele pode se gabar, foi ter conseguido
entrevistar a principal personagem da polêmica, o antropólogo Napoleon
Chagnon. No entanto, o filme tem quatro cenas exatamente iguais às do
documentário “Napëpë”, sendo a mais chamativa, a bomba de Hiroshima
que explode quando um antropólogo entrevistado fala do tema dos
objetivos da expedição de Chagnon, que visava comparar o sangue dos
Yanomami - teoricamente a população mais pura do mundo - com o sangue
dos sobreviventes da bomba atômica lançada pelos americanos.

O plagio apesar de ser o elemento mais preocupante do filme, uma vez
que Padilha está ganhando orlas de dinheiros em festivais e clamando
para si o ineditismo da história, não é o único problema. O
documentário “Segredos da tribo” apela para questões morais do
comportamento dos antropólogos e se baseia em estórias
sensasionalistas as quais tenta provar através de uma sequência de
depoimentos enviesada, difícil de convencer uma platéia mais atenta e
informada. Por fim, a versão plagiada de Padilha deixa de lado a
opinião dos Yanomami brasileiros e se esquiva da questão realmente importante e
problemática, a repatriação do sangue Yanomami retirado pela expedição de Chagnon
e a atual comercialização desse sangue por instituições americanas sem o
consentimeto dos índios.

domingo, 25 de abril de 2010

Autoridades da Uganda querem punir homossexuais com pena de morte

Um video bom para poder refletir sobre as questões do relativismo cultural, questões de gênero e sexualidade.

Vale apena ver e se questionar um pouco.

O país está prestes a votar um projeto de lei que prevê a prisão perpétua e até pena de morte para homossexuais. Muitos gays já foram xingados e alguns são obrigados a viver quase que clandetinamente.




FONTE:   http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1253170-7823-AUTORIDADES+DA+UGANDA+QUEREM+PUNIR+HOMOSSEXUAIS+COM+PENA+DE+MORTE,00.html

sábado, 24 de abril de 2010

Concurso para docentes e técnicos administrativos



O Instituto Federal do Ceará está com inscrições abertas, a partir desta quarta-feira (14), para concursos de docentes e técnicos administrativos efetivos para os campi de Acaraú, Aracati, Baturité, Canindé, Cedro, Crateús, Fortaleza, Iguatu, Jaguaribe, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Quixadá, Sobral, Tauá e Tianguá. Com variações de datas de inscrições e provas, os seis editais possuem vagas nas mais diversas áreas de conhecimento.
Para ter acesso aos editais completos, quadro de vagas e realizar inscrição, basta CLICAR AQUI
Mais informações pelo telefone: (85) 3307-3671

FONTE: http://www.ifce.edu.br/noticias/index.php?noticia=1905

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cornelius Castoriadis. 1992.

Dominique Bollinger entrevista COM Cornelius Castoriadis eM 1992. UMa producão de CNDP
(A LEGENDA ESTÁ EM ESPANHOL)

1ª  E UMA SÉRIE DE 6 


 




VER MAIS AQUI
http://www.youtube.com/watch?v=-CnuORRAdDE&feature=PlayList&p=3F7A1B77B0B89FCE&playnext=1&playnext_from=PL&index=1

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Concurso: confira o resultado resultado final da 4ª etapa e a classificação dos candidatos aprovados PARA PROFESSOR DE SOCIOLOGIA

PARABÉNS A TODOS OS COLEGAS...
MUITO SUCESSO PARA TODOS.

2.13 DISCIPLINA 13: SOCIOLOGIA

1 10014662 ANA CARMEM AGUIAR RODRIGUES 48.75 24.00 9.50 0.00 82.25
2 10004319 LEONARDO LIMA VASCONCELOS CARNEIRO 46.25 24.50 9.17 0.00 79.92
3 10011238 CICERO ROBSON PEREIRA 47.50 18.75 9.00 0.00 75.25
4 10020162 ROBERTA PEREIRA PAIVA NEGREIROS 40.25 25.00 9.33 0.25 74.83 89
5 10000723 MARCIO KLEBER MORAIS PESSOA 40.00 25.00 9.33 0.00 74.33
6 10000321 FRANCISCO OLIVEIRA PASCOAL JUNIOR 46.25 17.75 9.50 0.00 73.50
7 10015085 NACELIA PEREIRA DE SOUSA 39.50 24.00 9.50 0.00 73.00
8 10013930 GISLANIA DE FREITAS SILVA 43.75 19.17 9.33 0.00 72.25
9 10002612 HELON BEZERRA MOREIRA 42.75 20.25 9.17 0.00 72.17
10 10006883 FRANCISCO DANIEL RODRIGUES DO NASCIMENTO 43.00 19.75 9.17 0.00 71.92
11 10029693 FERNANDA DE LEMOS ROCHA 40.00 22.92 9.00 0.00 71.92
12 10000110 DANIEL COSTA VALENTIM 38.00 25.00 8.17 0.00 71.17
13 10025347 ALBERTO DOS SANTOS BARROS FILHO 41.50 19.83 9.67 0.00 71.00
14 10019428 MARIA MARILENE BANHOS NOGUEIRA 41.50 19.83 8.67 0.25 70.25
15 10001319 DEUZIMAR DA SILVA DANTAS 38.00 23.33 8.67 0.00 70.00
16 10024625 FRANCISCO TALVANES SALES ROCHA 41.25 19.25 9.17 0.00 69.67
17 10013527 TARCISIO ARQUIMEDES ARAUJO CARNEIRO 37.50 24.50 7.50 0.00 69.50
18 10002930 RUY DAMASCENO MIRANDA 36.25 25.00 7.83 0.00 69.08
19 10014967 FRANCISCO ELSON ARAUJO LOPES 39.00 19.83 9.33 0.00 68.16
20 10008639 JENNIFFER KAROLINNY DE ARAUJO DANTAS 37.50 21.33 9.17 0.00 68.00
21 10012486 HUSTON ARAUJO DANTAS 36.75 22.42 8.67 0.00 67.84
22 10000175 EMIDIO FONTENELE DE BRITO 40.00 17.58 9.50 0.25 67.33
23 10000541 JOBENEMAR CARVALHO DOS SANTOS 37.50 20.75 8.83 0.25 67.33
24 10004026 MARIA JOSE DE SOUSA 37.50 20.83 8.83 0.00 67.16
25 10001597 PATRICIA PEREIRA CUNHA 35.00 21.92 9.17 1.00 67.09
26 10006417 MARIO DE OLIVEIRA GOUVEA 37.50 19.25 9.17 1.00 66.92
27 10013303 KATIA ALVES DE SA 32.50 25.00 9.17 0.00 66.67
28 10023271 GINA OLIVEIRA DANTAS 38.75 18.83 8.83 0.00 66.41
29 10012929 JORGE LUIZ CUNHA LIMA 32.50 25.00 7.83 1.00 66.33
30 10009296 FRANCISCA ERIKA BARROS GONÇALVES 35.00 22.42 8.67 0.00 66.09
31 10024463 SONIA DA COSTA SALES SOUZA 33.75 22.92 9.17 0.25 66.09
32 10012251 JOSE PEDRO SILVA DE SOUSA 33.75 22.92 9.17 0.25 66.09
33 10012830 ANA CRISTINA ARAUJO DE VASCONCELOS 40.00 16.75 9.33 0.00 66.08
34 10013016 ALANA CAETANO FREIRE 40.50 16.75 8.50 0.00 65.75
35 10025398 WAGNER ANTONIO DE JESUS DE BRITO 31.75 25.00 8.83 0.00 65.58
36 10001657 JAINA LINHARES ALCANTARA 37.50 18.75 8.33 1.00 65.58
37 10002666 MARIA JERUSILEIDE DE SENA DO NASCIMENTO 35.00 21.33 8.50 0.75 65.58
38 10027073 JOSE EUDO BELEM DE OLIVEIRA 31.00 25.00 8.17 0.75 64.92
39 10012151 HUGO GARBENIO DE CARVALHO 31.25 25.00 8.50 0.00 64.75
40 10012870 ALINE BARBOSA LOURENCO 30.25 24.50 9.50 0.25 64.50
41 10007940 ELLEN GARCIA DA SILVEIRA 40.00 15.17 9.00 0.00 64.17
42 10004620 ANTONIO MARCOS DE SOUSA SILVA 32.25 23.50 8.33 0.00 64.08
43 10018663 GALBA FAUSTINO DE OLIVEIRA 33.75 20.33 9.33 0.00 63.41
44 10001289 ETELVINA MARIA MOURA COSTA 40.00 15.00 8.33 0.00 63.33
45 10004874 FRANCISCA ROSANIA FERREIRA DE ALMEIDA 38.75 15.58 9.00 0.00 63.33
46 10005130 JOSENIRA UNIAS RIBEIRO 33.75 20.25 9.17 0.00 63.17
47 10021433 DIOGO BARRETO BATISTA 34.50 19.58 8.83 0.00 62.91
48 10009202 FRANCISCO DAGMAURO DO NASCIMENTO 34.25 18.75 9.50 0.25 62.75
49 10012632 LUIS PAULO PINTO PEIXE 31.00 23.42 8.17 0.00 62.59
50 10000205 ISAAC NAZARENO PAIVA DE MEDEIROS 28.75 24.42 9.17 0.00 62.34
51 10021559 MICHAEL MEDEIROS MARQUES 35.00 18.25 8.83 0.00 62.08
52 10013104 ESIO LEITE LOUSADA 33.75 19.75 8.33 0.00 61.83
53 10027012 FABIO FREIRE DO VALE 36.25 17.25 8.00 0.25 61.75
54 10006893 AUGUSTO MONTEIRO JUNIOR 38.75 13.00 9.67 0.00 61.42
55 10022461 JAIR LIMA FONSECA 33.75 19.33 8.33 0.00 61.41
56 10016162 ELISANGELA MARIA D OLIVEIRA SOUSA 26.75 24.50 9.00 1.00 61.25
57 10008862 HELDO DA SILVA MENDONCA 35.00 17.75 8.33 0.00 61.08
58 10025096 MAYARA TAMEA SANTOS SOARES 35.00 17.75 8.00 0.00 60.75
59 10021756 MANOEL MOREIRA DE SOUSA NETO 28.75 22.92 9.00 0.00 60.67
60 10002259 ANTONIO MARQUES DE OLIVEIRA 27.50 23.83 9.00 0.25 60.58
61 10003153 ANA JOZA DE LIMA 33.00 18.17 9.33 0.00 60.50
62 10001708 JOANE DOS SANTOS ARAUJO 32.50 18.67 9.00 0.00 60.17
63 10027672 JOSELINO NOGUEIRA DA CUNHA 25.75 25.00 8.83 0.25 59.83
64 10013021 CESAR WEYNE BATISTA DE SOUZA 36.50 14.08 8.83 0.00 59.41
65 10016923 FRANCISCA JULIANA FEITOSA SOARES 35.00 15.08 9.33 0.00 59.41
66 10014828 ERBENIA PRACIANO VIDAL 35.00 14.58 9.67 0.00 59.25
67 10028648 RAQUEL ARAUJO MONTEIRO 31.25 18.75 9.17 0.00 59.17 90
68 10028855 FRANCISCA ROMELIA DE OLIVEIRA SILVA 36.25 14.08 8.83 0.00 59.16
69 10017020 LIVIA MARIA DE PAULA ABREU DO AMARAL 28.50 22.33 8.17 0.00 59.00
70 10014469 MARIA APARECIDA BARBOSA DE MELO 31.25 18.25 9.33 0.00 58.83
71 10016093 MARIA CIBELLE MOREIRA DE ARAUJO 28.75 20.83 8.67 0.00 58.25
72 10025750 ROBERTA FERREIRA LIMA 26.50 23.42 8.00 0.25 58.17
73 10017577 FRANCISCA EMANUELA LEITAO PEREIRA 33.75 15.67 8.67 0.00 58.09
74 10013566 MARCELO RANGEL PINHEIRO 33.75 15.17 9.17 0.00 58.09
75 10014475 WALDIANE SAMPAIO VIANA 31.25 16.67 9.17 1.00 58.09
76 10009325 BEETHOVEN SIMPLICIO DUARTE 26.00 23.42 8.17 0.00 57.59
77 10005732 KARINE MOREIRA GOMES 36.25 12.50 8.67 0.00 57.42
78 10009895 FRANCISCO STEFESON DA SILVA 27.50 22.42 7.50 0.00 57.42
79 10021218 ANA PAIVA ANDRADE ALEXANDRE 27.75 21.33 8.00 0.25 57.33
80 10003166 LEILA CRISTINA NOLETO VELOZO 31.25 17.67 8.33 0.00 57.25
81 10015539 FRANCISCO FAGNER BRAGA MENDES 27.25 20.75 8.83 0.00 56.83
82 10018589 NAILA MARIA DA SILVA 26.25 21.42 9.00 0.00 56.67
83 10009317 CIBELE NUNES RODRIGUES 30.00 18.33 8.00 0.00 56.33
84 10014673 CYDNARA XIMENES DE MELO 26.25 21.83 7.67 0.25 56.00
85 10029914 MARIA EDNA NOGUEIRA 34.25 12.50 9.00 0.00 55.75
86 10004991 GLENIA PEREIRA DE LIMA 27.75 17.67 9.83 0.00 55.25
87 10001655 MARIA MONICA SOUSA LEAL 26.25 21.33 7.17 0.00 54.75
88 10014401 JANARA FERREIRA SOARES DE SENA 32.50 12.92 9.17 0.00 54.59
89 10010554 MICHELLE DE SOUSA ANDRADE 27.75 18.25 8.33 0.00 54.33
90 10008634 HERMENEGILDO DE OLIVEIRA ARAUJO 30.00 15.58 8.50 0.00 54.08
91 10021569 JULIO RANGEL BORGES NETO 30.00 16.17 7.83 0.00 54.00
92 10015673 IARA DANIELLE FERREIRA BANDEIRA 27.75 17.75 8.33 0.00 53.83
93 10027016 JOSEFA CRISTINA LOPES SOARES 26.25 18.75 8.50 0.00 53.50
94 10029685 ANA PAULA RODRIGUES DE ANDRADE 28.75 15.67 9.00 0.00 53.42
95 10011292 MARIA IMACULADA SOUSA BARROS 28.50 16.08 8.33 0.25 53.16
96 10012657 ISRHAEL VICTOR ARAUJO VASCONCELOS 26.25 17.67 9.17 0.00 53.09
97 10016865 GLAUCE MARIA VIANA FEITOSA 27.50 16.67 8.67 0.00 52.84
98 10011228 ROMULO NOBRE DE LIMA 31.25 14.08 7.50 0.00 52.83
99 10008898 MARIA LEONEIDE DE ALENCAR VALDIVINO 26.25 17.17 8.67 0.50 52.59
100 10007957 CLEBER MARTINS FREITAS 27.50 16.67 8.17 0.00 52.34
101 10022072 EDILIO QUINTINO DE OLIVEIRA 30.00 14.00 8.33 0.00 52.33
102 10023691 LIANA SOUTO ARAUJO 26.25 17.67 7.83 0.50 52.25
103 10029624 CARLOS DIEGO MARQUES RODRIGUES 27.50 16.17 8.50 0.00 52.17
104 10030072 VIVIANA CAVALCANTE PINHEIRO DE LIMA 27.50 16.67 7.83 0.00 52.00
105 10000811 IDELSON DE ALMEIDA PAIVA JUNIOR 26.25 16.67 8.83 0.00 51.75
106 10024142 MEIRIANE DA SILVA 27.50 15.17 8.83 0.25 51.75
107 10013102 QUITERIA ELIEUDA CAMELO DE LIMA 29.75 13.00 8.67 0.00 51.42
108 10027726 MARCIA GOIANA DE LIMA 27.50 16.08 7.67 0.00 51.25
109 10021813 FERNANDO ANTONIO MACIEL E COSTA 26.75 16.08 8.17 0.00 51.00
110 10008503 FRANCISCO VAGNER LIMA COSTA 26.25 16.08 8.00 0.00 50.33
111 10023592 CARPEGIANNI DE OLIVEIRA SILVA 27.50 14.00 8.00 0.00 49.50
112 10014592 MARIA EDNANDA RODRIGUES LOPES 27.25 13.00 8.83 0.00 49.08
113 10005090 ALBERTINA MARIA DUARTE DER OLIVEIRA 26.25 13.67 8.50 0.50 48.92
114 10010742 FRANCISCA ANDREA BRITO FURTADO 26.25 14.50 7.67 0.00 48.42
115 10007779 ANDERSSON SILVA DE ALMEIDA 26.25 14.08 7.83 0.00 48.16
116 10021695 CLECIVALDA CALDAS FEITOSA 26.25 13.08 8.33 0.00 47.66

2.13.1 Classificação final dos candidatos portadores de deficiência aprovados no concurso, na seguinte
ordem: classificação, número de inscrição, nome do candidato, notas finais na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª etapas e nota final no
concurso.
Classificação Inscrição Nome 1ª
1 10008862 HELDO DA SILVA MENDONCA 35.00 17.75 8.33 0.00 61.08


FONTE :
http://portal.seduc.ce.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1345:concurso-confira-o-resultado-resultado-final-da-4o-etapa-e-a-classificacao-dos-candidatos-aprovados&catid=14:lista-de-noticias&Itemid=76

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Globo Univesidade fala sobre o curso de pósgraduação em Antropologia Social da UFRJ

Programa Globo Universidade 19 de abril de 2008

Neste programa eles iram falar um pouco sobra a criação do Museu Nacional, e sobre o Curso de Pós-graduação em  Antropologia Social da UFRJ. Eles entrevistam o Professor Luis Fernando Dias Duarte, Coordenador do Curso de ensino do curso, Professor e Antropólogo Carlos Fausto, Professora Renata Menezes,e o Professor Gilberto Velho.

O Ex-Presidente Fernando Collor dá um entrevista ao Globo News

Collor fala dos bastidores do impeachment

Ele conta como percebeu que tinha perdido a capacidade de mobilizar a população.





O ex-presidente Fernando Collor de Mello conta em entrevista exclusiva o que passou pela cabeça dele no momento da aprovação do impeachment pela Câmara dos Deputados e quando percebeu que tinha perdido a capacidade de mobilizar a população.

Ele fala sobre a proposta surpreendente de fechar o Congresso. Conta como foi o golpe dos dossiês secretos. Lembra da fortuna que sobrou da campanha eleitoral e diz que apenas PC Farias sabia do que foi feito do dinheiro.

Collor chamou de “erro tático seríssimo” o pedido para que os brasileiros se vestissem de verde e amarelo. E acredita ter sido um “erro de avaliação fatal” o caminho que o levou à perda da presidência. O ex-presidente da República comentou ainda sobre o confisco da poupança de milhões de brasileiros.







Trata-se do depoimento exclusivo do personagem central de um dos períodos mais conturbados da história política recente do Brasil. Collor foi eleito aos 40 anos de idade, em eleição que empolgou o Brasil.







        

texto e videos do site Globo News

Generais do périodo da Ditadura Militar no Brasil dão entrevista à GLOBO NEWS

General diz que supostos torturados na ditadura só querem ganhar bolsa

Ex-comandante do DOI-CODI falou sobre os 25 anos do fim do regime militar.
O general Leônidas Pires Gonçalves diz que muitas pessoas se dizem torturadas para ganhar a Bolsa Ditadura e que ninguém foi preso injustamente durante o regime militar no Brasil. Ele não se arrepende de dizer que os exilados, como Fernando Henrique Cardoso, são na verdade fugitivos.




General Newton Cruz revela momentos dramáticos do regime militar

O general mais polêmico do Brasil é personagem do Globo News Dossiê.
Ex- chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e ex-comandante militar do Planalto, o general Newton Cruz quebra o silêncio para fazer revelações sobre os bastidores de momentos dramáticos do regime militar. Aos 85 anos, ele diz por que se considera "bode expiatório" do regime militar e responde aos que o chamam de legítimo representante da "linha dura".

terça-feira, 20 de abril de 2010

Entrevista com David Harvey para o programa

Pensador marxista inglês fala sobre os rumos da economia mundial

 David Harvey acaba de concluir o livro O Enigma do Capital.

O geógrafo e professor David Harvey, especialista em sociologia urbana, falou sobre os rumos da economia mundial nesta segunda década do século XXI, caracterizada por crises imprevisíveis. 



Ver na fonte aqui: http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1567340-17665-314,00.html

Última entrevista com Paulo Freire

- Fala sobre sua experiencia com o marxismo durante sua ultima entrevista.








Ultima Entrevista a Paulo Freire 1° parte






Ultima Entrevista a Paulo Freire 2° parte









Paulo Freire relata uma de suas experiências de campo


segunda-feira, 19 de abril de 2010

A IDEOLOGIA ALEMÃ - Prof. Romualdo Pessoa

Introdução ao estudo das obras de Marx. 04 de Junho de 2008.


A IDEOLOGIA ALEMÃ - Prof. Romualdo Pessoa - Parte 01




A IDEOLOGIA ALEMÃ - Prof. Romualdo Pessoa - Parte 02





A IDEOLOGIA ALEMÃ - Prof. Romualdo Pessoa - Parte 03





A IDEOLOGIA ALEMÃ - Prof. Romualdo Pessoa - Parte 04





A IDEOLOGIA ALEMÃ - Prof. Romualdo Pessoa - Parte 05



A teoria durkheimiana: A sociedade formadora do homem versus o homem formador da sociedade e um exemplo do campo político.





A teoria durkheimiana:
 A sociedade formadora do homem versus o homem formador da sociedade e um exemplo do campo político.


(Graduado em Ciênciais Sociais pela Universidade Estadual do Ceará e Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará)



*ANA HELENA BARBOSA
         (Aluna do 1º semestre do curso de Ciênciais Sociais da Universidade Federal do Ceará)


referência bibliográfica:


MOURÃO, Pedro. Jorge C., BARBOSA, Ana Helena Nascimento. A teoria durkheimiana: A sociedade formadora do homem versus o homem formador da sociedade e um exemplo do campo político. Disponível em http://cienciasocialceara.blogspot.com/2010/04/teoria-durkheimiana-sociedade-formadora.html. Acessado em 19 de abr. 2010.







Entendo que no pensamento durkheimiano existe um ponto de profunda relevância para qualquer pesquisa na área de ciências sociais, a metodologia fundada por ele.
 No capitulo II da obra Regras do método Sociológico ele tenta explanar sobre forma de observar o objeto de estudo. de forma imparcial e concreta. No texto, ele almeja que o sociólogo trate e veja o fato social como uma “coisa”, algo sem forma pré-determinada ou prejulgada, sendo esse “fator” social algo que esta posto perante aos agentes sociais. Durkheim define seu objeto de estudo, no capitulo I, ele define que fato social é algo exterior aos indivíduos, pois eles a percebem de maneira difusa na sociedade e não neles próprios. Ela tem outra característica, tem a capacidade coercitiva, pois os “induz” a ter um certo tipo de conduta social independente da consciência individual e também tem ação geral, pois “o fato social generaliza-se por ser social, mas não é social porque se generaliza” (DURKHEIM:2002.p.31).
Inicialmente, definiu-se o objeto dessa ciência, o fato social, de forma que iniciasse as regras para sua observação e análise em campo. Esse processo de “coisificação” do fato social para que sua observação seja ao máximo insenta de pré-noções do senso-comum. Entendo que esta foi uma das maiores contribuições de Durkheim para a ciência humana, pois é a partir da forma como o autor trata o fato social, se distanciando dele, buscando não imprimir projeções de si mesmo sobre o objeto é que o cientista social pode e deve observar com mais clareza o objeto pesquisado. Porém essa mesma forma de tratar o fato social pode ser uma “faca de dois gumes”, porque na medida em que o cientista tenta se afastar de pré - noções ele também se afasta do próprio fato como um todo, perde os sentidos sociais que são atribuídos ao objeto e acaba por cair em uma armadilha cognitiva que ele próprio criou.
Maneira de constituir objeto positivo da investigação; agrupar os fatos e segundo suas características exteriores comuns. Relações do conceito assim forma do com o conceito vulgar, Exemplos de erros a que nos expomos ao negligenciar esta regra ou aplicá-la mau: Spencer e sua teoria sobre a evolução do casamento; Garofalo e a sua definição de crime; o erro comum que recusa a moral as sociedades inferiores. Que a exterioridade das características que entram nestas definições iniciais não constituam um obstáculo as explicações cientifica.(DURKHEIM:2002.p.41)

Neste trecho Durkheim sintetiza toda a sua preocupação com esta forma de enxergar o fato social, e ai ele mostra vários pensadores que ele julga terem caído “sem querer” no erro de buscar no indivíduo as respostas para o social; Spencer, Garofalo, etc. Ele diz que: “Estas características exteriores devem, além disso, ser o mais objetiva possível. Método para o conseguir; aprender os fatos sociais de modo que se apresentem isolados das manifestações individuais”.(DURKHEIM, 2002: 41. )
Essa objetividade que Durkheim mostra é a característica da abordagem positiva, em que a sua busca incessante pela imparcialidade científica o leva a cair nesta armadilha positivista. Porém, o julgamento positivo a que Durkheim se dispõem é um mote das Ciências Sociais, e esse “caminho” o liberta das falsas evidências que dominam o espírito do vulgar.
O rigor metodológico herdado da teoria de Durkheim é uma herança fundamental para a formação das ciências sociais. Podemos notar isso claramente na obra O suicídio, onde ele inicia tecendo uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, citando inúmeras fontes científicas ou não que descrevem o tema. Durante o processo de descrição do objeto o autor vai sistematicamente analisando os dados e dialogando com a teoria, traçando assim um modelo de discussão sobre a concepção do objeto pelo senso comum e a ciência. Vemos esta mesma herança presente no pensamento bourdiesiano, quando ele trata da noção de que as estruturas agem sobre os indivíduos e os indivíduos agem sobre as estruturas, ou seja, homem sendo influenciado por sociedade.

Podemos identificar a estreita relação entre o fato social e o caso da passagem da herança política de pai para filho no campo político. Para o herdeiro, a obrigação de receber tal herança tem força exterior a ele, se apresenta de maneira coercitiva. Esse exemplo é mostrado na matéria publicada com o título, “Política de pai para filho”, da página eletrônica do jornal O POVO do dia 07/10/2006, a lista dos deputados estaduais eleitos para a 27ª legislatura da AL-CE mostra que 9 (nove) dos 46 (quarenta e seis) parlamentares (cerca de 20%) são parentes dos atuais ou de recém-ocupantes de cadeiras na Assembléia Legislativa do Ceará. São pais, maridos, filhos e irmãos que se candidataram e foram eleitos no lugar de membros de suas famílias. (O POVO, 2009)
Dois dos Deputados Estaduais que serão pesquisados em minha dissertação, Lívia Arruda (PMDB) e Tomás Figueiredo Filho (PSDB), ambos são filhos de pais que tiveram cargos eletivos. O pai de Lívia, José Gerardo Arruda é sobrinho de ex-Senador Esmerino Arruda e do ex-Deputado Federal Vicente Arruda. A mãe de Lívia Arruda é Inês Arruda, que é ex-Prefeita do município de Caucaia, filha da ex-Deputada Maria Lúcia Correia e nora do ex-Deputado Estadual Edson da Mora Correia. A tradição política na Família da Deputada Lívia Arruda é forte.  Entendo que essa tradição na política é algo experimentado pelos herdeiros como uma condição independente e preexistente a eles.
Tomás Figueiredo Filho, é filho de Cândida Maria de Paula Pessoa e Tomás Figueiredo. Seu pai é ex-Prefeito do município de Santa Quitéria e sua mãe é ex-Deputada Estadual. Cândida é nora do ex-Deputado Estadual Chico Figueiredo , cunhada do ex-Deputado e ex-Ministro do TCE, Alexandre Figueiredo.

Entendo que trabalhar os “porquês” de não poder instrumentalizar plenamente a teoria durkheimiana sobre a questão da formação social de um político é um exemplo essencial interessante sobre os limites de qualquer teoria.  Dentro da concepção positivista de Durkheim os objetos de análise perdem sua historicidade juntamente com a percepção dos diversos sentidos sociais que já foram atribuídos aos objetos.
Para dar maior propriedade à minha crítica sobre inaplicabilidade plena da teoria durkheimiana ao meu objeto de estudo recorro ao pensamento de Zygmunt Bauman, quando ele afirma que:

Durkheim desnudou e expôs a ‘natureza social de Deus’, tendo mostrado que, em todos os tempos, mesmo nas eras de maior devoção religiosa, Deus nada mais era que a sociedade disfarçada, os mandamentos da sociedade revestidos de caráter sagrado e, portanto, inspirando medo e terror. (...). Em vez de secularizar Deus, Durkheim deificou a sociedade.(...). Ocasionalmente, Durheim permite-se usar um estilo que poderia ser considerado genuinamente teológico, confirmando assim, embora de uma forma paradoxal, que Deus e a sua sociedade diferem apenas no nome. (Bauman, 1977: 31-32)

Nem de longe, em meu projeto de pesquisa para a dissertação pretendi tornar o “fato social” invencível, ou fazer a sociedade prevalecer perpetuamente sobre a subjetividade dos agentes. Posto que, os Deputados Lula Morais, Dedé Teixeira dentre outros não compartilham da situação de hereditariedade política, porém se tornaram Deputados tanto quanto os herdeiros.

Pergunto-me, se a sociedade é que determina os homens de acordo com o pensamento de Durkheim, então quem determina a sociedade? Esse é o grande dilema do pensamento durkheimiano. Para Durkheim, a sociedade é um fator determinante sobre as consciências individuais, a sociedade não é um mero conjunto de indivíduos amontoados. Quando os homens entram em contato uns com os outros surge um esprit de corp, espírito do corpo, que é a moralidade, então ela começa agir sobre os indivíduos independente da vontade deles e os coagem a fazer ações e manter certas condutas. A palavra-chave para entender o pensamento de Durkheim é coletividade, no sentido que não podemos avaliar a sociedade toda através de uma análise sobre um individuo, tirar o todo pela parte pela parte. Pois um indivíduo não é um elemento fac-simile da sociedade de onde está inserido. O fenômeno "sociedade" é algo que está além dos homens, no sentido que um homem isolado não age da mesma forma se estivesse em grupo.
De certa forma o parágrafo acima é uma síntese descritiva do fato social, coerção social, consciência coletiva, totalidade, no entanto isso não deixa claro o que é o objeto da sociologia. Essa Sociedade, suprema, abstrata, que influência, impõe, divide os indivíduos, a sociedade é algo que tem efeitos concretos sobre as pessoas, porém é algo difícil de ser visualizado em si. A alternativa aqui é buscar observá-la quando ela se materializa através dos indivíduos, devemos então analisar as ações e obras humanas onde esse fenômeno pode ser observado com maior clareza, leis, moda, linchamento, consciência coletiva, etc.
Porém o aspecto da importância da subjetividade dos indivíduos não é valorizado pelo autor, o individuo é mostrado como um sujeito passivo perante a sociedade, e que individualmente não tem grande influência na formação da sociedade. Mas vale lembrar que Durkheim escreveu no século XIX, sua obra é datada e tem suas limitações como qualquer outra teoria, No entanto seu pensamento é um clássico porque o enxergou a força que a sociedade exerce sobre os indivíduos.
Todavia, o que é que influencia as mudanças na estrutura da sociedade e as transformações nos fatos Sociais? O grande protagonista da sociedade para Durkheim é a coletividade. No livro, A sociedade dos indivíduos, de Norbet Elias, é mostrado uma metáfora sobre a construção de uma casa que pode ser observado da seguinte forma. O que faz uma casa? É um monte de tijolos amontoados? Não, é a forma como esses tijolos são encaixados que dá ao monte de tijolos o nome de casa. A casa é um monte de tijolos organizados de uma determinada forma que confere adquire caráter de casa. A humanidade baseia sua forma de organização no o estilo de vida dos antepassados porque é como nós é passado esse conhecimento e fazemos isso sem perceber. É preciso entender aqui que as Ciências Sociais estuda coisas imateriais que se manifestam através das pessoas, mas elas não conseguem controlar plenamente esses fenômenos.  Nos somos “caça fantasmas”, quando buscamos compreender o que são essas coisas imateriais como a Sociedade, o que é um País, a política, a moral ou a cultura, e esses fantasmas só se manifestam em alguns momentos quando tentamos agir contra a lógica deles.

Referências bibliográficas:

BAUMAN, Zygmunt. Por uma Sociologia crítica. Rio de Janeiro: Zahar,1977.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2002.
ELIAS, Norbert.  Sociedade dos indivíduos.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
O POVO. Em família: política de pai para filho. http: //WWW.opovo.com.br.html, Acessado em 20 mar. 2009.

sábado, 17 de abril de 2010

Entrevista com Jesus Izquierdo


Gênese de uma guerrilha

Ao pesquisar a transformação de camponeses em guerrilheiros no Interior da Colômbia, o sociólogo Jesus Izquierdo descobriu uma dinâmica que pode explicar outros conflitos pelo mundo

Por Kamila Fernandes
kamilafernandes@opovo.com.br
12 Abr 2010 - 02h07min


Uma das estratégias das Farc é sequestrar autoridades, como a ex-candidata a presidente Íngrid Betancourt, para trocar por guerrilheiros presos (Foto: EVILÁZIO BEZERRA)
Notícias sobre conflitos e violência envolvendo as guerrilhas no interior da Colômbia acompanharam toda a infância e a juventude do filósofo e sociólogo Jesus Izquierdo, hoje com 40 anos. Mas só depois de vir para o Ceará, onde fez doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFC), o colombiano teve a chance de voltar ao País para tentar compreender como camponeses, como ele mesmo era, se transformam em guerrilheiros prontos para matar ou para morrer em nome da causa socialista.

Para o estudo, que depois se transformou no livro Meninos Não Choram, Izquierdo entrevistou 78 guerrilheiros das Forças Revolucionárias Colombianas (Farc) que haviam sido presos em combate e conseguiu perceber uma série de dispositivos disciplinares que os afastam da convivência familiar e da própria identidade e os tornam prontos para o combate. Numa estratégia, para ele, que pode ser percebida também no crime organizado brasileiro e em grupos terroristas internacionais, como a Al-Qaeda.


Em meio às questões ideológicas das Farc está o narcotráfico, que as financiam, e o governo norte-americano, que tenta combater o tráfico e, consequentemente, as guerrilhas, com forte arsenal militar, o que garante a continuidade de uma guerra sem previsão de fim. Para Izquierdo, a forma como o combate ao narcotráfico se dá, tanto na Colômbia como no Brasil, apenas incrementando o policiamento ostensivo, é equivocada, sendo necessário traçar uma nova estratégia que envolva a prevenção e o tratamento do usuário. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista feita por telefone:

O POVO- O que sua experiência no Ceará contribuiu para a sua pesquisa?
Jesus Izquierdo - A questão da violência na Colômbia é um fenômeno que tem sido muito estudado, porque o processo dentro do país tem crescido bastante, construído a partir de diversas experiências de disputas políticas e de controle violento entre grupos opositores. Então, quando eu decidi fazer uma análise do movimento guerrilheiro, tentei analisar mais pela perspectiva sociológica, que visa analisar a disciplina dentro do grupo guerrilheiro, como é que essa disciplina leva camponeses a se tornarem guerrilheiros. A partir desse processo, você pode entender também a mecânica de diversos grupos que agem de uma maneira bastante similar à da guerrilha colombiana. Você pode entender, por exemplo, os integrantes do narcotráfico, grupos terroristas como a Al Qaeda, porque em certa medida essa dinâmica é muito comum, muito presente em todo esse tipo de organização. É muito interessante você observar, por exemplo, que entre a figura do guerrilheiro e a do camponês são dois tipos de personalidade praticamente opostas. Enquanto nós temos no guerrilheiro um indivíduo politizado, que luta por uma causa coletiva, que rompeu praticamente todos os seus vínculos sociais, que a partir do momento que entra no grupo troca de nome, se distancia totalmente de amigos, da família, que leva uma vida nômade, o camponês é um indivíduo introvertido, que tem uma relação de afeto com a terra, é muito apegado à sua família. Então, quando você compara a figura do camponês com a do guerrilheiro, você claramente percebe que houve um processo de mudança de personalidade radical. Foi nessa perspectiva que eu tentei fazer a abordagem da minha pesquisa, porque acredito que as conclusões tiradas desse processo podem iluminar um entendimento de diversas análises em torno desse tipo de organização que vive em situação de conflito.



OP- Sua pesquisa, assim, deixou de focar a violência para se voltar às pessoas e até aos sentimentos...
Izquierdo - O processo da guerrilha colombiana com as Farc começou em 1964, como um movimento guerrilheiro instituído. No entanto, as guerras de grupos de camponeses vinham acontecendo desde 1940. Como se observa, a luta guerrilheira na Colômbia se arrasta há 70 anos, e isso faz com que a guerrilha colombiana seja o movimento guerrilheiro mais antigo do mundo. Dentro desse processo da guerrilha há uma série de mudanças na concepção política, nas estratégias de combate, nos modos de financiamento, na tecnologia, e que acabaram de certa maneira descaracterizando o movimento guerrilheiro original. Porque, se você percebe, por exemplo, os camponeses da década de 1950 que lutavam contra a perseguição dos latifundiários. Pois, hoje em dia, o combate deles poderia se ajustar no que o movimento internacional reconhece como a legítima defesa, ou a guerra justa. Eles lutavam pelo mero direito de viver. Mas depois, a partir da década de 1960, esse movimento de camponeses se tornou um movimento guerrilheiro emoldurado pela ideologia comunista e, por causa disso, começa a ser identificado como um movimento que é também político. Mas você não consegue sustentar um processo político simplesmente com doações de camponeses que têm uma certa afeição por esse tipo de movimento. Assim, a partir da década de 1980, a guerrilha começa a cobrar o que eles chamam de imposto revolucionário aos grupos de narcotraficantes que operavam nas regiões periféricas do país. Por causa desse imposto cobrado do narcotráfico para financiar quadros militares é que a guerrilha acabou sendo ligada pelos meios de comunicação e também pela política do Pentágono dos Estados Unidos como um movimento terrorista. As Farc passaram a ser tachadas então como um movimento narcoterrorista, mas na realidade a guerrilha mantém uma relação com o narcotráfico exatamente como a maior parte das instituições colombianas. Se você analisar o parlamento colombiano, nesse momento 30% dos parlamentares colombianos estão na cadeia porque houve uma série de investigações que acabaram concluindo que esses parlamentares mantinham suas campanhas com recursos do narcotráfico. Identificar a guerrilha com o narcotráfico é, digamos assim, uma leitura parcial da realidade colombiana, pois não é só a guerrilha que está manchada ou de certa maneira subsidiada com recursos do narcotráfico, isso acontece com praticamente as principais instituições do país, inclusive o Judiciário. Claro que não é uma questão generalizada, mas é um fato recorrente pela própria dinâmica da vida social colombiana.

OP - Como foi o trabalho de campo? O senhor conhecia alguém que pudesse ajudá-lo a ter acesso aos guerrilheiros para entrevistá-los?
Izquierdo - Eu nasci no sul da Colômbia, numa região bastante montanhosa, então, já tinha algum contato informal com pessoas que faziam parte de alguns grupos guerrilheiros da região. Inclusive teve um período de Natal com atividades sociais das quais participaram tanto a guerrilha como a comunidade de camponeses, então, quando eu pensei em fazer a pesquisa de campo, considerei que iria ser fácil entrevistar guerrilheiros. Mas depois comecei a perceber que não seria tão fácil, porque o que eu queria perceber era a essência vital, aquilo que acontece na vida cotidiana e que muitas vezes foge da racionalidade. Então, quando eu comecei a falar com alguns guerrilheiros, vi que havia um discurso já estabelecido, previamente elaborado, e que falar com um guerrilheiro era a mesma coisa que falar com dez, porque as respostas eram praticamente uniformizadas, e essas respostas racionais, elaboradas, não eram o que eu queria para o meu trabalho. Eu queria alguma coisa mais vital, mais de sentimento. Então comecei a frequentar alguns locais da Colômbia onde estavam guerrilheiros reclusos, que tinham sido capturados em combate, e quando comecei a perguntar, a primeira resposta que eu encontrava era a negação da sua condição de guerrilheiros. Eles não assumiam, diziam que eram camponeses. Até que em algum momento eu tive sorte... Quando eu estava passando por esse processo de indefinição, pensando até em desistir da minha empreitada, encontrei uma amiga que me falou que estava desenvolvendo atividades dentro de uma prisão onde se encontravam alguns guerrilheiros. Quando fui lá, não levei meu crachá de pesquisador, fui como voluntário. Logo que cheguei, um dos internos me fez cantar uma música, e eu disse para ele que podia até tocar o violão, mas que cantar, eu era um desastre, mas ele queria que eu ao menos o acompanhasse. Então, ele começou a cantar uma música antiga, mas que eu conhecia muito bem, porque praticamente 99% dos guerrilheiros são camponeses e esse universo camponês eu conheço muito bem. Então, comecei a tocar a música e começamos a cantar, foram chegando outros guerrilheiros e pronto, aí a gente terminou sendo amigo de infância. Quando eu chegava na cadeia, eles já me identificavam por meu nome, e eu os identificava pelo nome deles. Nesse processo, eu passei mais ou menos uns três anos, indo para as cadeias na Colômbia na condição de voluntário. Então, quando a gente começou a conversar mesmo, após uma série de visitas, comecei a me deparar com uma série de histórias de vida extremamente comoventes, histórias que revelavam que, por trás da couraça de guerrilheiro, de lutador de ideal comunista, enfim, estava um ser humano profundamente vulnerável, um ser humano que passou por uma sequência extremamente dolorosa de experiências de vida de abandono, sofrimento, solidão. Então, dessa couraça de guerrilheiro não ficou nada, ficou aquele camponês vulnerável, carente de afeto, ansioso por ter uma pessoa com quem conversar. Então eu conversava e tentava reter as falas, corria para o banheiro da prisão para ali gravar o que eles confessavam para mim. Esse processo foi meio engraçado, porque as idas ao banheiro terminaram levantando suspeita, não suspeitas sobre a visita, mas suspeitas estomacais. Teve um momento que uma enfermeira do pavilhão onde eu estava conversando me perguntou: ``o senhor está passando mal``? E eu, ``não, não, obrigado``. Já na terceira passagem minha, ela me diz ``olha, um chazinho de camomila é ótimo para isso.``

OP - O senhor tinha um gravador escondido?
Izquierdo - Eu tinha um gravadorzinho pequeno que dá para guardar no bolso. Então eu corria, gravava, e seguia para continuar a conversa. Na realidade, na hora de contar os depoimentos, eu tinha muitas horas de gravação, muitas horas, contabilizando eu entrevistei 78 guerrilheiros e tive a oportunidade também de entrevistar uma guerrilheira que desertou da guerrilha e que estava protegida pelo Exército colombiano. Era uma garota de 21 anos que entrou na guerrilha porque foi praticamente sequestrada, então, quando ela teve a chance de fugir, ela fugiu. Só que deserção dentro da guerrilha é um crime grave, normalmente o desertor é assassinado, e ela sabia disso, e por isso buscou o Exército para protegê-la, certamente em troca de delação. Ela praticamente me revelou o universo da mulher dentro da guerrilha, qual a dinâmica, como é a guerrilheira com seus afetos, como é o tratamento do corpo dentro da guerrilha, como é a interação entre os homens e as mulheres.

OP - Como foi aquele momento do Natal que o senhor estava relatando, com atividades entre guerrilheiros e camponeses?
Izquierdo - Essa experiência aconteceu em 1997. Eu estava no sul da Colômbia, era voluntário, e fui lá organizar uma série de atividades comunitárias, fazer cadastramento, vacinação de crianças, enfim, era uma região bastante abandonada. E a dinâmica principal da guerrilha acontece nos lugares mais afastados, onde existe um vazio de Estado que é preenchido pela atividade guerrilheira. Então, nesses lugares onde não existe governo, a figura, a referência de governo e ordem é a guerrilha. Então, quando eu sugeri esse lugar, o comandante do grupo me procurou, me perguntou qual era minha função naquele lugar, por quanto tempo iríamos estar ali, enfim... Ele precisava manter o controle sobre a região. Então, ele falou também que tinha planejado uma série de atividades sociais com a comunidade e no fim acabamos fazendo uma parceria. O grupo dele contava na época com 21 guerrilheiros. A gente organizou várias atividades, trabalhou em grupos, e no dia 25 de dezembro fizemos um almoço comunitário. A comunidade se uniu, tinham pessoas do meu grupo, dos guerrilheiros, da própria comunidade, foi uma experiência muito gratificante. A comunidade não recorda ter passado por um momento de tanta paz como naqueles festejos.

OP - A situação política da Colômbia parece contraditória. Tem guerrilhas há tantas décadas, mas politicamente ainda se mantém com um governo conservador, aliado dos Estados Unidos.
Izquierdo - 99% dos guerrilheiros são camponeses, a grande maioria deles é iletrada, analfabeta, são pessoas que enxergam na guerrilha uma possibilidade de inserção social, porque eles moram em regiões onde não existe emprego, não existe renda, onde existe um abandono total do Estado. De uma certa maneira, ser do movimento guerrilheiro é um salto bastante qualificado de condição de vida, porque esse camponês, quando entra na guerrilha, passa a ter um protagonismo social, passa a ter visibilidade e reconhecimento dentro da comunidade. E por outra parte, quando a gente observa a maneira como o Exército está combatendo a guerrilha, como o Estado está combatendo a guerrilha, é uma maneira que nunca vai conseguir eliminar os guerrilheiros dentro da Colômbia. Porque a guerrilha existe por falta de oportunidade de inserção social. O governo da Colômbia, na década do governo Uribe, gastou, tanto em recursos do governo colombiano como em dinheiro do Plano Colômbia, do governo americano, US$ 10,7 bilhões de dólares combatendo o narcotráfico e, consequentemente, combatendo a guerrilha. Por outro lado, o governo colombiano investiu, na década de 2000 a 2010, em projetos sociais, 0,03% do PIB nacional. Já o que investiu no combate ao narcotráfico, para comprar armas, tecnologia militar, foi 1,5% do PIB nacional. O Estado gasta mais na guerra, no Exército, no combate ao narcotráfico, do que em escolas, saneamento básico, estrutura de transporte dessas comunidades periféricas. As estratégias que o governo está usando estão erradas. Quando você analisa o governo Álvaro Uribe, ele tem um índice de aprovação extremamente alto, de 70%, mas quando você analisa as pesquisas, certamente essa aprovação provém das classes médias e das regiões andinas do país, onde se centra o desenvolvimento do país, porém Uribe se esqueceu totalmente das periferias. A primeira vítima da gripe A1 foi um bebê indígena membro de uma comunidade que teve que abandonar sua região e seguir para Bogotá. Saíram mil indígenas daquela região para a capital. Porque essas regiões praticamente abandonadas acabaram sendo tomadas totalmente pelo narcotráfico e pelas disputas do Estado, narcotráfico, guerrilha e grupos paramilitares. Então, o camponês pobre que está habitando esses lugares fica no meio do fogo cruzado, tem que fugir. Aparentemente, a guerrilha, com os golpes militares do governo, está fragilizada, só que esse estado fragilizado da guerrilha não é novo. Em 1978, o governo investiu praticamente todo o seu arsenal para aniquilar a guerrilha, e o governo exterminou quase 80% dos guerrilheiros, mas a guerrilha se reincorporou, ampliou os quadros militares e continua em pé de guerra. O fato de militarmente a guerrilha esteja fragilizada não significa que esteja aniquilada, ou que tenda a desaparecer. A maneira para que a guerrilha desapareça é que o governo invista em desenvolvimento social e dê oportunidade de emprego, de renda.

OP - Apesar de seu estudo ter se realizado na Colômbia, viveu esse tempo todo em Fortaleza, onde a criminalidade é crescente. É possível fazer uma correlação de Fortaleza com a Colômbia?
Izquierdo - Uma questão que eu considero importante é ampliar o foco ao combate ao narcotráfico. Enquanto você continuar investindo somente no policiamento ostensivo, ampliando os quadros militares e não resolvendo a questão da dependência química, os resultados continuarão sendo os mesmos. O narcotráfico continua avançando, continua se aperfeiçoando. Assim, considero como uma coisa importante que os governos comecem a investir também em mecanismos de prevenção e tratamento dos dependentes químicos. Quando você vai analisar por exemplo o tratamento a dependentes químicos, nós não temos alternativas, principalmente em Fortaleza. Quem tem possibilidade de se tratar é o rico, porque a clínica mais barata em Fortaleza cobra R$ 1.500 mensais. E o pobre tem que se contentar com o Caps (Centro de Atenção Psicossocial, mantido pela prefeitura de Fortaleza. Não faz a internação de dependentes químicos, apenas o acompanhamento). O tratamento fica praticamente reduzido ao empenho da família, e a família dificilmente vai conseguir ajudar a superar a dependência química. A dependência química tem que ser vista como um dos maiores desafios da saúde pública do Brasil, porque dentro do conjunto de problemas sociais é talvez o mais perigoso, o mais ameaçador ao equilíbrio social. Porque não é só a vida do dependente que está exposta, ele coloca a vida dos outros em risco. Outra coisa também, o narcotráfico é um negócio extraordinário: você pode endurecer as leis, pode investir em policiamento, pode desenvolver todas as possíveis e inimagináveis técnicas militares, mas o narcotráfico vai continuar, porque é um ótimo negócio. Veja você: o processamento de 1 grama de cocaína pura custa em torno de US$ 3. E esse grama de cocaína, no mercado negro dos EUA, de Nova York ou de qualquer metrópole americana, sai custando em torno de US$ 150 a US$ 250, os lucros para o narcotraficante são fantásticos. Se o governo pudesse investir mais naquele final do consumo, elaborar um discurso mais técnico e menos moralizante e colocar da mesma forma como se fala na transmissão da aids, colocar o assunto em discussão de uma maneira direta, certamente na medida que se reduz o número de consumidores, o narcotráfico vai se descaracterizar como um ótimo negócio.


PERFIL

José Maria de Jesus Izquierdo Villota, 40 anos, é doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e autor do livro Meninos não Choram & a formação do habitus guerreiro nas FARC (Fortaleza, Edições UFC, 2008), fruto de sua tese de doutorado. Hoje é professor de Teoria Sociológica na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Nascido no sul da Colômbia, chegou a Fortaleza em 1998, para dar aulas de Filosofia no Instituto Teológico Pastoral (Itep). Tanto tempo no Brasil já o faz se sentir um ``colombo-brasileiro``, apesar do forte sotaque hispânico, percebido logo à primeira palavra. Desde o ano passado, mora em Campina Grande, onde dá aulas.


DICIONÁRIO

HABITUS
Termo usado no subtítulo do livro de Jesus Izquierdo, Meninos Não Choram, é um conceito criado por Aristóteles, ainda na Grécia Antiga, para explicar ações costumeiras, repetidas muitas vezes sem que se perceba. O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) desenvolveu o conceito em sua teoria sociológica, na qual considera que os indivíduos acabam por incorporar determinados habitus & disposições que influenciam sua forma de agir & ao se integrar a certa estrutura social.

FONTE: http://opovo.uol.com.br/opovo/paginasazuis/971806.html

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O imaginário social da fundação de Fortaleza

O imaginário social da fundação de Fortaleza


referência bibliográfica:

MACIEL, W. R. N. O imaginário social da fundação de Fortaleza, Disponível em http://cienciasocialceara.blogspot.com/2010/04/o-imaginario-social-da-fundacao-de.html. Acessado em 16 de abr. 2010.


Autor: Wellington Ricardo Nogueira Maciel (Doutorando em sociologia pela UFC)

Tomar os debates em torno do que se pode chamar de imaginário da fundação de Fortaleza pode nos possibilitar adentrar num universo mental carregado de promessas e expectativas coletivas a respeito do lugar atribuído aos bairros de Fortaleza. Considerar esse imaginário específico a respeito de Fortaleza pressupõe lembrar ainda a maneira como em determinados contextos históricos as narrativas foram, além de tecer sentidos distintos aos espaços, mobilizam também fatos e acontecimentos da história da cidade.
Fortaleza parece se constituir num bom exemplo quando se trata de investigar os modos como promessas urbanas feitas em torno de certos bairros foram se configurando em formas recorrentes de expressão de anseios e de dúvidas quanto a sua condição urbana sendo contudo ressignificados em momentos distintos de sua história. Proponho-me neste segmento analisar aspectos diferentes desse imaginário que perpassa os bairros de Fortaleza.
Os debates recentes sobre a origem de Fortaleza para além de se esgotarem nas possíveis provas contrárias ou favoráveis acerca da verdade de sua fundação parecem compor um aspecto de um quadro coletivo e mental duradouro de expressão daquilo que se espera que a cidade possa vir a ser. Os discursos parecem buscar dessa forma situar a cidade no tempo e no espaço conferindo-lhe qualidades pretensamente atemporais que a cada momento parecem colocadas à prova.
Os discursos serão tomados aqui como veículos de significados coletivos e instâncias produtoras de verdades sobre os espaços da cidade. Nessa perspectiva, serão consideradas as relações entre saber e poder e as maneiras como os bairros da cidade são investidos de sentidos identitários. Nessa ótica os discursos veiculam uma verdade sobre uma ordem almejada da cidade atribuindo a cada bairro lugares singulares segundo uma hierarquia valorativa.
Com base nisso toma-se aqui o imaginário social como um viés analítico no campo das ciências sociais capaz de problematizar a oposição comumente feita entre “representação” e “realidade” nos debates sobre o urbano. Tomar as imagens e representações como constituintes do “real” não significa considerá-las mais ou menos “reais” em relação aquilo a que elas parecem se referir. Significa ao contrário um outro modo de indagar sobre a “realidade” das coisas e de tornar mais complexo o modo como ela é expressa.
Tomar a cidade como campo de produção de imaginários sociais significa também considerar as especificidades com que a cidade é evocada nos discursos, como a seleção/classificação dos seus bairros. Decorre daí que a cidade não é apreendida pelos discursos que a tomam como problema de forma universal, mas sobressaem neles alusões a determinados espaços capazes de sintetizar expectativas e valores coletivos. Abre-se com isso a possibilidade de apreender a cidade como um campo de disputas simbólicas como a que será tentada aqui quando for abordado o imaginário da fundação de Fortaleza e as visões de cidade que a partir daí são vislumbradas tendo como referente empírico sua orla marítima.
Para operacionalizar as breves questões teórico-metodológicas expostas acima tomarei como material empírico os discursos produzidos durante os debates recentes acerca da proposta de mudança da data de fundação de Fortaleza presentes em jornais e revistas e nas sessões especiais reservadas ao assunto na Câmara Municipal de Fortaleza.
Nesses debates vários fatos e aspectos considerados centrais da história de Fortaleza foram mobilizados resultando em conjuntos de imagens densas de representações em conflito a respeito das identidades urbanas conferidas aos bairros de Fortaleza, em particular, do bairro Barra do Ceará, no litoral oeste, e o Centro histórico, bairro onde os holandeses levantaram um forte para a proteção do litoral da cidade contra invasões estrangeiras.
Até meados da década de 1940 era tido como dado o fato conhecidamente romanceado por José de Alencar no seu livro Iracema a respeito de ter sido Martim Soares Moreno o fundador de Fortaleza e consequentemente do Ceará. O primeiro cronista a contestar tal ato fundador foi Raimundo Girão, que na mesma década publica o livro Cidade de Fortaleza onde inicia a defesa da tese segundo a qual teria sido o holandês Matias Beck o verdadeiro fundador da cidade às margens do riacho Pajeú. Outros livros posteriores do mesmo cronista tratariam do mesmo assunto: Matias Beck – Fundador de Fortaleza, de 1961 e Cidade do Pajeú, de 1983.
Mas é na década de 1960 que os ânimos a respeito da “polêmica” ganham dimensões mais amplas envolvendo os nomes dos cronistas Raimundo Girão e Ismael Pordeus. Atrelado aos “morenistas” e “beckistas” (forma como passaram a ser designadas as correntes que tinham como principais representantes os defensores do primado de Soares Moreno e de Matias Beck sobre a fundação de Fortaleza respectivamente) um conjunto de datas, acontecimentos e edificações foram se juntando para compor um quadro mental de expressão de expectativas sobre a condição urbana da cidade que as imagens acionadas de ambos os lados buscavam veicular.
Dessa forma era conferido à Soares Moreno a reconstrução em 1611 da fortificação que o açoriano Pero Coelho teria erguido em 1603, passando de fortim de Santiago à chamar-se fortaleza de São Sebastião e a ter feito posteriormente a delimitação do litoral de Fortaleza indo do bairro Barra do Ceará até o bairro Mucuripe, ambos na orla marítima da cidade; do lado de Matias Beck era atribuída a construção do Forte Shoonenborch em 1649, nome dado em homenagem ao então governador de Pernambuco.
Além dessas oposições principais acerca do bairro que teria dado origem a cidade, as correntes eram situadas também em relação à orientação religiosa e à simpatia da imprensa local por um ou outro dos “fundadores”: em torno do nome de Soares Moreno foram reunidos nesse sentido os católicos e o jornal O Nordeste; do lado de Matias Beck estavam reunidos os “protestantes” e o jornal Unitário. Os jornais nos primeiros anos da década de 1960 passaram então a marcar terreno sobre o assunto.

  
Ismael Pordeus em um dos artigos da série “Origens de Fortaleza” publicados em O Nordeste, no ano de 1962, afirmava convictamente sobre o pioneirismo de Soares Moreno e os fundamentos da cidade:


“Escolhido o local apropriado da fundação da nova colônia, Martim Soares Moreno deu começo a fundação de uma Igreja sob a invocação de N. S. do Amparo, e ao mesmo tempo a de um forte, obras estas que avultaram em poucos dias de trabalho, pelo auxílio que lhe prestou o chefe Jacaúna o qual apenas soube de sua chegada, e do objeto da sua empresa, veio com sua tribo e estabeleceu a sua aldeia no sítio onde se achava Martim Soares. Assim ficaram lançados os fundamentos da hoje cidade de Fortaleza capital do Ceará.”


Em 1961 uma descoberta iria ser acionada como mais uma prova material a endoçar o argumento “morenista”. Com o achado de balas de canhão na Barra do Ceará, no morro de Santiago, urgia que fosse composta uma equipe técnica para averiguar a veracidade do material e em seguida comprovar a verdade “morenista”. Nesse momento, por parte dos “beckistas”, Raimundo Girão é nomeado Secretário de Urbanismo durante a gestão do prefeito Cordeiro Neto (1959-1963) e passa a propor a mudança do nome de algumas ruas de Fortaleza em homenagem aos personagens e datas em referência à “fundação” da cidade. Não obteve sucesso.
Num artigo do jornal Unitário de 1962, que marca a entrada do folclorista Câmara Cascudo na “polêmica”, é possível visualizar a dimensão dos debates alcançados em torno do lugar simbólico conferido aos bairros de Fortaleza. Nele o autor liga a existência de um forte ao surgimento inicial de Fortaleza.


“Para mim o forte Schoonenborch é a velocidade inicial de Fortaleza. O fortim de Pero Coelho de Souza em 1603, a aldeia de São Lourenço do Padre Figueira em 1608, o forte de São Sebastião de Martim Soares Moreno em 1612, encerram o ciclo histórico, topográfico e especificamente distintos da fundação de Matias Beck na duna Marajaitiba, com o Schoonenborch em 1649. Entre os dois núcleos não existe a continuidade funcional indispensável a unidade histórica.(In: FURTADO FILHO, 2002, p.54-55)”


A discussão a respeito da data de fundação de Fortaleza teria vários outros desdobramentos até iniciar a década de 1990, quando é proposta a instituição oficial de uma data no calendário municipal reservada ao aniversário da cidade. Coube ao vereador Idalmir Feitosa (PSDB) a criação do projeto de lei 7573 de 16 de junho de 1994 instituindo a data de 13 de abril de 1726 como data oficial.
Contudo, após descobertas arqueológicas por parte do historiador Adauto Leitão em novembro de 2007 de novos vestígios da fortificação de Santiago que existiu na Barra do Ceará, erguida no século XVII, no morro de Santiago, um novo embate de idéias iria tomar conta num breve intervalo de tempo do noticiário dos jornais locais além de movimentar boa parte de especialistas e estudiosos da cidade de Fortaleza.
O novo projeto também de autoria do vereador Idalmir Feitosa assinado juntamente com o presidente da Câmara vereador Tin Gomes propunha a “mudança da data de fixação de que trata a fundação de Fortaleza”. Duas audiências públicas e uma sessão plenária na Câmara foram agendadas com o intuito de discutir as propostas para a cidade.
Após votação de 32 vereadores contra uma abstenção em votação na primeira audiência a favor da mudança de data foi sugerida à mesa diretora da Câmara uma segunda audiência a ser realizada no dia 10 de novembro de 2008, um dia antes da votação definitiva em sessão plenária, agora com a presença de várias entidades e pesquisadores.
Contando com a presença do Instituto Histórico do Ceará, representado pelo Prof. Liberal de Castro, arquiteto renomado da cidade, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, professores do departamento de História da Universidade Federal do Ceará-UFC, da coordenadora de patrimônio histórico da Secretária de Cultura da Prefeitura de Fortaleza, além de vereadores e de outros estudiosos a audiência se constituiu num espaço de disputas em torno da cidade que se queria forjar.


A “cidade do futuro”, o futuro da cidade: Fortaleza em disputa


Como lembra Robert Darnton (O grande massacre de gatos), as estruturas mentais coletivas são acionadas a cada momento histórico para dar sentido ao mundo. É nas ocasiões em que esse mundo é colocado à prova que as sensibilidades coletivas buscam restituir os sentidos possíveis da ordem das coisas no mundo. Contudo, mais importante que atentar para os objetos da narração, lembra o autor, o que mais importa é adentrar no modo como a narrativa é construída.
Nessa perspectiva, os narradores que tomam a “fundação” de Fortaleza como problema acionam espaços, datas e acontecimentos além de propriedades lingüísticas disponíveis para compor uma quadro mental e uma verdade acerca da realidade desejada para a cidade.
As observações de Bárbara Freitag (Cidade dos homens) sobre as origens das cidades parecem se complementar nesse sentido às premissas de Darnton. Segundo a autora, baseando-se em Lewis Munford, dentre as várias narrativas em torno da origem das cidades está aquela que afirma terem sido as mulheres as verdadeiras fundadoras e que a cidade dos mortos (acrópole) teria antecedido a cidade dos vivos (polis). À origem das cidades é atribuída uma certa ordem do mundo e das coisas que em alguns casos pode assumir a forma de denúncia, de exaltação ou até de simples diagnóstico da realidade. No caso de Fortaleza as narrativas buscam instituir, dentre outras coisas, uma verdade sobre a natureza de sua condição urbana, ambas variáveis historicamente.
É recorrente nos discursos de técnicos, historiadores, políticos e representantes do estado nos debates recentes sobre a fundação de Fortaleza a busca pela construção de verdades acerca da condição urbana de Fortaleza. Os “regimes de verdades” acionados nessa ocasião mobilizam diversos recursos disponíveis a fim de organizar o espaço urbano de Fortaleza e a atribuir a cada bairro uma certa ordem na cidade.
Na abertura da audiência pública de 10 de novembro na Câmara Municipal de Fortaleza foi dada ao arquiteto Liberal de Castro a incumbência de proferir uma palestra sobre as origens de Fortaleza em contraponto à tese do historiador Adauto Leitão acerca de ter sido a origem da cidade na Barra do Ceará. Acionando termos técnicos da arquitetura e condições geográficas gerais para a origem das cidades ele assinala a anterioridade dos “fatores materiais de desenvolvimento” de uma cidade.


“Na verdade, o sítio, o local onde a cidade se implanta tem uma conseqüência direta na sua forma urbana. O sítio é quem molda, o que diz o que é a cidade. No caso fortalezense havia várias hipóteses de se localizar a cidade, desde o Paracuru, o Pecém, depois eles ocuparam a Barra do Ceará, o Mucuripe. Todos esses lugares foram vistos em função da situação (...) Quer dizer a cidade materialmente existente é fruto do sítio urbano onde ela se localiza por intervenções várias (...) As pessoas criam mitos como se fossem verdades. Esses portugueses vinham, procuravam o local, depois mudavam em função das propriedades que realmente queriam desenvolver para estabelecer uma formação urbana”.


O surgimento de Fortaleza parece ter resultado de um acaso das circunstâncias, o que resultaria na suspeita acerca até das intenções dos colonizadores em querer fundar uma cidade.


“Em Fortaleza foram feitas várias tentativas. Ninguém sabe ao certo quantas. Mas não eram tentativas de fazer uma cidade. Eram tentativas de fazer domínio territorial, uma espécie de apoio para se saber depois o que se fazia. O fato deles dizerem que era uma cidade não quer dizer nada (...) Esses colonizadores exageravam em tudo. Produziam desenhos falsos, todas as coisas possíveis que a gente possa imaginar. As pessoas ignoram isso. Quando se fala em cidade não tem nada a ver com cidade (...) As cidades não são fundadas como se pensa, nem por heróis ou outra coisa. Elas vão se montando, montando, montando de acordo com princípios estruturais e aí sim, são os princípios estruturais portugueses de implantação urbana que prevaleceram em Fortaleza”.


Diferentemente da década de 1960 quando as “polêmicas” a respeito da fundação de Fortaleza estavam restritas a pretensa autoria do ato original, o que dá especificidade a atual “polêmica” diz respeito ao lugar reservado nos debates ao “marco zero” da cidade. Nesse sentido são demarcadas posições entre aqueles que apontam ter sido o bairro do Centro histórico o marco inicial de expansão de Fortaleza em torno do forte de Nossa Senhora da Assunção em contraposição aos que defendem a anterioridade do bairro Barra do Ceará, à oeste, na periferia da cidade, a partir da construção do forte de Santiago, em 1604, por Pero Coelho.
Para o defensor da tese do “revisionismo histórico”, como se auto-intitula o historiador Adauto Leitão, o “empreendimento” pioneiro de desbravamento de Pero Coelho na Barra do Ceará deve ser considerado o “marco zero” da cidade:


“O Dna de Fortaleza está na Barra do Ceará. E por muitas evidências se pode afirmar de maneira segura que à margem do Rio Ceará é a nossa gênese étnica e histórica. Na Barra temos vestígios arqueológicos das primeiras edificações, além de símbolos: o santuário da padroeira Nossa Senhora da Assunção e a própria origem do termo fortitudine. É uma condição exigente no século XXI tratar desse tema com uma postura equilibrada e madura em razão do bem maior da cidade: o resgate da sua memória. Não obstante, a falsa disputa do mérito territorial original entre os bairros da Barra versus Centro só cria desinformação nociva à sociedade, pois atende só a ‘preconceitos grupais’. Hoje, tanto o marco zero de Fortaleza da Barra do Ceará, ao Centro Histórico, à Aldeota clássica, estendendo-se a pós-moderna fazem parte do contexto de uma grande metrópole, já desenhada no século XVII por Pero Coelho e Martim Soares Moreno e que na sua realidade atual precisa ser vista com amplitude. A empresa pioneira do açoriano Pero Coelho de Souza plantou a semente do desenho territorial acima descrito” (O VERTEBRAL, 2008).


Por outro lado, o arquiteto Liberal de Castro atribui um outro lugar à Barra do Ceará no contexto dos embates acerca do “marco zero” de fundação da Cidade.
“Essa parte da Barra do Ceará teve vida efêmera. Ela dura apenas o tempo que aí esteve funcionando o forte de Santiago. Desaparece o forte do Pero Coelho e ninguém tem mais informação sobre ele. O Martin Soares Moreno ficou muito pouco tempo também. Depois os holandeses tomaram conta. Em 1637, quando eles abandonam o forte de São Sebastião, fica completamente abandonado. Os portugueses vão passar dezessete anos sem pisar no Ceará (...) Em 1649 já estava inviabilizada a Barra do Ceará como localização da cidade de Fortaleza. Há uma descontinuidade histórica e física imediata nisso (...) A Barra do Ceará desaparece em relação à cidade de Fortaleza (...) Essa é uma oportunidade já que está sendo gravado pela TV Câmara para a cidade de Fortaleza saber mais de si própria. A minha postura é uma postura mais intelectual do que de amor à cidade. Porque a cidade de Fortaleza pelas loucuras que faz não desperta amor em ninguém. Desperta é muita preocupação sobre seu destino.”


Já para o arqueólogo da Universidade Federal de Pernambuco Marcos Albuquerque, maior autoridade no Brasil em termos de escavações arqueológicas, encontrar com exatidão o lugar da “primeira edificação” de Fortaleza possui um aspecto significativo para a construção da sua identidade urbana:


“Eu acho que Fortaleza precisa buscar sua historicidade, buscar sua história e consequentemente se entender de forma processual para digamos melhor administrar seu presente e seu futuro alicerçada no passado (...) Se uma pesquisa histórica apenas conduz às informações numa direção, a pesquisa arqueológica é extremamente pragmática: ela materializa a história (...) Se teve ou não fortificação na Barra do Ceará, só a pesquisa arqueológica poderá dizer”.


Na opinião da coordenadora de patrimônio histórico da Secretaria de Cultura de Fortaleza, Ivone Cordeiro, diante da possibilidade da arqueologia certificar-se acerca da existência da fortificação do século XVII caberá à Barra do Ceará um novo lugar no contexto histórico da cidade de Fortaleza:


“O que está em jogo aqui é a discussão da memória da cidade de Fortaleza. E a primeira coisa que eu queria chamar a atenção é para o uso dessa palavra no singular. O que está em jogo são memórias diferenciadas, são possibilidades diferentes que nos colocam diante de uma discussão sobre o que é relevante efetivamente para a memória coletiva do fortalezense. E o que vai dar essa relevância? É aquilo que vai possibilitar uma maior identificação com essa experiência histórica (...) A carta régia de implantação da cidade de Fortaleza é 13 de abril de 1726. Quando se fala de municipalidade essa é a data (...) A Barra do Ceará vai ter seu lugar nesse processo. Ela vai ter seu lugar na história de Fortaleza muito melhor qualificado. Se não for marco zero o que importa é a experiência humana que construiu essa cidade.”




Ao falar sobre a importância de um marco e de uma data para a cidade o deputado Artur Bruno (PT) lembra da importância que pode vir a ter o fato de se envelhecer uma cidade:


“A data de Fortaleza tem que ser a data do marco zero (...) Foi a partir daí que Fortaleza veio a se tornar município, depois cidade e a partir desse marco zero temos que ter essa data como a data da cidade (...) Eu sou daqueles que acho que uma data é importante para uma cidade. É importante para o turismo da cidade, para a identidade da cidade, para o desenvolvimento econômico da cidade. Quando alguém visita Fortaleza, ele quer saber quando foi a origem da cidade, o que é que houve no início, como é que foi a ocupação portuguesa, como é que foi a ocupação holandesa, que foi breve mas de qualquer forma aconteceu”.




O início da experiência urbana de Fortaleza é associado a um ato protocolar inaugural, uma medida político-administrativa de instituição da cidade. Para o arquiteto,


“cidade é onde existe vida urbana. Os gregos e os romanos tinham duas expressões para dizer o que era cidade. Os gregos tinham uma palavra para a cidade material e outra para a cidade institucional (...) Os romanos tinham a palavra urbes e a palavra civitas, Uma era a cidade material e a outra a parte institucional. Então o que é que se faz em Fortaleza? Se comemora aqui a criação da urbes, a polis fortalezense. Ninguém sabe quando Fortaleza nasceu. A palavra fundação significa ‘colocar lá alguma coisa que vai nascer’. Ninguém sabe quando foi colocada a primeira pedra em Fortaleza e isso em outras cidade brasileiras também (...) Cidade naquela época é a cidade criada pelo rei. Ele faz a lei que faz a cidade. A cidade que é feita por parte de seus munícipes ela ganhava o título de vila. Então nessa altura Fortaleza era uma vila e só depois é que ela vira cidade. (Arquiteto Liberal de Castro In: Audiência Pública de 10/11/2008)”






Parece ser um traço característico presente nas narrativas que tratam da fundação de Fortaleza, como se buscou demonstrar aqui, o questionamento sobre sua condição urbana. O recurso realizado aqui ao imaginário social da fundação de Fortaleza visa problematizar a maneira como a realidade das coisas é expressa pelos sujeitos históricos. Nesse sentido tomar o espaço urbano como objeto do imaginário de uma dada sociedade pode ser útil para se adentrar nas inquietações apontadas como problemas no cotidiano de uma cidade.