quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um ensaio sobre a greve dos sociólogos (URGENTE)





[…] alguma coisa existe na ausência. (Pierre Clastres)


*Pedro Mourão
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*Graduado em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).



Todas as manhãs dos últimos dias úteis eu levantei com a esperança de uma criança que vai viajar, e fui ler o jornal, depois de ler as noticias eu procurava anúncios de vaga de emprego para cientistas sociais (sociólogo, cientista político e antropólogo).

Para minha desilusão quase nenhuma surge, o que está mais para “nenhuma” do que para “quase”.
De repente um amigo me envia um vídeo da greve dos trabalhadores da construção civil, ou como as camadas sociais enriquecidas gostam de chamar  “os peões”.
Percebi que esse trabalhadores tem um grau de organização, consciência prática de política e percepção do poder da coletividade e consciência de classe exemplares.
Apesar dos casos de vandalismo e agressões de poucos, eles conseguem movimentar uma categoria inteira em busca dos seus direitos de forma assustadora, como uma onda que aos poucos transforma a sólida vontade dos patrões em areia.
      Eles perceberam que se não baterem de frente com a vontade dos que querem lhes oprimir, se não  mostrarem o poder que tem de mobilizar os colegas em torno de uma causa, dificilmente iram conseguir algo dos poderosos.
Mas e o diálogo? O diálogo é uma ferramenta sócio política que se utiliza para tratar com os “iguais”. O convencimento é a ferramenta que historicamente foi construída para dominar os “outros”. Uma vez vi em um filme uma vitima perguntar ao agressor porque ele fazia aquilo. Ele sorriu e respondeu: - Porque eu posso!
Enquanto patrão perceber que pode oprimir o trabalhador sem sofrer consequências ele irá fazer.
Dificilmente no atual estado em que a categoria dos sociólogos se encontra no Ceará e no Brasil, conseguiríamos um diálogo para reivindicar, sejam vagas em concursos ou que uma empresa respeite a lei que protege a obrigatoriedade da vaga dos sociólogos.
Antes de conseguirmos um diálogo entre possíveis “iguais” seria necessário que mostrássemos o nosso poder enquanto classe trabalhista.
Mas nós somos uma classe trabalhista?
Vejo dezenas de cientistas sociais trabalhando em outras áreas, sozinhos em órgãos públicos e sem terem colegas para compartilhar a situação que vivem.       
A falta de conhecimento específico sobre as atribuições do sociólogo gerou essa perca da identidade.
O arte-educador, o burocrata estatal, o guarda municipal, o policial, o oficial de justiça, o bancário, o taxista, o produtor cultural que é formado como cientista social não usa a sociologia em seu trabalho???
Ao acreditarmos na mentira de que não usamos em nossos trabalhos nada do que aprendemos nas Ciências Sociais, perdemos a nossa consciência de classe.
Fazer ciência social não é uma prática mecânica de  fácil definição. Ciências sociais são um forma de enxergar, pensar e fazer social que reflete sobre a dinâmica das sociedades.
 Mas para fazer isso é necessária uma faculdade?
Acredito que a faculdade vai dar um padrão mínimo para os profissionais, por isso se faz necessário ter uma faculdade que resguarde esse conhecimento.

Mas seria possível uma greve de sociólogos?
Sim
Mas somente se nós deixarmos nosso egoísmo de lado e começarmos a perceber o poder que a mobilização coletiva tem.
Não é si dizendo antropólogo, ou cientista político que iremos nos afirmar enquanto profissionais. É no trabalho que o trabalhador se fabrica e é pelo fruto que se conhece a árvore.
O egoísmo profissional, a busca cega pela distinção enfraquece a força coletiva que os Cientistas Sociais têm como trabalhadores.  

O destino de um é compartilhado por todos.

Há tempos aprendi que como profissional não estou disputando com a professora Irlys Barreira, presidenta da Sociedade Brasileira de Sociologia. A única pessoa com a qual eu estou disputando sou eu. Para me renovar, crescer e aprimorar minhas habilidades como cientista social que sou.

Mas seria possível uma greve de sociólogos?
Só será possível quando percebermos que estamos todos na mesma situação,
do professor universitário ao colega que se tornou policial, o sociólogo que trabalha na UNESCO ao colega que está desempregado.
 Apesar de que alguns estão melhores que outros,
ainda sim ESTAMOS TODOS NA MESMA CANOA.

Acredito que essa lição ainda precisamos aprender.

OS.: Como profissional e humanista que sou, detestaria saber que meus alunos estão se formando para ficarem desempregados,  trabalhando precariamente ou em subempregos.

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