quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Concurso: Professor Relações Internacionais / DCP-UFPE‏

Prezados colegas,

Encontra-se aberto concurso publico para professor adjunto no departamento de ciencia politica da ufpe. Trata-se de uma vaga na sub-area de relaçoes internacionais. O edital do referido concurso com os devidos detalhes encontra-se abaixo. Peço-lhes a gentileza de divulgar esta informaçao o maximo possivel junto as suas redes de contatos.


http://www.ufpe.br/proacad/images/Editais_concursos/edital109/edital_109.pdf

O DCP-UFPE possui uma Pos-graduacão ativa desde 1982 e desde 2002 possui doutorado na area de Ciência Política com areas de concentracao em 1)Democracia e Instituicoes Politicas e 2) Relacoes Internacionais. Tambem temos uma Bacharelado em Ciencia Politica com ênfase em Relacões Internacionais, este curso é um dos mais disputados na area de humanidades da UFPE.

Edital do Ministério da Saúde - Antropólogo

MINISTÉRIO DA SAÚDE

EDITAL Nº 4, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2011

PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO DE ANÁLISE CURRICULAR

 
A Coordenadora-Geral de Gestão de Pessoas, no uso das atribuições que lhe confere o Art.73 da PT/GM/MS n.° 3.965 de 14 de dezembro de 2010, publicada no Diário Oficial da União n°. 239, de 15 de dezembro de 2010, seção 1, página 90, no uso de suas atribuições e considerando a autorização concedida por meio da Portaria Interministerial n°. 506, de 23/11/2011, do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão e do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial da União n.° 225, de 24/11/2011, seção 1, páginas 112 e 113, torna pública a realização de processo seletivo simplificado para contratação por tempo determinado de profissionais de nível superior, médio e auxiliar, para desempenhar atividades relacionadas à área de Assistência à Saúde para Comunidades Indígenas, conforme art. 2°, inciso VI, alínea "m" da Lei n° 8745/1993, por meio de análise curricular, conforme art. 3°, parágrafo 2° da Lei n° 8745/1993, mediante as condições estabelecidas neste edital.
1. O processo seletivo de que trata este edital compreenderá as seguintes fases:
a) avaliação curricular de títulos e experiência profissional, de caráter eliminatório e classificatório;
b) entrevista, de caráter classificatório.
1.1 O processo seletivo destina-se a contratação de profissionais para atuação nas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI), no Núcleo de Apoio à Saúde Indígena (NASI) e na Casa de Saúde do Índio (CASAI) do Distrito Sanitário Especial Indígena do Amapá e Norte do Pará.
1.2 A distribuição das vagas e respectiva remuneração seguem no quadro abaixo por cargo:
Nível
Cargos
Remuneração (R$)
Quantitativo
Superior
Médico
7.000,00
7
Enfermeiro
7.000,00
24
Cirurgião-Dentista
7.000,00
7
Assistente Social
7.000,00
6
Nutricionista
7.000,00
4
Epidemiologista
7.000,00
2
Farmacêutico/Bioquímico
7.000,00
4
Biólogo
7.000,00
2
Antropólogo
7.000,00
1
Pedagogo
7.000,00
1
Psicólogo
7.000,00
1
Terapeuta ocupacional /Fisioterapeuta
7.000,00
1
Arquiteto
7.000,00
1
Engenheiro
7.000,00
2
Geólogo
7.000,00
1
Médio
Técnico em Enfermagem
2.300,00
88
Auxiliar de Saúde Bucal
2.300,00
6
Técnico de Laboratório
2.300,00
3
Agente de Combate a Endemias
2.300,00
2
Técnico de Saneamento
2.300,00
5
Auxiliar
Agente Indígena de Saúde
600,00
80
Agente Indígena de Saneamento
600,00
70
Total
318
1.3 Requisitos básicos para admissão:
1.3.1 Não ser servidor da administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, e dos Municípios, nem empregado ou servidor de suas subsidiárias e controladas.
1.3.2 Não participar de gerência ou administração de empresa privada, sociedade civil, salvo a participação nos conselhos de administração e fiscal de empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação do capital social nem exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário, nos termos do inciso X, do artigo 117, da Lei n.° 8.112/90.
1.3.3 Não ter sido contratado nos últimos 24 meses nos termos da Lei n.° 8.745/93 e alterações.
1.3.4 Ter nacionalidade brasileira ou portuguesa e, em caso de nacionalidade portuguesa, estar amparado pelo estatuto de igualdade entre brasileiros e portugueses, com reconhecimento de gozo de direitos políticos, nos termos do parágrafo 1.°, artigo 12, da Constituição Federal e do Decreto n.° 70.436/72.
1.3.5 Ter sido aprovado no processo seletivo.
1.3.6 Estar em dia com as obrigações eleitorais.
1.3.7 Ter certificado de reservista ou de dispensa de incorporação, em caso de candidato brasileiro, do sexo masculino.
1.3.8 Ter idade mínima de dezoito anos completos, na data de admissão.
1.3.9 Ter aptidão física e mental para o exercício das atribuições da área de atuação.
1.3.10 Cumprir as determinações deste edital.
1.4 Requisitos específicos/atribuições por área de atuação:
1.4.1 Profissionais de nível superior - Medicina, Enfermagem, Odontologia (cirurgia), Serviço Social, Nutrição, Epidemiologia, Farmácia/Bioquímica, Biologia, Antropologia, Pedagogia, Psicologia, Fisioterapia/Terapia Ocupacional, Arquitetura, Engenharia e Geologia - deverão apresentar diploma de conclusão de curso de graduação de nível superior na respectiva formação, fornecido por instituição de ensino superior reconhecida pelo Ministério da Educação e comprovar experiência, na respectiva área de atuação e registro de classe (se for o caso);
1.4.2 Profissionais de nível médio - Técnico em enfermagem, Auxiliar de Saúde Bucal, Técnico de laboratório, Agente de Combate a Endemias e Técnico de Saneamento - deverão apresentar diploma ou certificado de conclusão de nível médio e respectivo curso profissionalizante na respectiva área de atuação e registro de classe (se for o caso), fornecido por instituição de ensino reconhecida pelo Ministério da Educação e comprovar experiência;
1.4.3 Profissionais de nível auxiliar - Agente Indígena de Saúde e Agente Indígena de Saneamento - devido às peculiaridades socioculturais das comunidades atendidas e ao contato físico e cultural com os indígenas, deverão apresentar os seguintes requisitos:
a) Ser indígena;
b) Morar na própria comunidade indígena ou possuir ligação sociocultural com as tribos assistidas;
c) Saber ler e escrever em português;
d) Ter experiência prévia como AIS ou AISAN para os perfis profissionais, respectivamente de Agente Indígena de Saúde e Agente Indígena de Saneamento;
e) Possuir histórico de convivência próxima com as referidas comunidades indígenas, relações sociais estreitas e boa aceitação por parte das comunidades indígenas assistidas.
1.5 A jornada de trabalho será de 40 horas semanais.
1.6 O prazo de duração dos contratos deverá ser até 30 de junho de 2012, conforme Termo de Conciliação Judicial celebrado com o Ministério Público do Trabalho nos autos do Processo n.° 00751- 2007-018-10-00-4, em tramitação na 18ª Vara do Trabalho de Brasília-DF.
1.7 A remuneração de que trata o quadro do item 1.2 foi definida conforme Decreto n.° 7.395, de 22 de dezembro de 2010.
1.8 A análise curricular será realizada por comissões instituídas pelo Ministério da Saúde.
1.8.1 Os currículos dos candidatos às atividades que tratam os itens 1.4.1 e 1.4.2, deverão ser enviados para o e-mail selecao.sesai@saude.gov.br contendo os dados pessoais e profissionais até 04/12/2011, mencionando no assunto a área de atuação de interesse.
1.8.2 Os currículos dos candidatos às atividades de Agente Indígena de Saúde e Agente Indígena de Saneamento poderão ser ainda entregues até 05/12/2011 no endereço: Avenida Antônio Coelho de Carvalho, n° 2517 - Bairro Santa Rita - Macapá-AP - CEP: 68.900-001.
1.9 As entrevistas ocorrerão da seguinte forma:
Endereço para entrevistaData para entrevista
Avenida Antônio Coelho de Carvalho, n° 2517 - Bairro Santa Rita - Macapá-AP.12 a 16/12/2011
1.10 Em caso de empate na nota final do processo seletivo terá preferência o candidato que, na seguinte ordem:
a) tiver idade igual ou superior a sessenta anos, conforme artigo 27, parágrafo único, da Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso);
b) obtiver a maior nota no tempo de atuação profissional;
c) obtiver a maior nota em cursos de pós-graduação na área de atuação;
d) obtiver a maior nota em experiência em saúde coletiva/indígena;
e) obtiver a maior nota na entrevista.
1.11 O resultado final do processo seletivo contemplará os candidatos aprovados e classificados em até duas vezes o número de vagas por área de atuação.
1.12 O resultado final do processo seletivo será homologado e publicado no Diário Oficial da União, com data provável de 21 de dezembro de 2011.
1.13 O prazo de validade do processo seletivo esgotar-se-á após dois anos, contado a partir da data de publicação da homologação do resultado final, podendo ser prorrogado, uma única vez, por igual período.
1.14 Os profissionais aprovados e classificados no processo seletivo devem manter atualizados seus endereços junto a Coordenação de Atendimento de Pessoal da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas, por meio de correspondência, via SEDEX (Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Edifício Anexo, Sala 330-B, Brasília-DF, CEP: 70058-900) ou por endereço eletrônico (concursos@saude.gov.br), e se responsabilizarão por prejuízos decorrentes da não atualização.
1.15 Os casos omissos serão resolvidos junto à Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas - CGESP/SAA/SE/MS.
1.16 As alterações de legislação deste edital serão objeto de avaliação, ainda que não mencionadas.
1.17 Quaisquer alterações nas regras fixadas neste edital só poderão ser feitas por meio de outro edital.
 
HELOISA MARCOLINO
 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CONCURSO UNILA – 5 VAGAS PARA HISTÓRIA



A Universidade Federal da Integração Latino-americana - UNILA, informa que estão abertas as inscrições para o Concurso Público de Provas e Títulos destinado a selecionar candidatos para o cargo de Professor.
São várias disciplinas e para a História são para as seguintes áreas e números de vagas:
História Pré-Colonial e Grupos Étnicos na História da América - Doutorado em História – 02 vagas
História da América e da Europa - Doutorado em História -  02 vagas
História da África e da Ásia Contemporâneas- Doutorado em História – 01 vaga
A inscrição será efetuada exclusivamente no endereço eletrônico: http://
www.unila.edu.br, do dia 17 de novembro às 23h59min do dia 16 de dezembro de 2011.

Vaga para Cientista Social - CEARAH Periferia (ONG)




  EDITAL DE SELEÇÃO

DIRIGE-SE AOS/AS INTERESSADOS/AS EM ATUAR JUNTO A MOVIMENTOS SOCIAIS PRODUTIVOS, FORTALECIMENTO DE GRUPOS DE MULHERES E EDUCAÇÃO POPULAR

O Centro de Estudos, Articulação e Referência em Assentamentos Humanos – CEARAH Periferia, ONG existente há 20 anos, seleciona técnicos/as dos cursos de Ciências Sociais, Geografia, Agronomia, Serviço Social, Direito, Economia e Pedagogia, para concorrer a 2 (duas) vagas para atuação no projeto “A Força da Mulher”, que será executado  nas cidades de Quixadá, Ocara e Pacatuba - Ceará.
O Projeto tem por objetivo fortalecer política e economicamente mulheres para práticas de geração de renda e intervenção política nos municípios citados.

Atividades a serem desenvolvidas:
·        Facilitar oficinas, reuniões e outras atividades  de formação junto a grupos produtivos de mulheres ;
·        Fazer visitas de acompanhamento e assessoria às comunidades;
·        Realizar tarefas de apoio operacional e técnico, junto à Coordenação para a realização das atividades referentes ao projeto nas cidades de atuação;
·        Elaborar relatórios das atividades realizadas;
·        Participar das articulações com redes, Poder Público e outros atores previstos no projeto.

Critérios a serem considerados no momento da seleção:
·        Habilidade para trabalhar em equipe, criatividade, dinamismo, boa comunicação oral e escrita. Experiência em metodologias de educação popular com comunidades rurais e urbanas, com grupos  produtivos e com grupos de mulheres;
·        Conhecimento sobre a questão de gênero.
·        Conhecimentos básicos em informática (textos, planilhas, apresentações, internet e redes sociais);
·        Capacidade de articulação e mobilização;
·        Conhecimento da realidade dos movimentos sociais no País;
·        Habilitação  - categoria B

Exigências institucionais:
·        O trabalho deslocamentos semanais para os municípios do Projeto.

Jornada de trabalho: 40h/semana.

Remuneração: Prevista nos parâmetros do Projeto

·        Documentação exigida:  Currículo e  Carta de motivação (máximo 2 laudas), na qual deverá expor o interesse em trabalhar com temática supracitada e quais suas expectativas em trabalhar no CEARAH Periferia.


Processo de seleção:  Ocorrerá em 2 (duas) fases eliminatórias:

1- Análise do currículo – de 02 a 06 de dezembro  de 2011.
2- Entrevista com a comissão de seleção: de 8 a 10 de dezembro de 2011, em horário a ser definido com cada candidato(a)
3- Divulgação do Resultado - dia 14 de dezembro 2011.

Recebemos candidaturas e currículos pelo correio eletrônico cearahperiferia@cearahperiferia.org.br, ou entregues na sede do CEARAH Periferia (rua Carlos Vasconcelos, 1339, Aldeota) até o dia 1º de dezembro de 2011.
 Para maiores informações: 3261.26.07

tópicos utópicos: Do cárcere ao século XXI: 120 anos de Gramsci

Para a 6ª edição do Projeto Tópicos Utópicos o convidado da Prefeitura Municipal de Fortaleza é o filósofo marxista e professor de teoria política Carlos Nelson Coutinho. O tema da conferência será "Do Cárcere ao século XXI: 120 anos de Gramsci" no dia 02 de dezembro, às 19 horas, no Auditório da Faculdade de Direito da UFC (Rua Meton de Alencar, s/n, Centro).

No dia 02 de dezembro, Carlos Nelson Coutinho abordará o tema da contemporaneidade do pensamento de Gramsci. Em uma conferência que homenageia os 120 anos do nascimento de Antonio Gramsci o tradutor dos “Cadernos do Cárcere” irá debater a atualidade de temas como: hegemonia, consciência de classe, o estado e a sociedade civil. 

Na ocasião Carlos Nelson Coutinho lançará o livro "De Rousseau à Gramsci: Ensaios de teoria política" pela Editora Boitempo, parceira da Prefeitura Municipal de Fortaleza, em conjunto com a Universidade Federal do Ceará e a escola Nacional Florestan Fernandes no projeto Tópicos Utópicos.




domingo, 27 de novembro de 2011

SOCIOLOGIA E MODERNIDADE EM ÉMILE DURKHEIM


SOCIOLOGIA E MODERNIDADE EM ÉMILE DURKHEIM


Autor: Wellington Ricardo Nogueira Maciel
Doutor em sociologia



1. Introdução.


O sociólogo francês Émile Durkheim pode ser considerado o grande consolidador do ensino da sociologia na Universidade, que durante toda a Idade Média permaneceu desativada. Durkheim foi um “militante” em prol da sociologia acadêmica, uma nova ciência que derivava de Auguste Comte, mas que ainda estava impregnada das questões abstratas da filosofia do seu mestre. Com a publicação em 1895 das Regras do Método Sociológico, Durkheim começa a dar uma nova feição a jovem ciência, e lhe atribui estudar os fatos sociais. O estudo sobre o suicídio se tornaria, em seguida, uma referencia no uso da estatística. A sua sociologia tratou de vários temas que não podem ser explicados separadamente. Entre as principais temáticas que serão abordadas neste artigo destaco a divisão do trabalho, indivíduo e sociedade, solidariedade e moralidade, Estado. O recorte que empreendi é apenas uma via de análise possível da obra de Durkheim. Não pretendo apresentar nenhuma novidade sobre o autor. A minha meta é apenas encontrar a lógica de análise que perpassa esses conceitos em sua obra, em especial a partir da discussão entre sociologia e modernidade. A consideração do fato social será feita nas discussões que se seguem.
David Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, na cidade de Épinal, entre os territórios da Alsácia e Lorena, os quais, a partir de 1871, ficariam marcados pelas disputas franco-alemãs. O jovem Durkheim, nascido no seio de uma família judia, iniciaria seus estudos em Paris, no Liceu Luis Le Grande, o que proporcionaria o seu ingresso, em 1879, na École Normale Superieux, permanecendo lá até 1882. Nesse ano, ao formar-se em filosofia, é nomeado professor em Sens e Saint-Quentin. De 1885 a 1886 é aluno de Wilhelm Wund, desenvolvendo estudos de antropologia e de psicologia dos povos. Entre publicações de artigos e cursos ministrados em Paris, Durkheim publica em 1892 sua tese de doutoramento, intitulada Da Divisão do Trabalho Social. No ano de 1895 publica As Regras do Método Sociológico, e dois anos depois O Suicídio.


2. Sociedade e Moralidade.

Uma das maiores polêmicas na sociologia de Durkheim é a consideração segundo a qual a sociedade constitui uma realidade distinta da soma dos seus membros. A sociedade consistiria num agregado de indivíduos dotados de consciência, mas ele seria uma realidade de nova espécie. As festas, cerimônias e os cultos teriam a força de mostrar ao indivíduo neles inserido um objeto ao mesmo tempo coercitivo e desejado. Penso que para Durkheim não basta a sociedade encarnar o fato moral, é preciso que este seja querido, almejado pelos membros da coletividade. Assim, Durkheim (1994, p.58) afirma que
“As regras morais estão investidas de autoridade especial em virtude da qual são obedecidas, porque elas ordenam. Encontraremos desse modo, embora por uma análise puramente empírica, uma noção de dever que leva a uma definição muito próxima daquela que foi dada por Kant (...) Mas a noção de dever (...) não esgota a noção de moral. É impossível que nós cumpramos um ato unicamente porque nos foi ordenado, com abstração de seu conteúdo. Para que possamos nos desempenhar como sujeitos, é necessário que o ato desperte de alguma forma a nossa sensibilidade, ou seja, que se apresente a nós, de certo modo, como desejável.”
Dessa forma, o fato moral se reveste de uma autoridade que obriga e agrada o indivíduo. Todo ser que possui ambas as características lembra o sagrado. A sociedade teria frete ao indivíduo....

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Vaga para temporário - USP


INSCRIÇÕES ABERTAS – de 21/11 a 05/12/2011 – das 10 às 12 h e das 14 às 17h – de 2ª as 6ª feiras
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO EDIT FFLCH/FLS Nº 017/2011
Abertura de Edital de Processo Seletivo para Docente dois docentes por prazo determinado (temporário), como Professor Nível III (Professor Doutor), recebendo o salário de R$ 1.423,29 (maio/2011), em jornada de doze horas semanais de trabalho, junto ao Departamento de Sociologia, área de Teoria e Método em Sociologia. 1. As inscrições serão feitas no Serviço de Apoio Acadêmico
da FFLCH (prédio da Administração - Rua do Lago, nº 717 - Sala 107 - Cidade Universitária), de 2ª a 6ª feira, das 10 às 12 horas e das 14 às 17 horas.


Fonte: https://www.facebook.com/profile.php?id=100001514926635

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Charles Chaplin, a Modernidade e a Sétima Arte em sua progênie.


                      

Este personagem é polifacético. É um vagabundo, um cavalheiro, um poeta, um sonhador, um solitário e sempre tem ânsias de romances e aventuras” (Chaplin, 1981: 233).


                                                                                        Ubiracy de Souza Braga*


_______________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).



Sir Charles Spencer Chaplin, mais conhecido como Charlie Chaplin (1889-1977), foi um ator, diretor, produtor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico. Chaplin foi um dos atores mais famosos da era do “cinema mudo”, notabilizado pelo uso de mímica e da “comédia pastelão”. Atuou, dirigiu, escreveu, produziu e financiou seus próprios filmes, sendo fortemente influenciado por um antecessor, o comediante francês Max Linder, a quem ele dedicou um de seus filmes. Sua carreira no ramo do entretenimento durou mais de 75 anos, desde suas primeiras atuações quando ainda era criança nos teatros do Reino Unido durante a Era Vitoriana quase até sua morte aos 88 anos de idade. Sua vida pública e privada abrangia adulação e controvérsia. Juntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, Chaplin fora co-fundador da United Artists em 1919.
Seu principal e mais famoso personagem foi The Tramp, conhecido como Charlot na Europa e igualmente conhecido como Carlitos ou “O Vagabundo”, entre nós no Brasil. Consiste em um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um gentleman, usando “um fraque preto esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e - sua marca pessoal - um pequeno bigode-de-broxa”. Foi também um talentoso jogador de xadrez e chegou a enfrentar o campeão estadunidense Samuel Reshevsky. Em 2008, em uma resenha do livro Chaplin: A Life, Martin Sieff escreve: “Chaplin não foi apenas ´grande`, ele foi gigantesco”.
Em 1915, ele “estourou” um mundo dilacerado pela guerra trazendo o dom da comédia, risos e alívio enquanto ele próprio estava se dividindo ao meio pela Primeira grande Guerra. Durante os próximos 25 anos, através da  Grande  Depressão e da  infeliz ascensão do carrasco nazista A. Hitler,  ele  permaneceu  no emprego. Ele foi maior do que qualquer um. É duvidoso que algum outro indivíduo tenha dado mais entretenimento, prazer e alívio para tantos seres humanos quando eles mais precisavam. O termo “Sétima Arte”, é usado para designar o cinema; foi estabelecido por Ricciotto Canudo no “Manifesto das Sete Artes”, em 1911, embora tenha sido publicado apenas em 1923. Por sua inigualável contribuição ao desenvolvimento da Sétima Arte, Chaplin é o mais homenageado cineasta de todos os tempos, sendo ainda em vida condecorado pelo governo britânico: “Cavaleiro do Império Britânico”, pelo governo francês: “Légion d`Honneur”, pela Universidade de Oxford: Doutor Honoris Causa e pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos com o Oscar especial “pelo conjunto da obra”, em 1972.
            Além de atuar, Chaplin dirigiu, escreveu, produziu e eventualmente compôs a trilha sonora de seus próprios filmes, tornando-se uma das personalidades mais criativas e influentes em sua progênie da era do “cinema mudo”. Chaplin foi fortemente influenciado por um antecessor, como vimos o comediante francês Max Linder, a quem ele dedicou um de seus filmes. Era canhoto, nasceu no dia 16 de abril de 1889, na East Street, Walworth, Londres, Inglaterra. Seus pais eram artistas de music-hall. Seu pai, Charles Spencer Chaplin, era vocalista e ator, e sua mãe, Hannah Chaplin, era cantora e atriz. Chaplin aprendeu a cantar com seus pais, os quais se separaram antes dele completar três anos de idade. Após a separação, Chaplin foi deixado aos cuidados de sua mãe, que estava cada vez mais instável emocionalmente. O censo de 1891 demonstra que sua mãe morava com Charlie e seu “meio-irmão” mais velho Sydney na Barlow Street, Walworth. Um problema de laringe acabou com a carreira de cantora da mãe de Chaplin.
A primeira crise de Hannah ocorreu em 1894 quando ela estava cantando no “The Canteen”, um teatro em Aldershot, geralmente frequentado por manifestantes e soldados. Além de “ser vaiada, Hannah foi gravemente ferida pelos objetos atirados pela plateia”. Nos bastidores, ela chorava e argumentava com o seu gerente. Enquanto isso, com apenas cinco anos de idade, o pequeno Chaplin subiu sozinho ao palco e cantou uma música popular da época, “Jack Jones” (cf. Chaplin, 1981). Seu pai, Charles Chaplin, era alcoólatra e tinha pouco contato com seu filho, apesar de Chaplin e seu meio-irmão morarem durante um curto período de tempo com seu pai e sua amante, Louise, na 287 Kennington Road, onde há uma placa em homenagem ao fato. Os “meios-irmãos” viviam ali, enquanto sua mãe, mentalmente doente, residia no Asilo Cane Hill em Coulsdon. A amante do pai de Chaplin enviou o menino para a Archbishop Temples Boys School. Seu pai morreu de cirrose no fígado quando Chaplin tinha doze anos, em 1901. De acordo com o censo de 1901, Chaplin residia na streets 94 Ferndale Road, Lambeth.
Após a mãe de Chaplin ter sido novamente admitida no Asilo Cane Hill, seu filho foi deixado em uma “casa de trabalho” em Lambeth, no sul de Londres, mudando-se após várias semanas para a Central London District School, “uma escola para pobres em Hanwell”. Os jovens irmãos Chaplin começaram um íntimo relacionamento, a fim de sobreviverem. Ainda jovens, foram atraídos para o music hall, e ambos provaram ter grande talento. A mãe de Chaplin morreu em 1928, em Hollywood, sete anos após ter sido levada de Londres para os Estados Unidos por seus filhos.
                                  
                                  Making a Living (1914), o primeiro filme de Chaplin.
Chaplin começou a trabalhar junto com Normand, que “dirigiu e escreveu vários de seus primeiros filmes”. Contudo, Chaplin não gostou de ser dirigido por uma mulher, e os dois discutiam frequentemente. Ele acreditava que Sennett pretendia demiti-lo caso houvesse um desentendimento com Normand. No entanto, seus filmes fizeram tanto sucesso que ele se tornou uma das maiores estrelas da Keystone. Kid Auto Races at Venice (1914), foi o segundo filme de Chaplin e a primeira aparição d`O Vagabundo. Foi no estúdio Keystone onde Chaplin desenvolveu seu principal e mais conhecido personagem: O Vagabundo, conhecido como Charlot na França e no mundo francófono, na Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Romênia e Turquia, Carlitos no Brasil e na Argentina, e Der Vagabund na Alemanha (cf. Lafargue, 1911; 1983; Rousselet, 1976; Dejours, 1988).
Etnograficamente falando temos n`O Vagabundo a “representação social”, no sentido que empregam Berger & Luckmann (1985) e artística de um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro; aparece sempre vestindo um paletó apertado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, e um chapéu-coco; carrega uma bengala de bambu; e possui um pequeno bigode-de-broxa, como vimos. O público viu o personagem pela primeira vez no segundo filme de Chaplin, Kid Auto Races at Venice, lançado em 7 de fevereiro de 1914. No entanto, ele já havia criado o visual do personagem para o filme Mabel`s Strange Predicament, produzido alguns dias antes, porém lançado mais tarde, em 9 de fevereiro de 1914.
Os primeiros filmes de Chaplin no estúdio Keystone usavam a fórmula padrão de Mack Sennett, “que consistia em extrema comédia pastelão e gestos exagerados”. Do ponto de vista técnico-metodológico a pantomima de Chaplin foi mais sutil, sendo mais adequada para comédias românticas e “farsas domésticas”. As piadas visuais, no entanto, seguiam exatamente o padrão de comédia da Keystone. Em seus filmes, O Vagabundo atacava agressivamente seus inimigos com chutes e tijolos. O público da época amou este novo comediante, apesar dos críticos alertarem que as travessuras do personagem beiravam a vulgaridade. Logo depois, Chaplin se ofereceu para dirigir e Editar seus próprios filmes. Durante seu primeiro ano no ramo do cinema, ele fez mal, comprando aos Laboratórios das universidades contemporâneas, “34 curtas-metragens para Sennett, assim como o longa-metragem Tillie! s Punctured Romance”. Assim, diz o irreprochável Chaplin quando da criação de seu “Vagabundo”:
não tinha a menor ideia de como poderia me vestir. Não me gostava o disfarce de jornalista. Não obstante, enquanto me dirigia ao vestuário, me ocorreu por calças (pantalonas), um par de sapatos grandes, uma bengala e um chapéu (sombrero) longo. Queria que tudo parecesse uma contradição: as calças (pantalonas), abolsados (em forma de bolsa) ; a jaqueta, ajustada: os sapatos, grandes, e o chapéu, pequeno...” (Chaplin, 1981: 233).   
Para Octavio Ianni (1989: 7 e ss.), é uma das mais extremas e cruéis sátiras sobre o Mundo Moderno. A Sociologia e a Modernidade surgem na mesma época, na mesma idade. Talvez se possa dizer que a revolução popular de 1848 despertou o Mundo para algo novo, que não havia sido ainda plenamente percebido. A multidão aparecia no primeiro plano, no horizonte da história. E aparecia como multidão, massa, povo e classe. A revolução de 48 em Paris repercutiu em toda a França, na Europa e em muitas partes do mundo. Via-se que a multidão tornava-se classe revolucionária em conjunturas críticas. A metamorfose pode ser brusca, inesperada, assustadora, fascinante. Em Paris de 48 viviam, trabalhavam, produziam e lutavam Tocqueville, Proudhon, Comte, Marx, Blanqui e Baudelaire. Na capital do século XIX, quando se revelam os primeiros sinais de que a sociedade burguesa também é histórica, transitória, nesse momento nascem a Sociologia e a Modernidade.
É daí que nasce o herói solitário e triste de Chaplin. Numa das mais avançadas expressões da Modernidade que é o cinema, surge o lumpen olhando espantado para os outros, as coisas, o mundo. Carlitos é um herói trágico. Solitário e triste, vaga perdido no meio da cidade, um deserto povoado pela multidão. Farrapo coberto de farrapos. Fragmento de um todo no qual não se encontra; desencontra-se. Caminha perdido e só, no meio da estrada sem-fim. Parece ele e outros, outros e muitos, todos os que formam e conformam a multidão gerada pela sociedade moderna. Um momento excepcional da épica da Modernidade. Carlitos revela a poética da vida e do mundo a partir da visão paródica do lúmpen que “olha a vida e o mundo a partir dos farrapos da extrema carência, de baixo-para-cima, de ponta-cabeça”. 
É aí que se instaura o sentido trágico também presente na Modernidade. Agora o homem tudo sabe, sobre este e o outro mundo. Tem tanta razão que desvenda os fetiches que ele próprio recria e recria, no cotidiano do dia-a-dia. Mas se reconhece aquém e além dessa razão. Descobre que o seu entendimento não o emancipa de si, do que é como fabulação. Com o fetichismo das suas relações sociais, entroniza visões e fantasmas, nos quais se conhece e desconhece, que alegram e o assustam” (Ianni, 1989).
Há ainda a análise de Modern Times (1936) realizada por Matos-Cruz quando afirma que ele, mantendo uma modernidade inegável, é por ele próprio sintetizado como a história do indivíduo, da indústria e da humanidade em busca da felicidade. Charlot procura várias vezes integrar-se numa existência em comunidade, banal, mas é rejeitado; principalmente, porque combate as arbitrariedades, recusa perder-se enquanto indivíduo ou consentir na alienação. Sendo seu filme mais empenhado e significativo, converte-se num intrigante testemunho. Ou seja,
num campo, um rebanho de carneiros. Em paralelo, na cidade, as pessoas comprimem-se à saída do metropolitano; os operários dirigirem-se em massa para as fábricas (...). O atrito individual para marcar o relógio de ponto; entre eles Charlot, que aperta roscas num circuito de montagem em série, armado com duas chaves inglesas. Trabalho automatizado, que a sua fuga ao sistema perturba. Insultado pelo contramestre, a cadeia é suspensa; retomada cedo demais, é tragado pela máquina (...). A engrenagem tritura o operário! O patrão, que nada faz e vigia o trabalho por um circuito de televisão interna, decide experimentar um aparelho que serve o almoço aos operários, sem interromper a produção. Charlot que continua automaticamente a repetir os gestos condicionados ao vazio, é escolhido para testar o invento; só que a máquina desarranja-se! O patrão manda então, acelerar o ritmo de trabalho, e Charlot provoca a confusão (...). Despedido dedica-se a um bailado delirante, dentro e fora da fábrica; aperta o nariz do contramestre e os botões do vestido de uma mulher, como se fossem roscas, semeia o caos ao investir contra a mecanização, a quem subverte (...). Após tratamento num hospital psiquiátrico, durante alguns meses, regressa, mas a fábrica está em greve” (Matos-Cruz, 1981: 201).  
Enfim, este contexto projeta ainda, numa perspectiva analítica comparativa dos processos históricos específicos, duas singularidades: a) que nos últimos 100 anos os principais elementos que caracterizaram as condições de “valorização do capital”, segundo Marx, relacionaram-se com as condições de produção e reprodução de um mercado de trabalho dual, e, b) com o fato de que uma ideia produzida em sociedades imperialistas, quando assimilada é, ao mesmo tempo, imprópria (visto tratar-se de produção ideológica com contrapartida em outra realidade) e própria, já que esta sofre mecanismos de ajuste a essa realidade, na medida em que expressa interesses específicos de uma classe ou grupo social aí existente (cf. Coutinho, 1979; 1984).
Em 1915, Chaplin assinou um contrato muito mais favorável com a Essanay Studios, e desenvolveu suas habilidades cinematográficas, adicionando novos níveis de sentimentalismo e pathos em seus filmes. A maioria dos filmes produzidos na Essanay foram mais ambiciosos, com uma duração duas vezes maior do que os curtas da Keystone. Chaplin também desenvolveu o seu próprio elenco, no qual estava incluídos a heroína Edna Purviance e os vilões cômicos Leo White e Bud Jamison. Visto que grupos de imigrantes chegavam constantemente na América, os filmes mudos foram capazes de atravessar quase todas as barreiras de linguagem, sendo compreendidos por todos os níveis da Torre de Babel americana, simplesmente devido ao fato de serem mudos. Nesse contexto, Chaplin foi emergindo e tornando-se o exponente máximo do cinema mudo.
Em 1916, a Mutual Film Corporation pagou a Chaplin US$ 670.000,00 para
produzir uma dúzia de comédias com duração de duas bobinas”. Por essa razão, de acordo com Marx, “também se diz da maquinaria que ela economiza trabalho; todavia, a simples economia do trabalho não é, como Lauderlale observou corretamente, o realmente caraterístico; porque, com a ajuda da maquinaria, o trabalho humano faz e cria coisas que absolutamente não poderia criar sem ela. O último aspecto se refere ao valor de uso da maquinaria” (cf. Marx, 2011: 313). 
            Melhor dizendo,
o útimo aspecto refere-se ao valor de uso da maquinaria. A economia do trabalho necessário e a criação do trabalho excedente são o característico. A maior produtividade do trabalho se expressa no fato de que o capital tem de comprar menos trabalho necessário para criar o mesmo valor e maiores quanta de valores de uso, ou de que um trabalho necessário menor cria o mesmo valor de troca, valoriza mais material e uma massa maior de valores de uso. Por conseguinte, o crescimento da força produtiva supõe, se o valor total do capital permanece o mesmo, que a sua parte constante (consistindo de material e máquinas) cresce em relação à variável, i. e., e relação à parte do capital que se troca com o trabalho vivo, e que forma o fundo do salário” (Marx, 2011: 313).
Foi dada a Chaplin o controle artístico quase total, produzindo doze filmes durante um período de dezoito meses, notando que estes estão entre os filmes de comédia mais influentes da história mundial do cinema. Praticamente todos os filmes de Chaplin produzidos na Mutual são clássicos: “Easy Street”, “One A.M., The Pawnshop” e “The Adventurer” são provavelmente os mais conhecidos. Edna Purviance continuou sendo a protagonista, e Chaplin adicionou Eric Campbell, Henry Bergman e Albert Austin ao seu elenco de “primeira linha”; Campbell, um veterano nas óperas de Gilbert e Sullivan, interpretou vilões soberbos, e os atores coadjuvantes Bergman e Austin permaneceram no elenco de Chaplin durante décadas. Chaplin considera o período em que esteve na Mutual como o mais feliz de sua carreira. Após a entrada dos Estados Unidos na Primeira grande (1914-1918), Chaplin tornou-se um garoto-propaganda para a venda de “bônus da liberdade” junto com Mary Pickford e seu grande amigo Douglas Fairbanks.
Enfim, mais do que isso, o fato de que o Charles Chaplin antecipa o mágico que está presente na literatura e na realidade, na arte, na história e no cinema, como vimos, sugere a possibilidade de que corresponda a um “modo e olhar”, a um estilo de pensamento, e não somente a um estilo de criação artística, ainda que importante. Portanto, não se trata de indagar apenas sobre os nexos entre literatura e realidade, literatura e cinema a propósito da aura mágica que emana da escritura e da cultura. Cabe indagar se essa aura não só emana como também constitui o todo da cultura. É como se um fato insólito de repente desvendasse dimensões recônditas e significados incríveis da cultura, da vida social, biografia, história, mundo moderno.
A divisão técnica (Marx) e social (Durkheim) na qual se realiza de maneira específica a “unidade do mundo capitalista”, em um mundo de cálculo, da manipulação, da dominação, da ciência exata, da quantificação, do domínio da natureza, da utilidade, em uma palavra em mundo da objetividade, de um lado, e em mundo da subjetividade, de outro lado, constitui a base objetiva de que se originam periodicamente os esforços para realizar uma pretensa ou efetiva unificação ou integração da unilateralidade: a “lógica do coração”, de Blaise Pascal (1623-1662), ao dizer que “o coração tem suas razões, que a razão não conhece” (Pascal: 1979: 107).
A “consciência trágica” faz de Pascal um filósofo do paradoxo, tal como ocorrera em Kierkegaard, que põe em evidência a superação da ética e sua insuficiência, posto que “o homem não teria condições de ser autônomo, sua edificação exige a força de um terceiro”, e, posteriormente em Nietzsche, que não hesita, ao concluir em identificar o mundo como “vontade de poder” com o mundo “inteligível” da tradição metafísica de Platão a Kant, pois reconhece tudo o que havia de precioso e de definitivo no novo conhecimento científico e, simultaneamente, recusa-se radicalmente a considerar este mundo como a única perspectiva para o homem. O individualismo marca Pascal como marcou outros racionalistas um século depois, só que para estes o indivíduo constituía uma fortaleza racional, enquanto para Pascal ele seria “um abismo de miséria e de fraqueza”.
Ipso facto, ele não está afirmando que os sentimentos e a inteligência se opõem, mas que há duas maneiras de conhecer, como integração do método discursivo de Descartes, a veritas aesthetica como integração da veritas lógica, o transcendentalismo como superação do fisicalismo. Esta perplexidade da consciência é analisada na notável e atualíssima obra de Edmund Husserl, Die Krisis der europäischen Wissenschaften, ou, na edição The Crisis of European Sciences and Transcendental Phenomenology (1970), escrita pouco antes da 2ª Guerra Mundial. Em certo sentido pode-se considerá-la “como o despertar da consciência democrática diante da ameaça do fascismo”. Isto é importante.
Em um período posterior, Husserl começou a se debater com as complicadas questões da intersubjetividade (especificamente, como a comunicação sobre um objeto pode ser suposta como se referindo à mesma entidade ideal) e experimenta novos métodos para fazer entender aos seus leitores a importância da Fenomenologia para a investigação científica (especificamente para a Psicologia) e o que significa “pôr entre parênteses” a atitude natural. A Crise das Ciências Europeias é o trabalho inacabado de Husserl que lida mais diretamente com estas questões. Nele, Husserl pela primeira vez busca um panorama histórico do desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência, enfatizando os desafios apresentados pela sua crescente (unilateral) orientação empírica e naturalista. Veillons!
Bibliografia geral consultada:
CHAPLIN, Charles, Mis Primeros Años. Buenos Aires: Emecé Editores, 1981; MATOS-CRUZ, José de, Charles Chaplin, A Vida, o Mito, os Filmes (1981 - Vega - 2ª ed. 1987); WOOD, Stephen (ed.), The Degradation of Work? Skill, deskilling and the labour process. Hutchinson. London: Melbourne, 1982; TRONTI, Mario, Operários e Capital. Porto: Afrontamento, 1976; BRAGA, Ubiracy de Souza, “O Fordismo e a Racionalização do Trabalho no Brasil: Uma Análise Crítica”. In: Anais da 38ª Reunião Anual da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. UFPR – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1986; Idem, “Modernidades e Cultura de Fronteira”. Conferência escrita e falada na 4ª Reunião Especial da SBPC. Campus da UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana, BA, 24 a 28 de novembro de 1996; BERGER, Peter L, A Construção Social da Realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 21ª edição. [Por] Peter L. Berger e Thomas Luckmann. Petrópolis (RJ): Vozes, 1985; ROUSSELET, Jean, A Alergia ao Trabalho. Lisboa: Edições 70, 1976; LAFARGUE, Paul, “Testamento Político de Lafargue”. In: Le Socialiste, 3.10.1911; Idem, O Direito à Preguiça. 3ª edição. São Paulo: Kairós, 1983; Nova Enciclopédia Larousse 6. Ed. Leonel Oliveira. Lisboa: Círculo de Leitores, “Charlie Chaplin”, 1997, pp. 1647-1648; CAWTHORNE, Nigel, A vida sexual dos ídolos de Hollywood. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004, pp. 16-17; GUZZO DECCA, Maria Auxiliadora, A Vida Fora das Fábricas: cotidiano operário em São Paulo (1920-1934). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; IANNI, Octávio, Conferência Magistral: “O Realismo Mágico”. Texto escrito e falado no XVI Congresso Latino-Americano de Sociologia. UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2 a 7 de março de 1986; PASCAL, Blaise, Pensamentos/Blaise Pascal; introdução e notas de Ch.-M. des Granges. 2ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (Os pensadores); GIANNOTTI, José Arthur, Trabalho e Reflexão. Ensaios para uma dialética da sociabilidade. São Paulo: Brasiliense, 1984; DEJOURS, Christophe, A Loucura do Trabalho: Estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré, 1988; BRAVERMAN, Harry, “A Ciência da Produção: Fábrica Despolitizada”. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, 3 (6), 1983; ALBUQUERQUE, José Augusto Guilhon, Instituição e Poder. A Análise concreta das relações de poder nas instituições. Rio de Janeiro: Graal, 1980; COUTINHO, Carlos Nelson, “Cultura e Democracia no Brasil”. In: Encontros com a Civilização Brasileira. V. 17. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979; Idem, A Democracia como Valor Universal e outros ensaios. Rio de Janeiro: Editora Salamandra, 1984 entre outros.


Dr House e o método científico


O mestre do método científico
Marcelo Gleiser
O protagonista da série "House" é defensor da dedução lógica para chegar a uma conclusão racional
Imagino que a maioria de vocês conheça a megassérie da Fox, "House", agora em seu oitavo ano. Para quem não conhece, o enredo é mais ou menos assim: em um hospital perto de Princeton, nos EUA, trabalha o genial e genioso Dr. Gregory House -representado magistralmente por Hugh Laurie-, líder de um time de médicos especializados em diagnósticos complicados, aqueles que nenhum outro médico consegue decifrar.
À sua incrível intuição, o doutor House une sua irreverência e um conhecimento enciclopédico do corpo humano e de suas sutilezas. Excêntrico, não confia em ninguém, principalmente nos seus pacientes. Ele é um modelo do cientista dedicado à aplicação do método científico, defensor da dedução lógica para se chegar a uma conclusão racional. Na série, o rei é o método empírico.
Um paciente chega com uma série de sintomas misteriosos. House e seu time começam suas investigações, tentando antes as explicações mais óbvias. Em geral, estas falham e eles têm de pensar mais profundamente e, muitas vezes, de forma não convencional, sobre quais são as causas dos sintomas.
O primeiro passo é combinar toda a evidência disponível. Sua arma básica é o ceticismo. Fazem baterias de testes, coletando mais dados, tentando decifrar o quebra-cabeça. Uma causa plausível deve conectar todos os sintomas, dando sentido aos dados. De certa forma, cada diagnóstico é uma descoberta, uma ponte conectando informação de modo inesperado e inovador.
A ciência de ponta muitas vezes funciona da mesma forma: dados são obtidos, conexões são buscadas, hipóteses são construídas e testadas, comparando-as aos dados experimentais. Se funcionam, isto é, se explicam o que está ocorrendo, são aceitas preliminarmente até mais dados serem colhidos.
O processo de teste é contínuo, até que haja suporte suficiente para a hipótese. Ela é então aceita, até que novos dados possam vir a contradizê-la. A ciência avança por meio de seus fracassos. Novas ideias são necessárias quando as velhas não podem explicar as observações. Portanto, não há explicações finais, apenas explicações melhores.
Em "House", e na medicina em geral, quando uma hipótese diagnóstica é considerada razoável, medicação é receitada para curar a doença. Se funciona como é previsto, ótimo: o paciente fica curado e o médico vai em frente, tentando curar outros. Se não funciona, o processo começa outra vez. Na série, novas ideias são discutidas em reuniões de grupo, onde sintomas e resultados de testes são comparados e discutidos, hipóteses são propostas e debatidas em conjunto. Essas discussões são essenciais para que novas ideias surjam. Na pesquisa, é muito comum que ideias nascidas como conjecturas ganhem corpo e expressão. Mesmo que o doutor House em geral tenha razão, o processo é válido, e imita o que ocorre em laboratórios e centros de pesquisa pelo mundo afora.
Claro, o doutor que cura os outros não sabe como se curar. Ou não quer. É difícil combinar objetividade e subjetividade, algo que imagino que muitos telespectadores saibam. Talvez devamos ouvir as sábias palavras de Sócrates, que há mais de 24 séculos já dizia que o essencial é conhecer a si mesmo.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: http://goo.gl/93dHI

sábado, 19 de novembro de 2011

Edital UNILA, Antropologia e Ciência Política

Caros, encaminho a noticia, agradeço a divulgação e desejo boa sorte aos candidatos!

A partir de hoje até o dia 16 de dezembro estarão abertas as inscrições para 53 vagas do cargo de professor de 3º grau, para diversas áreas.

Maiores informações no Edital nº 006 (anexo).
Estão  no site da UNILA os arquivos do edital e da portaria normativa do concurso, bem como sistema de inscrições e cadastro dos candidatos.

Em anexo, os referidos arquivos.


Acesse. 
Divulgue.

Veja tambem a versão em espanhol.

Abraços

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

“Pelo olhar da dor” - o estado social da República das Filipinas.



                                                                                        Ubiracy de Souza Braga*

__________________
* Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).



           
       Por meio da história de duas avós, o cineasta Brillhante Mendoza mostra a dor do povo filipino (2009).

As Filipinas, oficialmente República das Filipinas (em Filipino: Repúbliká ng̃ Pilipinas), são um vasto arquipélago da Insulíndia delimitado pelo Mar das Filipinas a leste, Mar de Célebes e Mar de Sulu a sul e Mar da China Meridional a oeste. O Estreito de Luzon, a norte, separa as Filipinas de Taiwan, o Estreito de Balabac, a sudoeste, é uma das fronteiras marítimas com a Malásia, e há também fronteira marítima com a Indonésia, a sul. Também Palau se situa nas imediações, para sudeste. A sua capital é Manila. O nome oficial do país é República das Filipinas, Repúbliká ng̃ Pilipinas. Ao contrário dos demais países da Ásia, as Filipinas são um país maioritariamente cristão.
Muitos historiadores acreditam que as Filipinas foram colonizadas no Paleolítico, quando “um povo asiático atravessou por meio de embarcações de madeira o caminho que leva à região”. Descobertas mais recentes parecem indicar que as ilhas podem ter sido habitadas desde a era pleistocênica. A primeira grande corrente migratória chegou a essa região através do sul. Acredita-se que esses imigrantes eram de origem indonésio-caucasiana, possuindo um grau de civilização “mais adiantado” que as tribos nativas. Posteriormente, ocorreram mais duas grandes correntes migratórias. Cada  nova  corrente sucessivamente impeliu os habitantes originais ou nativos a procurarem terra ao norte. A corrente migratória seguinte, cujo apogeu se deu no século XIV, veio do reino madjapahit e trouxe consigo a religião muçulmana.
            A unidade social básica nas Filipinas é tradicionalmente à família, base de tudo, frequentemente que inclui os avós e outros parentes. Em casas tradicionais, homens são “as cabeças das casas” e são responsáveis para o bem estar financeiro da família. Porém, não são restringidas as mulheres criar as crianças, elas trabalham frequentemente fora da casa. As mulheres Filipinas trabalham em uma grande variedade de ocupações e dirigem seus próprios negócios. Crianças Filipinas aprendem cedo a cuidar das suas funções na família deles. Eles aprendem que eles devem, em troca, cumprir suas obrigações perante a família. Como crianças, as responsabilidades deles incluem “respeito aos anciões, ao cuidado de irmãos mais jovens, o desempenho de tarefas domésticas, e comportamento que trará honra para a família”.
            A República das Filipinas é a única nação predominantemente Cristã na Ásia e tem uma herança sem igual de culturas malaias, espanholas, e americanas. O Islã e Budismo são as religiões dominantes da região.  Por outro lado, a herança espanhola é visível em outras características de vida nacional. Por exemplo, aproximadamente 85% da população são católicos romanos; há predominância de nomes de lugares e nomes de família espanhóis. Aproximadamente 3% pertencem a denominações protestantes trazidas para as ilhas por missionários durante a era de regra americana. Duas denominações Cristãs de origem local também emergiram: Ni de Iglesia Cristo (Tagalog para “Igreja de Cristo”) e o Aglipayan ou “Igreja Independente Filipina”. As contas de grupos anteriores para quase 1.5% da população, e a Independente, 4%. A Igreja Independente Filipina nasceu em 1888, ideologicamente falando, “como um protesto contra dominação da Igreja católica romana através de clero espanhol”. Não obstantes, permaneceram católicos na prática. Ni de Iglesia Cristo foi fundado em 1914 e hoje é um “de perto tricote e seita muito nacionalista”. Seu distintivo pode ser achado em edifícios de grandes igrejas modernas, caiados por toda parte nas cidades grandes das ilhas Filipinas. Sem dúvida o maior está em Cidade de Quezon perto da Universidade do campus de Filipinas.
Este edifício também aloja a sede internacional da denominação. O Islã apareceu primeiro nas Filipinas meridional no século XIII ou XIV. Os primeiros muçulmanos para chegar provavelmente eram os comerciantes do Oriente Médio ou de áreas vizinhas do que é hoje a Indonésia e a Malásia. Uma história longa de estrondos entre os espanhóis mais poderosos e numerosos e os muçulmanos impediram o Islã de estender sua influência nas ilhas centrais do norte. Não obstante, nem os espanhóis, os americanos, nem os Filipinos cristãos poderiam desalojar os muçulmanos da pátria deles em Mindanao e o Arquipélago de Sulu. Muçulmanos fazem agora para cima aproximadamente 4% da população. Os budistas e outras religiões respondem por 2% da população.
                
Alunos andam nus para festejar aniversário de 107 anos de universidade filipina.
O modo do pensamento histórico é o do sempre possível presente na narração (cf. Braga, 2011) da hipotipose do passado. Não deriva a “compreensão” em história do fato de que eu posso sempre moldar a minha reflexão presente e a trama da minha meditação pela lógica das décadas passadas? A analogia ou a homologia muda simplesmente de nome e chama-se aqui “método comparativo”, daí a intenção de compreender o estado social da República das Filipinas. Pois, é pelo presente da narração que se reconhece a estrutura histórica. Todavia, a repetição cíclica das antíteses pelo artifício da hipotipose não chega a caracterizar a estrutura. O imaginário quer ainda mais que um presente da narração, a compreensão exige que os contraditórios sejam pensados, ao mesmo tempo e sob a mesma relação, numa síntese.  Foi sobre esse fator que o Hegel de 1807, insistiu, e Marx configurou em sua essência, nos casos históricos em que se debruçou. Enfim, todo “protótipo representativo” do estudo histórico parte sempre de um esforço sintético para manter ao mesmo tempo na consciência termos antitéticos.
Historicamente, Fernão de Magalhães, um navegador português a serviço do Rei de Espanha, descobriu as ilhas no século XVI, introduzindo-as ao cristianismo. Os espanhóis estabeleceram sua capital em Manila a partir de 1571, garantindo seu domínio por mais de trezentos anos. O herói nacional das Filipinas, o linguista, escritor, artista, médico e cientista José Rizal iniciou um movimento reformista. Ao mesmo tempo, uma sociedade secreta chamada Katipunan, “chefiada por Andrés Bonifácio, começou a revolução social, dando aos conquistadores espanhóis a desculpa que precisavam executar Rizal, que se encontrava em exílio em Dapitan, Mindanao (sul do país)”.  Ele foi trazido a Manila para julgamento e condenado à morte, embora não se tenha prova de sua participação na revolta. Sua morte, porém, estimulou ainda mais essa revolução, levando o General Emílio Aguinaldo a declarar no dia 12 de Junho de 1898 a Independência do país e proclamar a primeira Repúbliká ng̃ Pilipinas.
                          
 Linguista, escritor, artista, médico e cientista José Rizal (1861-1896).       
            José Protasio Rizal Mercado y Alonso Realonda (1861-1896), foi um nacionalista filipino, o mais proeminente defensor de reformas nas Filipinas durante o período colonial espanhol e de sua eventual Independência da Espanha. José Rizal foi porta-estandarte da Guerra da Independência das Filipinas. Pertencente a uma família rica de plantadores de ascendência chinesa, nasceu em 1861 e estudou medicina em Madrid. Foi aí que começou a luta pela Independência, que acabou a 30 de Dezembro de 1896, com o seu fuzilamento. No lugar onde foi fuzilado, ao lado das muralhas do Forte Santiago, situa-se um dos maiores parques da Ásia, o parque Rizal, “dedicado a ele em 1913, que é o pulmão da cidade e que conta com uma estátua de 15 metros de altura, erguida junto ao seu túmulo”.
Naquele mesmo ano, a plutocracia dos Estados Unidos adquiriram as Filipinas através do Tratado de Paris, levando o país a ser dominado politicamente por 48 anos. Após uma guerra por sua Independência que durou cerca de três anos, houve outra pelo mesmo motivo que durou cerca de quatro anos. Contudo, as Filipinas lutaram junto à bandeira americana contra o Japão na Segunda Guerra Mundial. A heroica batalha em Bataan ajudou a impedir o avanço das tropas japonesas em direção à Austrália. Após um breve período como um protetorado americano, os Estados Unidos tentaram mudar em 1946 o dia da Independência das Filipinas para “4 de julho”, dia da Independência dos Estados Unidos. Os americanos quiseram que os filipinos acreditassem que os Estados Unidos já tinham dado a Independência filipina, mas a história não mudou. As Filipinas já tinham mobilizado sua luta política pela Independência antes que os americanos chegassem ao país e assim os americanos apresentaram sua versão de Independência como “metrópole de força”, para lembrarmo-nos da expressão de Saddam Hussein. Os filipinos atualmente celebram sua data da Independência no dia 12 de junho. As Filipinas tiveram suas primeiras eleições automatizadas dia 10 de maio de 2010.
Ferdinand Emmanuel Edralín Marcos (1917-1989) foi um político e advogado filipino, presidente de seu país de 1965 a 1986. Casado com Imelda Marcos, ex-vencedora de concurso de beleza nas Filipinas, que também ficou conhecida por sua grande coleção de sapatos. Foi eleito para a Câmara dos Representantes, em 1949, e para o Senado em 1959. Depois de ter perdido as eleições presidenciais como candidato do Partido Liberal em 1964, veio a ser eleito presidente como candidato do Partido Nacionalista ainda em 1964, sendo reeleito em 1969 e ainda em 1981. Durante o seu governo realizaram-se reformas econômicas e sociais, assim como elaborou uma nova Constituição em que atribuía mais poderes à Presidência. A forte oposição levou-o a prender os seus líderes opositores e a instaurar a lei marcial, iniciando uma guerra de guerrilha pelos maoístas e separatistas muçulmanos. Levantou a lei marcial em 1981, mas, no entanto, a corrupção do Governo aumentou, bem como a pobreza e a guerrilha.
Meu leitmotiv ao estudar literatura e história, tem me fascinado pelos paralelos que existe entre a vida e a obra dos personagens da história política mundial contemporânea, mas fora dos biografismos como se têm constituído. Refiro-me, neste caso, a José Rizal Alonso (1861-1896) e José Martí Pérez (1853-1895), heróis respectivamente da Independência das Ilhas Filipinas e de Cuba. Eles também se dedicaram como heróis nacionais de seus respectivos povos e inspirado, em seguida, o patriotismo e o progresso de seus compatriotas. Melhor dizendo,
Martí cayó en la batalla de Dos Ríos, en 1895, luchando contra las tropas colonialistas españolas, mientras que José Rizal fue fusilado en 1896 por las tropas colonialistas españolas que ocupaban las islas Filipinas. En consecuencia, no podían ser más coetáneos, aunque José Martí nació ocho años antes que José Rizal”.
Geralmente, os artigos são publicados em comemoração ao desastre de 1898 tendo como escopo as questões hispano-cubana, relegando a questão da perda das Filipinas para a Espanha. No entanto, por causa de seus recursos de tamanho da população, e natural, o arquipélago das Filipinas para a Espanha poderia ter representado uma importante posse colonial de Cuba e Porto Rico. No entanto, a oligarquia espanhola nas Filipinas cometera erros semelhantes aos feitos pelo Mar do Caribe.
            Conhecer a verdade é “ver com os olhos da alma”, ou, com os “olhos da inteligência” no sentido acadêmico. Assim como o Sol dá sua luz aos olhos e às coisas para que haja “mundo visível”, assim também a ideia suprema, a ideia de todas as ideias, o Bem (isto é, a perfeição em si mesma) dá à alma e às ideias sua bondade (sua perfeição) para que haja “mundo inteligível”. Assim como os olhos e as coisas participam da luz, assim também a alma e as ideias participam da bondade (ou perfeição) e é por isso que a alma pode conhecer as ideias. E assim como a visão é passividade e atividade do olho, assim também o conhecimento é passividade e atividade da alma: passividade, porque a alma precisa receber a ação das ideias para poder contemplá-las; atividade, porque essa recepção e contemplação constituem a própria natureza da alma. Assim como na treva não há visibilidade, assim também na ignorância não há verdade. A e a são para a alma o que a cegueira é para os olhos e a escuridão é para as coisas: são privações (privação de visão e privação de conhecimento), como tem ocorrido no estado do Ceará. As elites estão emburrecendo, “dando tiros nos próprios pés”, para lembramos expressão da filósofa Marilena de Souza Chauí quando deu um puxão de orelhas no scholar Fernando Henrique Cardoso, mas que não trataremos agora.
            O Filipino, idioma nacional das Filipinas, está baseado no idioma de Tagalog. O Inglês que foi ensinado cedo nas ilhas desde a conquista americana é o segundo idioma mais comum, estes são os dois idiomas oficiais do país. São ensinados ambos os idiomas nas escolas, embora o inglês permanecesse o médio primário de instrução. Regido pela Espanha durante quase 330 anos até 1898. Porém, inversamente proporcional, o idioma espanhol é falado por menos que 1% da população, apesar do regime colonial longo da Espanha. A influência colonial americana prevaleceu de aproximadamente 1901 até 1940. Naquele período havia um sistema educacional americano e, com isto, o inglês falado hoje é considerado como um segundo idioma. Aproximadamente dois quintos da população falam o inglês junto com o Filipino, idioma derivado do Tagalog, repetimos. O inglês é um dos dois idiomas oficiais. As Filipinas, como o Sudeste asiático, geralmente tem na diversidade a “maquiagem étnica e linguística”, na falta de melhor expressão. Existem aproximadamente 90 idiomas indígenas e dialetos. Só oito destes idiomas têm mais de 1 milhão de locutores cada.
            Enfim, as Filipinas já reconheceram o fato de que os Estados Unidos travaram uma guerra de agressão contra os filipinos, e realmente comemoram batalhas, contra soldados dos EUA, fazendo heróis os soldados filipinos. Nas Filipinas lembra-se também dos massacres de civis filipinos por soldados dos EUA. A Comissão Histórica Nacional das Filipinas faz parte do governo das Filipinas. Sua missão é “a promoção da história das Filipinas e do património cultural através da investigação, conservação, gestão, divulgação de sites e obras de heráldica”. A Comissão nos dias de hoje foi criada em 1972, como parte da reorganização do governo após declaração da lei marcial pelo presidente Ferdinand Marcos, mas as raízes do instituto são de 1933.
            Um verdadeiro teste para a hipótese psicossocial da memória, afirma Eclea Bosi,
“encontra-se no estudo das lembranças das pessoas idosas. Nelas é possível verificar uma história social bem desenvolvida: elas já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e conhecidas; elas já viveram quadros de referência familiar e culturais igualmente reconhecíveis: enfim, sua memória atual pode ser um pano de fundo mais definido do que a memória de uma pessoa jovem, ou mesmo adulta, que, de algum modo, ainda está absorvida nas lutas e contradições de um presente que a solicita muito mais intensamente do que a uma pessoa de idade (Bosi, 1979, pp. 60 e ss.).
            Antes de ser apenas mais um olhar lamentável da realidade de um país, “Lola” é a louvação de um povo. Lola, na língua filipina, quer dizer avó. E essas avós, Sepa e Puring, expressam a dor e o sentimento dessas mulheres idosas na idade, mas lúcidas na experiência de vida, que tentam: a) manter a união familiar, b) superar as divergências e c) repassar aos netos a grandiosidade da honestidade com um gesto nobre e único na vida. Com a fé na religião e a esperança de tudo se ajeitar no futuro, essas mulheres enfrentam suas batalhas de amor entre o desprezo dos governantes e a indiferença da lei. No mundo da miséria, qualquer dinheiro acalma a dor. E diante da miséria o cineasta filipino, em menos de meia hora, faz uma radiografia comovente da realidade social do país.

Bibliografia geral consultada.

LEROI-GOURHAM, A., Archéologie du Pacifique Nord. Matériaux pour l`étude des relations entre les peuples riverains d`Asie et d`Amérique. Institut ethnologique. Paris, 1946; ELIADE, Mircea, História das Crenças e das Ideias Religiosas. Vol. 1. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2010; BOSI, Ecléa, Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979; GARCIA, Silvana, A Trombeta de Jericó. Tese de Doutorado em Ciências. São Paulo: ECA/USP, 1997; HERRIGEL, Eugen, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. 15ª edição. São Paulo: Editora Pensamento, 1998; IANNI, Octávio, “Racialização do Mundo”. In: Tempo Social. Revista de Sociologia da USP. Volume 8, n˚ 1, maio de 1996; KOJÈVE, Alexandre, Introduction à la lecture de Hegel. Paris: Éditions Gallimard, 1973; LIBERMAN, J., Démythifier l` universalité des valeurs américaines. Paris: Parangon, 2004; LINS, Daniel Soares, “Famílias, Famílias...”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 1995; MASLOW, A, El Hombre Autorrealizado. Barcelona: Editora Kairós, 1993; POSTMAN, Neil, O Desaparecimento da Infância. Rio de Janeiro: Editora Graphia, 1999; RODRIGUEZ, Ivan, Para una Sociologia de la Infância - aspectos teóricos y metodológicos. Madrid: C. I. S, 2007; ROUDINESCO, Elisabeth, A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003; SMITH, Dan, O Atlas do Oriente Médio. O Mapeamento Completo de Todos os Conflitos. São Paulo: Publifolha, 2008, entre outros.