sexta-feira, 30 de julho de 2010

Email de uma jovem cientista social

Bom dia

Eu fiz a escolha de entrar na faculdade no curso de ciencia social em bacharel. Só que estou sendo muito criticada por alguns amigos dizendo que este campo não tem emprego. E que não é considerado uma profissão e sim uma ocupação. Principalmente para o interior onde moro. Queria então, um conselho, uma ajuda, uma sugestão, algo assim. Poderia alguém me ajudar.
Agradeço pela atenção.
ass.: Aline     Sobral-CE
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Cara Aline,
Meu nome é Pedro Mourão, tenho 24 anos, e hoje faço mestrado em Sociologia na Universidade Federal do Ceará. Eu me graduei há pouco tempo pela Universidade Estadual do Ceará. Tentei a seleção da pós-graduação no ultimo semestre da graduação e passei. Assim como você eu tinha muitas dúvidas em relação ao curso.
Será que eu vou conseguir emprego?
Será que há emprego?
Será que eu posso pagar as contas sendo um cientista social no Ceará?

Sendo bem sincero, atualmente o nosso mercado de trabalho não é dos melhores, mas já está bem melhor do que quando eu entrei no curso em 2005.
Existem várias oportunidades de emprego, principalmente na área de educação, trabalhando como professor.
Você também pode trabalhar em ONGs, ou melhor, ainda montar a sua própria ONG.

Karina Bacchi não é cientista social, mas bem que podia ser :)

É triste ter que te dizer isso, mas o curso de ciências sociais é uma faculdade feita para pessoas que tenham no mínimo a classe média. Calma! Eu digo isso por que entre a UEVA, UFC, UECE, URCA e Unifor, só a UEVA têm o curso noturno. Recentemente a UFC também implantou a ciências sociais noturna. Fazer faculdade de manhã implica que os alunos terão maior dificuldade de conseguir um emprego, porque, simplesmente, poucas são as empresas que querem um empregado que só trabalhe de tarde. Isso significa que na maioria dos casos os alunos de ciências sociais são obrigados ter uma base econômica boa. Ou seja, papai e mamãe tem que bancar o sujeito.
Durante a graduação você terá a oportunidade de tentar trabalhar na área, como por exemplo, fazendo uma seleção de monitoria dentro da sua própria universidade, ou seleção para uma bolsa de iniciação cientifica, e também pode estagiar em alguma empresa, ou órgão público.

Quanto aos empregos, eles existem sim. Conforme você vai entrando e fazendo contatos na área você pode ir adquirindo conhecimento sobre onde e como trabalhar.
Os cientistas sociais são bem vindos em órgãos públicos também. Existem concursos públicos na nossa área, eles são poucos ainda, mas existem.

Para concluir sempre existe a pós-graduação, que é muito interessante também.
Como o mercado está começando a ficar saturado, eu sugiro que você acima de tudo pense já na pós-graduação. Mestrado não é tão difícil como parece. Basta estudar, aqui no blog tem uns projetos de colegas que já foram aprovados e provas de seleção.
Existe algo muito importante, acima de tudo, eu acredito que você tem que gostar do que faz para ser um bom profissional.

Minha mãe sempre me dizia: “Meu filho, faça medicina, seja um médico....Mas acima de tudo seja feliz.”
Ela se preocupava comigo, mas era sábia o suficiente para entender que quando se faz algo com prazer não existe trabalho.
Hoje no mestrado, eu não sou rico, mas também não passo fome..kkkkkkkk
A bolsa é de R$ 1200,00 por mês, e dá pra comprar meus livros pagar a internet, as contas de casa e quando acabar o mestrado dá até pra pensar num futuro como professor universitário. E se eu acabar enjoando posso procurar um concurso para fazer.

E na pior da hipóteses, virar um hippie.kkkkk
Aline descubra se você gosta das ciências sociais e lute para conquistar o seu espaço.
 DEVORE OS LIVROS!!!!!!!!!!!


Forte Abraço e Boa LUTA!!!!!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Dica do dia: MORE

MORE é um Mecanismo Online para Referências.
Ele é muito útil caso você não seja um bitolado e tenha decorado as normas de citação da ABNT.
Você coloca as informações da obra e ele gera a referência na hora.
Eu testei e ele é bom.
Por mim está aprovado!
O site tá aqui

http://www.rexlab.ufsc.br:8080/more/index.jsp

terça-feira, 27 de julho de 2010

O preço da falsa ciência

Relendo o sempre ótimo Fads & Falacies in the Name  of Science, de Martin Gardner, reparei que os ensaios sobre Lysenko e nazismo aparecem um em seguida do outro. Faz sentido: ambos tratam das consequências catastróficas de se tomar bobagem por ciência.
Trofim Lysenko (1898-1976) foi um agricultor soviético que caiu nas graças de Stálin e conseguiu impor à União Soviética, durante décadas, suas teorias infundadas sobre genética e produção agrícola.
Em linhas gerais, ele defendia a ideia de que uma mudança de ambiente poderia “destroçar” a herança genética das plantas — algo que talvez tenha parecido se harmonizar com o ideal socialista de criar um novo ser humano a partir da transformação social.
Sua obra é uma história de terror em duas partes. A primeira, feita pela perseguição, assassinato e intimidação dos geneticistas e agrônomos que se opunham a ele ou que tentavam manter alguma integridade científica e intelectual; a segunda, pelo atraso a que a agricultura soviética foi submetida durante seu período de graça.
O nazismo, claro, é um caso mais complicado. Sua matriz não foi apenas política e pseudocientífica, como também mitológica, cultural e religiosa.
Propostas para expulsar ou escravizar os judeus da Alemanha já apareciam em escritos de Martinho Lutero; Albert Einstein era ameaçado e atacado por fazer “física judia” bem antes da ascensão de Hitler; e o nacionalismo alemão fazia um apelo romântico à Idade Média e a tempos pagãos. Uma mixórdia.
De qualquer forma,  o Reich não teve dificuldade para encontrar antropólogos dispostos a escrever rapsódias sobre a superioridade das “raças nórdicas”. Hans Günther(1891-1968), da Universidade de Jena, que segundo a Wikipedia continuou a publicar material racista e eugenista até 1959, é o exemplo mais destacado.
Gardner acerta o alvo ao escrever que os trabalhos de homens como Günther “são  um testemunho contundente da facilidade com que uma ciência pode ser pervertida por fortes preconceitos emocionais que o cientista deriva não de seu objeto de estudo, mas das forças culturais que o cercam”.
Eu acrescentaria que a relação mantida entre a ciência real e trabalhos como os de Lysenko e Günther é a mesma que há entre aeroportos de verdade e as “pistas de pouso” e “torres de controle” de madeira que, em certa época, eram erguidas por moradores de ilhas do Pacífico para magicamente “atrair” aviões: alguma coincidência de forma, mas absoluta divergência de conteúdo.

por Carlos Orsi
Seção: FILOSOFANDO
27.julho.2010 11:15:37

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Como a urgência pode matar....

Ontem um pai e um filho voltavam do trabalho em uma moto, a policia os acho suspeitos e mandaram eles pararem. Eles pararam um pouco depois. Um policial atirou. A bala acertou a cabeça do jovem de 14 anos que estava na garupa do pai.
Veja a noticia aqui.


Para além da tristeza que eu sinto em informar tal noticia existem pontos que eu quero tentar esclarecer.
Será que esse incidente foi só um ato isolado ou ele faz parte de uma situação maior?
Acredito que uma somatória de fatores se encontraram para que essa tragédia tenha ocorrido.
Vale salientar que tais fatores não tem nada haver com o acaso, mas sim com uma estrutura de política pública emergencial que na grande maioria dos casos trás para sociedade mais problemas do que soluções.


Quando o programa Ronda do quarteirão foi implementado em 2007, havia uma demanda social pela segurança pública. Na urgência, o então Governador Cid Gomes apresentou o projeto.
Foi feito o concurso publico para ocupar os cargos dos policiais do ronda com emergência.
Como a proposta do programa era criar um policia que tivesse vínculos de afetividade com a comunidade, e o foco das operações do ronda seria a prevenção e ação contra os crimes locais e de pouca gravidade vários jovens de 18 a 24 anos se inscreveram.
Até ai tudo bem. Mas esses jovens que buscavam um emprego tranquilo, se enganaram. Eles encontraram uma cidade dominada pelo crack e pela desigualdade social e econômica, uma policia mal remunerada e despreparada.
O resultado no primeiro momento foi até positivo, 
com 51 armas de fogo apreendidas e 181 prisões flagrantes.   
Porém os problemas não demoraram a aparecer,  os índices de acidentes envolvendo as viaturas do programa começaram a subir.
Ontem, infelizmente, não foi o primeiro e não será o ultimo acidente que a policia comete.
Eis que de somatória :


- O despreparo na formação destes jovens policiais;
                                            +
- Uma cidade amedrontada com a violência;
                                            +
- A urgência irracional para "solucionar" os problemas públicos
                           
Esses fatores aliados fizeram um inocente morrer ontem.


Fica aqui uma crítica e o luto pelo jovem trabalhador que morreu por culpa da urgência.





Atenção! Cenas e áudio fortes


Dica de filme: Nome de Familia

"Nome de Família" aborda identidade no mundo globalizado"


Eu assisti e acho que vale a pena ver.

O cinema da diretora indiana Mira Nair ("Um Casamento à Indiana") sempre esteve focado na questão da identidade cultural de seus personagens, por mais distantes que eles estivessem de suas origens. Em seu novo trabalho, "Nome de Família", que estréia em todo o país nesta sexta-feira, o tema conduz a narrativa.
O protagonista é Gogol Ganguli (Kal Penn), filho de imigrantes indianos, nascido nos Estados Unidos. Ele está dividido entre a cultura de seus pais e aquela que ele mesmo encontrou no país onde nasceu. Não por acaso, as pessoas sempre pensam que ele é um imigrante e não um cidadão norte-americano.
Gogol deve seu nome ao escritor Nikolai Gogol (cujo conto mais famoso é "O Capote"). O pai do rapaz acredita que sua vida foi salva graças ao livro do russo que lia quando sofreu um acidente de trem na Índia, nos anos 1970. Para o filho, porém, o nome é uma sina, da qual tentará se livrar diversas vezes. E, quando consegue, passa a sentir um vazio.
O roteiro é assinado por Sooni Taraporevala (que trabalhou com Mira em seus primeiros filmes, "Salaam Bombay!" e "Mississippi Massala") e baseado no romance "O Xará", de Jhumpa Lahiri, uma inglesa descendente de indianos e radicada nos Estados Unidos. Ou seja, a questão da identidade cultural (o duelo entre as tradições e a modernidade) está presente desde o início, com o livro, e passa pela sensibilidade da diretora.
ABRAÇAR O NOVO
Quando Gogol enfrenta o dilema. recebe um sábio conselho: "Abrace o que é novo e não se esqueça do velho." É o que guia o rapaz na sua jornada em busca de se aceitar como filho da primeira geração de imigrantes, que não pode abandonar os ritos tradicionais da família, mas sente enorme fascinação pela modernidade de seu país.
Gogol acaba se envolvendo com a jovem norte-americana Max (Jacinda Barrett). O romance dos dois constrange e assusta os pais do rapaz -- interpretados pelos veteranos atores de Bollywood Irfan Khan e Tabu. O próprio rapaz se convence das dificuldades de manter um romance multicultural e acaba se apaixonando, mais tarde, por uma moça de origem indiana, como ele.
Em "Nome de Família" todos os personagens têm um momento como protagonistas. É como se a vida de todos fosse importante para a construção da narrativa.
Assim, o filme vai somando mais e mais camadas, aumentando sua complexidade. Há também um grande respeito e admiração pelos rituais indianos. Se fosse feito por um diretor de outra origem, o resultado poderia parecer mero encantamento de estrangeiro com as cores e tradições da cultura indiana, mas Mira não se deixou levar pelo lado exótico, ficou muito à vontade e contou a história como se conhecesse cada personagem, o que só aumentou a sua beleza.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

VEJA O TRAILER:





De frente com Gabi - Entrevista com Roberto da Matta





25/7/2010 - Roberto DaMatta (Antropólogo)


Marília Gabriela recebeu no De Frente Com Gabi deste domingo, 25 de julho, o antropólogo Roberto DaMatta. Brasileiro que adora estudar o Brasil, ele dedicou toda sua vida profissional a fazer isso e descobriu coisas muito interessantes sobre nosso país e sobre nós.

Já publicou 17 livros sobre esse assunto, morou por mais de 12 anos nos Estados Unidos, formou-se pela Universidade de Harvard e foi chefe do Departamento de Antropologia da Universidade Notre Dame, no estado americano de Indiana. Há 6 anos, Roberto voltou a morar e a lecionar no Brasil.

Na entrevista, DaMatta falou sobre o comportamento dos brasileiros depois de mais de 20 anos de eleições livres, o sentimento do nosso povo em relação aos deveres do Estado, comenta também a política nacional, o voto obrigatório, corrupção, futebol, entre outros temas.

+ Assista ao programa na íntegra
http://www.sbt.com.br/defrentecomgabi/videos/default.asp?id=b2457d28bac3645af418761f38606f03


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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Richard Wrangham associa evolução do homem ao hábito de cozinhar



Wrangham é um dos mais influentes antropólogos e primatólogos britânicos.


Para o britânico Richard Wrangham, o homem só pôde evoluir a ponto de chegar onde chegamos hoje porque aprendeu a cozinhar. O controle do fogo foi essencial para que modificássemos nossos hábitos alimentares e o mais importante: causou a diminuição do tamanho do estômago dos humanos, provocando o aumento da massa cerebral. 

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Editais


Prezado(a) Pesquisador(a),

O Blog Ciência Social Ceará informa que os seguintes editais estão abertos:

> Programa Capes-DGU 

OBJETIVOS:Apoiar projetos conjuntos de pesquisa e cooperação científica
das Instituições de Ensino Superior do Brasil e da Espanha que promovam
a formação em nível de pós-graduação (doutorado sanduíche e
pós-doutorado) e o aperfeiçoamento de docentes e pesquisadores.

Inscrições até 16 de agosto de 2010.
http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/Edital41_Capes_DGU2010.pdf
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> PROGRAMA CAPES-NIH EDITAL CAPES/NIH/ No 043/2010 - National Institutes
of Health (NIH).

OBJETIVOS:Incentivar a mobilidade dos estudantes;Construir colaborações
de longo prazo entre o NIH e instituições de excelência científica
e de ensino superior no Brasil;Assegurar o retorno dos pesquisadores ao
Brasil após a conclusão da sua formação no
NIH; Estimular colaboração de longo prazo com tutores do NIH e a
publicação conjunta das descobertas das pesquisas.

Inscrições até 18 agosto de 2010.
http://www.capes.gov.br/images/stories/download/bolsas/Edital043_Capes_NIH2010.pdf
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* Informamos ainda que as inscrições do Edital AEB/MCT/CNPq Nº
033/2010,objetivando a formação, qualificação e capacitação de RH em
Áreas Estratégicas do Setor Espacial,foram prorrogadas até 30 de julho
de 2010.

http://www.cnpq.br/editais/ct/2010/docs/033.pdf 





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Fórum discute patrimônio genético, patentes e pirataria



No Ano Internacional da Biodiversidade, o Museu Exploratório de Ciências (MC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realiza no dia 12 de agosto, em Campinas, o fórum “Biodiversidade em perspectiva: patrimônio genético, patentes e pirataria”. Afinal, a quem deve pertencer os royalties das descobertas científicas no Brasil e no resto do mundo?

O evento é gratuito e acontece no Auditório do Centro de Convenções da Unicamp (CDC) das 9 às 17 horas. Podem participar pesquisadores, professores, estudantes e demais interessados no assunto. As inscrições devem ser realizadas no site da Coordenadoria Geral da Universidade da Unicamp (CGU) até o dia 10 de agosto.

Pela manhã, às 9h30, haverá a palestra "Problemas e potencialidades da biodiversidade brasileira: patentes e biopirataria", com Gonçalo Guimarães Pereira, professor titular da Unicamp e revisor de diversos periódicos científicos.

Em seguida, às 11h, acontecerá a mesa redonda “Biotecnologia, Patentes e Biopirataria”, com Márcio Schuler, Diretor do Departamento do Patrimônio Genético do Ministério do Meio  Ambiente (DPG) e Lara Sette, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas  da Unicamp (CPQBA).

No período da tarde, às 14h, o pesquisador Roberto Berlinck da Universidade de SãoPaulo apresenta a palestra "Cientistas brasileiros não são biopiratas". Na seqüência, às 15h15,Spartaco Astolfi Filho, professor titular de biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas, e Herton Escobar, repórter do Jornal O Estado de São Paulo, participam da mesa redonda"Biodiversidade: quadro atual, potencialidades, perdas, impactos e propostas para o futuro".



Camila Delmondes
Assessoria de Imprensa
(19) 3521 1729/9281 0354

segunda-feira, 12 de julho de 2010

+ + + projetos de mestrado. Muito obrigado aos ilustres colegas que permitiram publicar estes projetos.

SELECIONAMOS ALGUNS PROJETOS QUE JÁ FORAM APROVADOS EM MESTRADOS NO CEARÁ, E ESTAMOS DISPONIBILIZANDO PARA DOWNLOAD COM A PERMIÇÃO DOS SEUS AUTORES.
A NOSSA INTENÇÃO É PODER AJUDAR FUTUROS MESTRANDOS NA CONSTRUÇÃO DOS SEUS PRÓPRIOS PROJETOS.
SE VOCÊS PERCEBEREM BEM OS PROJETOS DISPONIVÉIS AQUI TEM SEMELHANÇAS NA FORMA DA ESCRITA SUGIRO QUE QUEM QUISER FAZER UM PROJETO PARA MESTRADO, LEIA TODOS OS PROJETOS E A PARTIR DAI CONSTRUA O SEU E APROVEITE O QUE DE MELHOR ESSE INTELECTUAIS DEIXARAM EM SEUS PROJETOS PARA NOS.
PS.: CUIDADO, OBSERVEM PRINCIPALMENTE SE SEU PROJETO ESTARÁ DE ACORDO COM AS LINHAS DE PESQUISA DO MESTRADO DESEJADO....



























BOA SORTE E BONS ESTUDOS PARA TODOS

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Representação Política no Poder Legislativo cearense: a influência dos padres no Período Monárquico


                     
Representação Política no Poder Legislativo cearense: a influência dos padres no Período Monárquico  

                Cristina Fernandes Moreira Aguiar[1]
Josênio Parente[2]

RESUMO 

Este artigo analisa a maciça presença de clérigos católicos na Assembléia provincial cearense durante o Segundo Reinado. O período estudado corresponde aos anos de 1835, quando foi instalada a primeira sessão do Poder Legislativo cearense, até o ano de 1889, quando a República é proclamada e é decretada oficialmente a separação entre Estado e Igreja Católica no Brasil. Pretende-se explicar a importância que esse fenômeno teve para a política brasileira, especificamente para o estado do Ceará, onde o fenômeno se destaca.  Para tal, dialogamos com estudiosos sobre a relação entre Igreja e Estado no Brasil, bem como a trajetória do Poder Legislativo brasileiro, e a marcante presença de padres no cenário político nacional. Fazemos, portanto, a utilização de fontes documentais e bibliográficas. O contexto histórico-político do Ceará, da era provincial, é destacado, haja vista a pretensão em se explicar quem eram esses padres que durante mais de cinqüenta anos ocuparam os assentos de nossa assembléia provincial.   

Palavras chave: Poder Legislativo. Clérigos católicos. Monarquia.    





Introdução

A composição do parlamento cearense durante o Segundo Reinado, que corresponde a um período de cinqüenta e cinco anos, pode ser compreendida a partir do estudo das relações econômico-político-culturais que se estabeleceram no Brasil a partir de sua independência de Portugal, em 1822, e de sua organização como Estado independente.
O imaginário social da elite brasileira apresentava características homogêneas em relação às várias províncias. O nível de participação política e a formação intelectual constituíam, no Brasil monárquico, características exclusivas da elite, esta representada por um número ínfimo, insignificante em relação a toda a população da província.
Parte-se da análise conjuntural do Brasil para se chegar a realidade exclusivamente cearense. Almeja-se caracterizar essa elite através da relação que ela estabelece com o estado brasileiro para se compreender a importância da Igreja Católica, na pessoa dos padres, para a nossa política. A Igreja Católica é aqui estudada como um segmento dessa elite imperial, segmento forte, centralizado que se une ao Estado e estabelece uma aliança consistente, sólida que irá reger o destino político do país durante vários anos.
            A formação acadêmica e a possibilidade de participar ativamente da vida política do país constituíam, no referido período histórico, algo inerente às classes mais favorecidas. “A Igreja ao tempo da descoberta era umbilicalmente ligada à coroa portuguesa”. (INESP, 2009:41).
           Desde o início da colonização brasileira, a Igreja Católica teve grande participação, até o ano de 1889, quando é proclamada a República, o catolicismo é a religião oficial do Brasil, sendo qualquer outra religião levada a segundo plano. A relação entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro era tão íntima que em alguns momentos, funções exclusivamente estatais eram assumidas pelos católicos e vice versa. Basta se dizer que era de competência do imperador nomear párocos, bispos, da mesma maneira em que a igreja tinha como responsabilidade emitir documentos obrigatórios a qualquer cidadão como sua certidão de nascimento, por exemplo.“Lógico, portanto, concluir que os nossos homens de letras, os detentores de cultura e do conhecimento ou eram padres, ou estudantes que passaram pelos bancos dos seminários, únicos centros de nível superior da época.” (INESP, 2009:41).     
Dessa maneira, os padres constituíam uma facção da elite do Império, não somente no campo político, como também no campo econômico e cultural. “O Ceará conviveu intensamente com a participação do Clero no quadro sócio-político do Primeiro e do Segundo Reinados” (INESP, 2009:43).  
           Notoriamente, observa-se que no parlamento cearense a presença de clérigos, como deputados, é significativa. Foram quase cem padres que ocuparam os assentos de nossa assembléia provincial, dentre esses, dez ocuparam a posição de presidentes da assembléia. Assim sendo, buscamos saber quem são esses padres, de onde vieram e como chegaram ao parlamento.

Liderança Política no Ceará provincial: a figura do proprietário de terra

            A vida política no Brasil imperial estava intimamente ligada à família, instituição forte que dava sustento a toda a estrutura sócio-política existente.
No caso do Ceará, a figura do proprietário de terra se destaca, e torna-se facilmente observada, quando constatamos a presença de importantes clãs familiares, como os Paula Pessoa, Fernandes Vieira, Alencar, cujos membros ocuparam importantes posições na vida política do Ceará provincial. A força da família era tão latente no Ceará que até determinado período o Estado enfrentava dificuldades em imprimir uma presença destacável, efetiva perante alguns grupos familiares. A força da família estava muito bem representada pela figura dos proprietários de terra, pois ao mesmo tempo em que eram os chefes de suas famílias, detinham a direção econômica de sua propriedade e ainda mantinham a titularidade do poder político.
A preponderância familiar sobre as demais instituições se mantinha através dos freqüentes casamentos entre parentes, bem como entre esses próprios grupos os quais representavam a elite local.
Essas características, até então traçadas, que apontam a importância da estrutura familiar para a manutenção das condições sócio-políticas vigentes, se faziam presentes desde o Brasil Colônia. No caso do Ceará, a partir de 1799, ano em que a capitania tornou-se independente de Pernambuco, a autonomia dos proprietários de terra foi modificada a  partir da relação entre a metrópole e as colônias; percebeu-se, uma maior intromissão do governo colonial sobre o poderio local, representado pelos donos de terra. Observou-se que a maior supervisão da vida política local exercida por Portugal não foi pacificamente aceita pelos proprietários de terra. A Revolta Política ocorrida em 1817 envolvendo Ceará e Pernambuco revela esse descontentamento das elites locais diante da metrópole. Mais tarde, em 1824, com o Brasil já independente, acontece um movimento semelhante ao de 1817, a chamada Confederação do Equador. Ambos os movimentos, tiveram caráter elitista e também republicano, os revoltosos, pertencentes a famílias que detinham o poder político, acreditavam que a Independência significaria o fim do julgo reinol.[3]
O fato é que durante todo o período imperial, os proprietários de terra mantiveram-se em posição de destaque assumindo importantes cargos políticos e financiando todo o engajamento de seus parentes na vida política da província. À época, dois partidos, o conservador e o liberal representavam a aglutinação de interesses da elite.“As hostes partidárias serviram-lhes como meio de conservação, preservação ou aquisição do poder político, no âmbito provincial e, mormente, local.” (PAIVA, 1979: 55).       
O poder político estava nas mãos de poucos grupos que empregavam todos os recursos possíveis para vencer as eleições. Para esses líderes políticos era de vital importância a eleição de seus candidatos que quase sempre eram seus familiares ou apadrinhados políticos, pois dessa maneira tinham total poder sobre a região que administravam, eliminando, assim, a possibilidade de dividir o poder com estranhos que poderiam contrariar suas vontades. “A educação dos filhos se tornou um ponto de honra para os proprietários rurais. O título de padre ou de doutor melhor os capacitava e os qualificava para a investidura em posições políticas.” (PAIVA, 1979:58). 
Esses títulos eram muito importantes para a manutenção dos privilégios, pois, àquela época, a maioria dos brasileiros eram analfabetos e pouquíssimas pessoas, uma quantidade insignificante, chegava às universidades.
            A fonte explicativa de Paiva (1979) nos diz que a maioria dos deputados cearenses, dos quais possuíam curso superior, 48,7% deles eram padres ou bacharéis em Direito, desse total, os padres ocupavam uma média de 19,9% dos assentos nas 27 legislaturas que a Assembléia Legislativa provincial vivenciou, totalizando 78 padres.
Com efeito, para se compreender o ingresso dos indivíduos nas Casas Legislativas e a manutenção de sua carreira política é necessário que analisemos a origem social desses deputados provinciais. No dizer de Arair Pinto Paiva, alguns requisitos tinham que ser preenchidos por quem pleiteava ocupar o cargo de deputado provincial. Na interpretação dessa autora, ser intelectual e pertencer a um clã familiar constituíam os principais requisitos.

                      A Elite Política imperial e a formação superior

A formação superior constituía uma característica fundamental da elite brasileira, e esse fato se refletia nitidamente nos parlamentos, durante todo o Império. À época, a educação superior se concentrava basicamente, na formação jurídica e na eclesiástica. “A elite era uma ilha de letrados num mar de analfabetos”. (CARVALHO, 2003:65).
Murilo de Carvalho, em seus estudos sobre a elite brasileira do período imperial, aponta que somente depois da chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, foram criados cursos superiores. Segundo sua fonte explicativa, durante muito tempo os filhos da elite do Brasil estudavam em Universidades européias, principalmente na Universidade de Coimbra, em Portugal. Nessas condições, o acesso à universidade era algo que demandava excessivos gastos e, é claro, essa situação era um grande obstáculo aos pobres. Mesmo depois da implementação do ensino superior no Brasil, a acessibilidade à grande parte da população ainda mantinha-se impossibilitada, haja vista, a existência de faculdades em um pequeno número de cidades, como por exemplo, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.
A fonte explicativa de Carvalho (2003) nos fornece dados em que notoriamente se observa que os políticos os quais ocupavam altos cargos, como ministros e senadores, por exemplo, tinham formação superior. Vale ressaltar que esses mandatos quando não eram exercidos por pessoas que tinham curso superior pertenciam a esses proprietários de terra, sobretudo oriundos de províncias de menor peso político.
Dessa maneira, a posse de bens materiais e a acessibilidade à educação permitiam o ingresso dos indivíduos na carreira política, de tal modo, que o grande abismo existente entre a elite econômica, política e o resto da população, era gritante. A realidade até aqui relatada, com base nos estudos de alguns respeitados cientistas sociais, também constitui característica do Ceará provincial. Em nosso estado, como em todo o Brasil, uma pequena parcela da população tinha direito de participar da vida política, a grande maioria apenas, quando as condições lhe permitiam, acompanhavam de longe os acontecimentos políticos. A elite agrária, representada pelos donos das terras, participava, em sua maioria, indiretamente da política, pois essa participação se dava através da eleição de seus representantes, que normalmente tinham curso superior, e eram em sua maioria magistrados ou padres.
É importante frisar que os clérigos católicos constituíam uma parte dessa elite imperial, inclusive a Igreja Católica teve presença marcante nos parlamentos provinciais brasileiros, principalmente no Ceará. Na condição de deputado, o padre era um funcionário público como qualquer outro, sendo pago para prestar seu trabalho à população através do Estado, todavia não deixavam de servir a uma outra organização burocrática, com fins bem diferentes, a Igreja Católica.
É importante que se aponte alguns acontecimentos referentes à trajetória da Igreja Católica no Brasil, de forma que estes possam nos mostrar quem são esses clérigos que ocupavam os assentos das Assembléias provinciais.  

  “O Clero brasileiro era famoso pela indisciplina. Essa situação tendia a se agravar sempre mais nas regiões mais distantes das imensas dioceses brasileiras de então, principalmente se estas se encontravam em prolongado estado de vacância. Dispersos pela imensidão dos sertões cada pároco era bispo de si mesmo, já que os ordinários muito dificilmente iriam até ele em visita pastoral como mandava o Concílio de Trento”. (REIS, 2004: 46).

               Os Seminários Episcopais, escolas de formação de padres, quando surgiram no Brasil, ainda no século XVIII, estavam aos cuidados dos jesuítas. Todavia, com a expulsão dos padres da Companhia de Jesus, do território brasileiro, vários seminários foram fechados de modo que a expulsão dos jesuítas causou uma crise interna entre os membros da Igreja Católica no Brasil. Essa crise trouxe um comprometimento na formação eclesiástica desses padres, estes eram malformados, tinham costumes profanos, inclusive, grande parte deles tinha concubinas. “E muitos filhos de famílias ricas eram destinados por elas ao sacerdócio como carreira de prestígio” (CARVALHO, 2003:182).
Era comum dentre as famílias da elite imperial ter um filho padre e outro magistrado. Carvalho (2003) aponta para algumas diferenças na formação dos padres e dos magistrados, estes recebiam uma formação mais refinada, precisavam de mais recursos financeiros para se manterem nos cursos de Direito; aqueles eram recrutados de maneira mais democrática, contudo não se pode afirmar que a formação eclesiástica tinha um caráter predominantemente popular.
Deve-se destacar que ter um filho padre era uma das aspirações das famílias abastadas, isso porque, à época do Império, a Igreja Católica era uma das mais importantes instituições, graças ao Padroado[4] Ademais, em função de o clero receber uma formação mais democrática que os magistrados, encejava o aparecimento de padres os quais possuíam uma origem mais modesta que os seguidores do Direito.
 Essa diferença na formação das duas principais carreiras escolhidas pela elite brasileira reflete na diferença, também sutil, nas posturas adotadas nos parlamentos. Os padres se posicionavam de forma mais liberal, combatendo o Absolutismo e o poder centralizado, em contrapartida os magistrados eram mais tradicionais, se posicionavam, normalmente, a favor da Monarquia, da ordem.

A Descentralização administrativa e as Assembléias provinciais    

 A Lei de 12 de agosto de 1834, mais conhecida como Ato Adicional, alterou a Constituição do Império, destacando-se a modificação que converteu os Conselhos Gerais em Assembléias Legislativas provinciais. A criação destas Assembléias foi uma reação descentralizadora, uma tentativa das províncias de recuperarem prerrogativas anteriormente desfrutadas.” (PAIVA, 1979: 1)


            Antes do Ato de 1834 não existiam as Assembléias Legislativas provinciais, cada unidade administrativa possuía os chamados Conselhos Gerais, órgãos meramente consultivos, que davam aos “cidadãos”[5] a possibilidade de intervir em alguns aspectos ligados ao Orçamento, todavia todas as proposições eram enviadas à Câmara Geral( uma espécie de Câmara dos Deputados) onde seriam rejeitadas ou aprovadas.         Antes do Ato de 1834, esses representantes das províncias eram chamados de conselheiros e possuíam um mandato de dois anos.
Com o Ato Adicional, primeira modificação feita a Constituição imperial, os que antes eram chamados de conselheiros passaram a ser chamados de deputados provinciais e passaram a ter direito de legislar sobre diversos temas como saúde e educação, por exemplo. Estes passaram a ser eleitos da mesma forma que os deputados gerais, ou seja, tinham que atender ao critério censitário, teriam que possuir determinada renda para se candidatarem e podiam se reeleger sem nenhuma restrição.
Depois da reforma constitucional teve início o processo de instalação das Assembléias provinciais e a organização e regulamentação para se realizar a primeira eleição para a escolha dos deputados de tal modo que as várias províncias escolheram datas variadas que atendiam às características e necessidades de cada unidade administrativa. No caso do Ceará, a nossa Assembléia realizou a sua primeira eleição em 08 de dezembro de 1834.  
De acordo com a fonte explicativa de Leitão e Santos (2002), a primeira eleição foi comandada por José Martiniano de Alencar[6], que à época era Presidente da província do Ceará. Nessas eleições foram eleitos vinte e oito deputados, sendo que nove destes pertenciam a Igreja Católica, eram estes: Frutuoso Dias Ribeiro, Bento Antônio Fernandes, Francisco de Paula Barros, Francisco Gomes Parente, Ambrósio Rodrigues Machado, Carlos Augusto Peixoto de Alencar, Antônio Francisco Sampaio, José da Costa Barros e Antônio de Castro Silva[7].
Depois de concluída a apuração e de cumpridas todas as formalidades exigidas pelo Ato Adicional de 1834, em 07 de abril de 1835 foi criada a Assembléia Provincial
do Ceará.
Contrapondo-se a esses dados, o INESP (Instituto de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Ceará) divulga[8] que para a primeira eleição para deputado provincial, candidataram-se no Ceará, 283 pessoas, sendo, destas, 40 padres, dez dos quais foram eleitos, são estes: José Ferreira Lima Sucupira, Carlos Augusto Peixoto de Alencar, Antônio Francisco Sampaio, Frutuoso Dias Ribeiro, Bento Antônio Fernandes,  José da Costa Barros, Antônio de Castro e Silva, Francisco de Paula Barros, Francisco Gomes Parente e Ambrósio Rodrigues Machado. Dessa forma, o nome do deputado José Ferreira Lima Sucupira é incluído na lista.

Os padres e o parlamento cearense

A estreita ligação entre o Estado brasileiro e a Igreja Católica não é algo registrado tão somente no Brasil - Imperial. É importante se destacar que o Brasil nasceu sob a égide do Catolicismo e que Portugal, a nossa pátria mãe, ao estabelecer o primeiro contato com os nativos, já fincava uma cruz na nova terra e um dos primeiros atos era celebrar uma missa, com o Brasil não aconteceu diferente.
         Portugal, à época, era uma nação ligada totalmente a Igreja Católica. O Vaticano outorgou a Coroa Portuguesa certos poderes sobre o clero local, uma bula, documento expedido pelo papa, denominado “Padroado Régio”, ratificou essa relação de cumplicidade entre Igreja Católica e Estado português. Dessa maneira, quando a Coroa portuguesa transferiu-se para o Brasil, logo Dom João VI se tornou divergente maior da Igreja Católica no Brasil. Assim continuou com Dom Pedro I e Dom Pedro II, estes tinham o poder de nomear párocos, bispos, e até estipular os valores dos ordenados dos clérigos. É interessante frisar que a religião católica era a religião oficial do Brasil  Imperial, os não católicos eram tratados como cidadãos de segunda classe.
Tão estreita era a relação entre Igreja e Estado no Brasil de então, que algumas funções tipicamente estatais eram atribuídas à Igreja Católica, como a realização de casamentos, haja vista, que naquela época não existia casamento civil, de modo que para o Estado brasileiro só existia um tipo de casamento oficial, que era o católico; não existia uma certidão de nascimento expedida pelo Estado, os registros de nascimento eram representados pelo batistério, que era um documento expedido exclusivamente pela Igreja Católica.
A partir dessas informações, não é difícil perceber que as elites econômicas, culturais e políticas eram católicas e que a presença significante de padres nos parlamentos durante o Primeiro e Segundo Reinados não constitui nenhuma novidade a partir de tal contexto.
Conforme já lembrado neste trabalho, a formação eclesiástica tinha um caráter um tanto democrático em relação às demais áreas de formação superior. Normalmente, não havia necessidade de investir vultosos capitais na formação de um padre. Partindo-se disso, atentamos para o imenso poder que a Igreja Católica tinha através de seus padres deputados, de dirigir-se a todas as classes sociais, inclusive às massas, por isso exercia um certo poder em relação aos eleitores. Ademais, além do discurso político estava em jogo a fé, o poder de crença religiosa a que esses clérigos tinham sobre a população, uma nítida mistura entre o sagrado (religião) e o profano, representado pela política. “O Ceará conviveu intensamente com a participação do clero no quadro sócio-político do Primeiro e do Segundo Reinado” (INESP, 2009:243).
Observa-se, durante o período estudado, que corresponde aos anos de 1834-1889, nas vinte e sete legislaturas, a destacada participação dos padres diante das demais profissões ocupadas pelos parlamentares da época. Entretanto, em algumas legislaturas, na 8ª e na 9ª, por exemplo, os padres ocuparam a terceira posição perdendo para os magistrados e funcionários públicos, ocupando respectivamente, 1° e 2° lugares.
Baseado na fonte explicativa de Paiva (1979), os padres ocuparam, nas 27 legislaturas, 19,9% dos assentos da Assembléia provincial. Tendo em vista a variedade de profissões e a presença de outros segmentos da sociedade que não possuíam curso superior, como proprietários de terra, alguns funcionários públicos e senhores de engenho, por exemplo, esse percentual é bastante significativo. Segundo essa historiadora, a representação dos padres se deu de forma mais significativa nas quatro primeiras legislaturas e da 11ª a 16ª, com mais de 20% do total de deputados. Ademais, registrou-se também que os padres estavam entre os grupos dos que conseguiam se reeleger com maior freqüência.
Nesse período em que a Igreja Católica é considerada a religião oficial do Estado, tendo monopólio absoluto, de modo que nenhuma outra religião era considerada pelo Estado, teve fim em 1889, quando é proclamada a República e é decretada oficialmente a separação entre Igreja e Estado no Brasil. A própria Constituição de 1891 assegura direitos iguais a todos as outras religiões, adotando o Estado Laico[9].

Conclusão

            A concentração de renda, grande causadora da segregação social, fazia com que a maior parte da população se mantivesse alheia a todo o processo político. Nessas circunstâncias, a política se resumia à troca de favores, onde o voto representava uma maneira de pagar um favor. Dessa forma, observa-se uma distorção na relação existente entre o político e seus eleitores. Estes se sentiam “obrigados” a votar em determinado candidato, uma situação de notória subordinação. Não havia entre os cidadãos um esclarecimento acerca das obrigações dos políticos para com o povo. “Os homens permaneciam agindo e pensando nos moldes paternalistas, em que a lealdade dos moradores deveria ser retribuída com a proteção em tempos de crise” (NEVES, 2002). 
A fonte explicativa de Neves (2007) nos traz a seca como algo que marca a história cearense, determinando relações de cunho político e social. O ato de votar era como “pagar um favor” e este favor advinha das dificuldades que o homem do campo tinha de enfrentar a estiagem, nesses momentos de ausência de chuva, os proprietários de terras agiam de modo a ajudar os mais pobres, pois sem essa ajuda muitos sertanejos morreriam de fome. 
Percebe-se, que os deputados cearenses, normalmente, tinham um mesmo perfil, pertenciam à elite local e tinham o título de bacharéis em Direito, formados pela Universidade de Coimbra em Portugal, ou eram padres, formados pelo Seminário de Olinda. Essa formação em Pernambuco se deu até o ano de 1854, quando foi criada a Diocese do Ceará. O primeiro bispo, D. Luís Antônio dos Santos, teve como uma de suas primeiras preocupações a criação de uma escola de formação de padres na província, daí nasceu o famoso Seminário da Prainha. Dessa maneira, não é difícil perceber que entre as famílias mais abastadas havia a presença marcante de magistrados e padres.
Com relação à presença de padres, a relação entre Igreja e Estado, àquela época, colaborava ainda mais para a significante presença de padres, pois o Estado e a Igreja constituíam faces da mesma moeda, em muitos aspectos o Estado agia como Igreja e vice versa. Os cargos da Igreja Católica eram indicados por políticos e havia uma subordinação mútua.







                                Referências Bibliográficas




CAMPOS, Eduardo. O Legislativo cearense: 150 anos de atuação. NIEPCE, s/d.

CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. São Paulo, 2006.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil o longo caminho. Civilização Brasileira. RJ. 2008.

NEVES, Frederico de Castro. A Seca na História do Ceará. IN: SOUZA, Simone (Org.). Uma nova história do Ceará- 4ªEd – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007.

NOBRE, Geraldo. História Eclesiástica do Ceará. Fortaleza, 1980. Secretaria de Cultura e Desporto.

PAIVA, Maria Arair Pinto. A Elite do Ceará provincial. RJ, Tempo brasileiro, 1979.

SANTOS, Arnaldo e LEITÃO, Juarez. Verbo Cívico visão histórico sociológica da Assembléia Legislativa do Ceará. Editora Expert. Fortaleza, 2002.






















[1] Graduanda do 7º semestre do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará.
[2] Profº.Drº. em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Professor adjunto da Universidade Estadual do Ceará e aposentado da Universidade Federal do Ceará.
[3] Depois de o Brasil ter adquirido sua Independência de Portugal, em 1822, ele continuou a ser governado por um português, D.Pedro I.

[4]  O padroado foi uma espécie de acordo estabelecido entre a Igreja Católica e os reinos, sobretudo de Portugal e Espanha onde a Igreja delegava aos reis o poder de administrar a Igreja em seus domínios.
[5] Havia muitas restrições ao voto. A idade mínima era de 21 anos, nem mulheres, nem escravos votavam e a renda mínima estabelecida para os cidadãos comuns era de 100 mil-réis.
[6] José Martiniano de Alencar era pai do escritor José de Alencar e também era padre.
[7] Dados extraídos do livro “Verbo Cívico” de Arnaldo Santos e Juarez Leitão, página 69.
[8] Essa divulgação é feita através do Livro intitulado “Os Clérigos Católicos na Assembléia Provincial do Ceará”, publicado em 2009.
[9] Estado Laico é aquele que se posiciona de maneira neutra em relação aos aspectos religiosos. Onde existe uma nítida separação entre o Estado e a religião.