terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ciências Sociais, Por Que?

sábado, 26 de janeiro de 2013

Documentário Cidadão Boilesen

O documentário Cidadão Boilesen de Chaim Litewski, montado por Pedro Asbeg, conta a história do empresário. O documentário afirma que Boilesen era um cidadão marcado pelas ambiguidades e paradoxos típicos dos seres humanos. O filme vai até a Dinamarca, visita os arquivos de histórico escolar da escola onde Boilesen estudou quando criança e adolescente no início do século passado; além de entrevistar amigos, colaboradores civis e militares do empresário, o filho mais velho deste, o cônsul americano em São Paulo à época dos acontecimentos e um dos militantes que participaram da morte de Boilesen. Contém ainda depoimentos de figuras como o ex-Presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso, o ex-governador de São Paulo Paulo Egídio MartinsErasmo Dias e do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, entre outros personagens importantes da época. O filme debate fartamente o hábito do empresário de assistir as sessões de tortura, confirmado por testemunhos de militares e militantes da época.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Chamada de artigos, resenhas, relatos de experiência e análise de filmes e músicas

Revista Café com Sociologia está com chamada para publicação. ISSN: 2317-0352




Podem ser enviado: 

  • Artigo
  • Resenha
  • Relato de experiência
  • Análise sociológica de Filme ou Música
  • Textos livres


Data limite: 28 de Fevereiro de 2013
Os envios devem ser realizados pelo site da revista.
Mais informações em: http://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mulher, eleição, educação e poder: Entrevista com a Profª Drª Danyelle Nilin Gonçalves


ENTREVISTA COM A PROFª DRª DANYELLE NILIN GONÇALVES
22 DE JANEIRO DE 2013


 
Ela possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (1999), mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2001) e doutorado em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (2006). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal do Ceará e membro de laboratório de pesquisa da mesma universidade. Tem experiência na área de Ciência Política e Sociologia Política atuando principalmente nos seguintes temas: anistia, campanhas eleitorais, memória, ditadura militar e educação.
http://lattes.cnpq.br/3467578535972274



Pedro Mourão
Qual foi seu primeiro contato com as Ciências Sociais?

Danyelle Nilin Gonçalves
O primeiro contato de fato foi com a entrada no vestibular.
Quando estava no pré-vestibular não tinha essa discussão
e nem tive Sociologia durante o ensino médio.
Mas, pensando bem, eu sabia que o FHC era sociólogo e adorava o Betinho
da Campanha contra a Fome.
Achava que o Betinho era uma figura muito interessante, muito sensível.

Pedro Mourão
O senso comum já lhe apresentou as Ciências Sociais então?

Danyelle Nilin Gonçalves
Isso mesmo. Como sempre fui leitora voraz e como a questão política sempre permeava as discussões lá em casa acabei conhecendo esses dois sociólogos.

Pedro Mourão
Sua família tem ligação com a política local?

Danyelle Nilin Gonçalves
Não. Mas na verdade, sempre fomos simpatizantes do PT
e como a minha mãe era presidente do Conselho da Mulher
e depois do Conselho da Criança sempre estivemos envolvidos com essa questão.

Pedro Mourão
Alguém mais na sua família é cientista social?

Danyelle Nilin Gonçalves
Não, somente eu. Minha mãe fez Letras, eu fiz Ciências Sociais, minha irmã fez Serviço Social
e meu irmão fez vários cursos até conseguir terminar um, de Gestão de Pessoas.
Minha irmã é bióloga e na família ampliada, tem jornalista, advogado, médico,
Mas nenhum cientista social.

Pedro Mourão
E na graduação, como foi que se deu sua entrada no ramo da Sociologia Política?

Danyelle Nilin Gonçalves
Entrei nas Ciências Sociais com essa questão do Betinho.
Estava naquela época de querer fazer a diferença no mundo.
Assim que entrei, tive um pouco de choque, porque não conseguia entender muito do que se falava.
Esse é um problema até hoje, para muitos.
Passei o primeiro ano "viajando na maionese" e aproveitando a vida universitária.
Entenda-se, festas, bebedeiras, etc.

Pedro Mourão
Normal de todo jovem.

Danyelle Nilin Gonçalves
No 3º semestre apareceu uma vaga para bolsista da Irlys Barreira
http://lattes.cnpq.br/1873147390513866
Eu só sabia que seria para entrevistar lideranças comunitárias.
Eu entreguei meu histórico e fui pra seleção.
Acho que ela gostou do meu interesse porque havia outra candidata com o IRA (Índice de Rendimento Acadêmico) maior que o meu, mas eu ganhei a vaga.
A partir daí, me encontrei no curso.
Me foquei, passei a ser uma aluna interessada e passei a perceber a importância da pesquisa.
Fizemos 60 questionários nas periferias de Fortaleza, algo muito bom porque pude conhecer a cidade de fato.
Como muitas dessas lideranças iam se candidatar ou apoiar alguém, resolvemos ampliar a pesquisa.
Então chegou o momento eleitoral e aí passamos a acompanha-las nos eventos e nos programas eleitorais.
Sempre gostei de programa eleitoral, portanto, não era problema assisti-los.
Em 1996, na disciplina de Teoria Antropológica, a Professora Simone Simões (http://lattes.cnpq.br/8580516535075460 ) queria que a gente fizesse uma etnografia
e eu fui pesquisar as candidatas a vereadoras em Russas, minha cidade.
Fiz entrevistas, questionários e acompanhei algumas delas nos comícios, reuniões, etc.
Quando chegou o momento de fazer a monografia, decidi pesquisar um fenômeno que me instigava que eram as candidaturas que não tinham chance real de vitória, mas que marcava um lugar no HGPE (Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral). Essas candidaturas eu denominei de "outsiders" como o Enéas Carneiro, o João Oliveira, e vários vereadores que usavam do sarcasmo, do ridículo, do riso para se apresentarem no programa eleitoral.

Pedro Mourão
Geralmente escolhemos o objeto de pesquisa por afetividades (positivas ou negativas) que temos pelo objeto de estudo. Então a sua monografia "Em nome do voto-discursos e estratégias dos outsiders." se liga a isso?

Danyelle Nilin Gonçalves
Isso mesmo. Gostava do horário eleitoral e queria escrever sobre algo que não se escrevia muito, que era sobre isso. Hoje já tem mais estudos sobre essa temática, mas não época não consegui achar nada.
Enfim, era um bom tema a ser explorado.
Fiz o trabalho e imediatamente fiz o projeto do mestrado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Para a seleção fiz uma proposta para analisar os discursos do Juraci Magalhães e do Tasso Jereissati, mas quando entrei no mestrado, percebi que não teria tesão para levar adiante esse tema.

Pedro Mourão
Por quê?

Danyelle Nilin Gonçalves
Isso foi em 2000, quando fui chamada a ir para o México com a Irlys.
Não sei, tesão a gente tem ou não tem e eu não tinha.
Fiz o projeto, mas na verdade não tava a fim de analisar discurso.
Enfim, fui para o México acompanhar as eleições gerais e lá encontrei o objeto de pesquisa.



Danyelle Nilin Gonçalves
Então, no México encontramos uma realidade bem diferente das eleições aqui no Brasil.
Era um momento central da vida dos mexicanos porque poderia haver alternância de poder depois de 70 anos. Havia uma expectativa grande e muitos jovens se mobilizaram, por isso entrevistei jovens na universidade alguns céticos, outros confiantes no processo.
Quando encontrei um grupo de mulheres que trabalhava na campanha de um candidato, fui conhecer seu trabalho e aí descobri que na campanha mexicana, muitos jovens estavam sendo destacados para agenciar votos.
Quando voltei ao Brasil percebi que nos cruzamentos de ruas muitos jovens faziam a publicidade dos candidatos. Nos comícios eram eles quem agitavam as bandeiras, cantavam as músicas, etc. Passei a acompanhar dois grupos e percebi que era uma atividade central nas campanhas e que estava sendo feita por jovens.
Passei a querer entender o que isso representava para as campanhas eleitorais.
No mestrado, você estudou "Jovens na política: animação e agenciamento em campanhas eleitorais."
Qual era sua tese central?


Danyelle Nilin Gonçalves
A grande questão é essa: como os jovens são recrutados no momento eleitoral, que atividades desenvolvem e que disputas surgem em torno do fato de alguns deles serem remunerados. Passei a perceber essa atividade como festa, como trabalho e como ideologia.
Pedro Mourão
Então esse trabalho se aproxima da Antropologia da política?
Quais eram seus principais autores na época?

Danyelle Nilin Gonçalves
Sim, se aproxima. Inclusive porque na época estava tendo um Pronex (http://memoria.cnpq.br/programas/pronex/index.htm ) que era um grupo muito bom de antropólogos de várias instituições do Brasil que pesquisavam as eleições.
Foi muito rico esse momento.

Como essa temática da juventude e política em campanhas eleitorais não era um tema estudado, não havia autores centrais para isso. Mas trabalhei com Moacir Palmeira, Beatriz Heredia, Márcio Goldman, Karina Kuschnir, Gabriela Scotto, Irlys Barreira, esse grupo do NUAP (Núcleo de Antropologia da Política) http://nuap.ppgasmuseu.etc.br/ .
A dissertação me deu muito prazer, apesar de ter tido tendinite.
Até hoje gosto muito dela. Depois que saí da dissertação fui fazer o projeto do doutorado e aí decidi sair da temática das eleições. Fui para outro tema que me inquietava desde a adolescência: ditadura militar.
Decidi pesquisar a indenização aos ex-perseguidos políticos, de 2001 a 2006 pesquisei intensamente isso.

Pedro Mourão
Vc fez algo muito ousado e desgastante para maioria das pessoas.
Fez graduação, mestrado e doutorado praticamente sem intervalos.
Como foi esse desafio?

Danyelle Nilin Gonçalves
Bem cansativo e inclusive não recomendo para ninguém.
Acho que temos que ter um intervalo até para amadurecer as ideias
mas enfim, fiz e estou viva. Fiz uma pesquisa bem intensa e legal sobre esse processo e fui à Argentina para conhecer os perseguidos políticos de lá.

Pedro Mourão
E porque você não se deu esse intervalo?

Danyelle Nilin Gonçalves
Não dei o intervalo porque estava no embalo e achava que o mundo ia se acabar se eu não fizesse, depois vi que nem é verdade.

Danyelle Nilin Gonçalves
Tinha a pretensão inicial de fazer uma pesquisa comparativa sobre a Argentina, o Chile e o Brasil, mas depois percebi que não seria possível. Farei um dia....
Enfim, fiz a tese que também é um trabalho que eu gosto muito e depois que eu entrei na universidade, voltei pra minha temática original que são as mulheres na política.

Pedro Mourão
No seu doutorado, você trabalha a questão da ditadura militar e as indenizações aos presos e parentes de presos políticos. (O preço do passado: Anistia e reparação de perseguidos políticos no Brasil)
Como surgiu essa ideia?

Danyelle Nilin Gonçalves
Surgiu de uma matéria no jornal. Na verdade, na dissertação me chamou a atenção o fato de que a esquerda não consegue lidar tranquilamente com dinheiro. Ela vê o dinheiro como algo sujo, algo que mancha as relações. Quando vi que os anistiados iriam receber dinheiro e que muitos deles eram de esquerda achei que seria interessante estudar como eles resolveriam essa questão.

Pedro Mourão
De fato foi? O que a pesquisa revelou?

Danyelle Nilin Gonçalves
Primeiro, eles não são homogêneos, alguns recebem, outros não e existem diferentes motivações apresentadas por eles.
A partir daí descobri mais questões: de que esse processo aciona questões jurídicas, sociais, morais, administrativas. Diz respeito ao passado, à imagem que se tem do que foi feito no passado, remonta às lutas, às noções de heroísmo, de vencedor, e envolve mais gente do que somente os anistiados e suas famílias.

Pedro Mourão
Podemos falar em um Romantismo Marxista?

Danyelle Nilin Gonçalves
Para alguns somente. Para outros, a questão é diferente.
Talvez nem seja marxismo, acho que a esquerda é muito franciscana aqui no Brasil.
A questão do dinheiro é pesada, não é algo tranquilo.

Pedro Mourão
Uma noção de moralidade subjacente ao dinheiro pode ser lida através da teoria da Dádiva de Marcel Mauss? Os esquerdistas talvez não queiram esse vínculo com o governo no sentido de estabelecer laços de troca?

Danyelle Nilin Gonçalves
Alguns sim, mas não é só isso.Essa é uma das motivações apresentadas, mas existem várias outras. Não se deixa de aceitar dinheiro só por não querer receber dinheiro do governo, mas porque não se quer lembrar-se do passado. Porque não quer se sentir um combatente. Porque é pouco dinheiro para muito sofrimento. Enfim, são várias motivações distintas.Foram elas que apareceram nas falas dos meus entrevistados.

Pedro Mourão
Podemos falar que esse "franciscanismo" na esquerda é um fato social a lá Durkheim?

Danyelle Nilin Gonçalves
Sinceramente, nem sei responder.
Tem mais a ver com as origens dessa esquerda e da militância dos movimentos eclesiais, da AP (Ação Popular) e de coisas que viveram na ditadura também. O dinheiro aparecia como algo maldito.

Pedro Mourão
Talvez a visão marxista negando o capitalismo possa ter relação com isso. Visto que o dinheiro é o símbolo máximo do capitalismo.

Danyelle Nilin Gonçalves
Sim, também. Junta as duas coisas.

Pedro Mourão
E onde entra na sua trajetória o binômio: gênero e política?

Danyelle Nilin Gonçalves
Desde o início da minha vida acadêmica, desde 1996 pesquisávamos as mulheres em campanhas eleitorais. Quando voltei à universidade, agora como professora, voltei ao tema antigo.

Pedro Mourão
Existe uma auto-identificação entre você e o objeto?

Danyelle Nilin Gonçalves
Não, nesse caso, nenhuma. Gosto demais da temática, mas como curiosidade intelectual para entender como as mulheres aparecem nesse cenário o que querem, o que fazem. Como se apresentam, que dilemas enfrentam, como constroem discursos de diferença em relação aos homens.

Pedro Mourão
Sua ascensão no campo intelectual lhe coloca hoje numa posição de prestigio e poder. Isso tem alguma relação com seu objeto de estudo? O campo acadêmico pode ser encarado como um campo político (de disputas pelo espaço e pela a verdade legitima)?

Danyelle Nilin Gonçalves
Eu relativizo muito esse poder e prestígio. Nem acho que os professores tenham tanto poder e prestígio assim, só em algumas situações.

Pedro Mourão
Assim como na política, na universidade existe também um preconceito contra a mulher intelectual?

Danyelle Nilin Gonçalves
Se há, ele é velado. Nunca percebi preconceito.

Pedro Mourão
Você já ouviu algum caso?

Danyelle Nilin Gonçalves
Mas é fato que as mulheres que são intelectuais, são donas de casa, mães e que não necessariamente dividem as tarefas cotidianas com seus maridos. Isso pode dificultar a vida de algumas. Não, mas não duvido que tenha, já que a universidade é um espaço que, como qualquer outro, está sujeito aos preconceitos, aos conflitos e às disputas. Imagino que para algumas mulheres ascenderem em suas carreiras seja mais difícil por algumas dessas questões e de outras também. No meu caso, não sofro preconceito e penso que estou construindo a minha carreira independente desse fato.

Pedro Mourão
Sua produção cientifica é volumosa e invejável. Como você lida com esse desdobramento, a Danyelle cientista e a Danyelle pessoa com vida social (ou não) risos?

Danyelle Nilin Gonçalves
Sério?????????? Não sabia (risos). Bem, na verdade tento ter uma vida normal.

Pedro Mourão
O "tento" é uma palavra forte..(risos)

Danyelle Nilin Gonçalves
Mas obviamente, às vezes não dá para sair ou fazer nada no final de semana. Se tem um resumo para enviar, um artigo para fazer ou trabalho dos alunos para corrigir, minha vida social fica comprometida. Em geral, sei organizar meu tempo de modo que eu possa fazer as coisas que me dá prazer, além do trabalho. É tentar mesmo, porque nem sempre é possível.
Mas enfim, sou muito feliz com o que faço e a vida na universidade permite que você consiga de alguma forma organizar horários. Há dias que não escrevo nada e que vou ler Nelson Rodrigues ou ver televisão. Mas há semanas que não é possível. Acho que essa é uma profissão bastante interessante que permite conhecer várias situações, pessoas e lugares. Por isso, o "se desdobrar", para mim não é um sacrifício.

Pedro Mourão
Entendo. A título de provocação intelectual, eu gostaria de te perguntar algo.
Qual a importância da ciência que você faz para o resto da sociedade, fora dos muros da universidade?

Danyelle Nilin Gonçalves
Eu acho que a importância da ciência em geral e não somente a que eu faço é a seguinte:
Na medida em que conseguimos desnaturalizar os processos, eventos e fenômenos,
na medida em que o mundo social e as ações dos sujeitos se tornam mais inteligíveis, essa é a nossa grande contribuição. Tenho certeza que os anistiados, ao lerem meu livro, devem ter parado para se perguntar sobre várias questões que alguns deles não deviam pensar até então. Sendo assim, fico satisfeita com o trabalho.

Pedro Mourão
Interessante.

Danyelle Nilin Gonçalves
Mas existem outras pesquisas também como a do assentamento do movimento sem-terra que conseguimos ver in loco o resultado de nossa pesquisa-ação.

Pedro Mourão
Onde se localiza e em que consiste esse trabalho?

Danyelle Nilin Gonçalves
No Assentamento Zumbi do Palmares e é um trabalho financiado pela Petrobras para perceber a ambiência do local, já que este local é alvo de um projeto experimental da empresa. Acompanhamos a comunidade sobre a sua trajetória, os conflitos instalados, as lideranças oficiais e as emergentes e o capital social daquela comunidade. Nesse caso, já temos muitos dados concretos de pesquisa.

Pedro Mourão
Qual é a finalidade do projeto?

Danyelle Nilin Gonçalves
Nossa atuação permite ver como a comunidade vem construindo sua história.
Perceber qual a possibilidade de os assentados trabalharem em prol de algo coletivo.

Pedro Mourão
Muito interessante. Você foi professora no ramo privado e hoje é da universidade pública.
Quais as grandes semelhanças e diferenças dos dois campos?

Danyelle Nilin Gonçalves
Para mim foi super interessante ter as duas experiências.
Na faculdade privada, a gestão e a logística funcionam muito bem.
Nas minhas experiências também percebi certo respeito com o professor.
Não estou dizendo que isso ocorre sempre. Há também mais possibilidades de convívio entre os professores, nem que seja na sala dos professores antes da aula, no horário do intervalo e no final. Mas é bom deixar claro que estou falando da minha experiência pessoal e que não estou fazendo generalizações.

Pedro Mourão
Claro.

Danyelle Nilin Gonçalves
O grande problema da faculdade privada é a falta de autonomia para algumas coisas e pouco acesso à pesquisa, a ter bolsistas, a viajar para eventos, etc. Em relação aos alunos, há alunos bons nas duas. Sendo que na universidade pública há uma ideia de continuidade da carreira que talvez a universidade privada não estimule tanto.

Pedro Mourão
Hoje você faz parte do LEPEC-UFC (Laboratório de pesquisa em Política e Cultura) e da SBS (Sociedade brasileira de Sociologia). Qual é o seu papel nesses dois grupos?

Danyelle Nilin Gonçalves
Sou membro do LEPEC e coordenadora da comissão de ensino da SBS.

Pedro Mourão
Como se seu o convite para esse trabalho na SBS? Quais as suas principais atividades como coordenadora da comissão de educação da SBS?

Danyelle Nilin Gonçalves
O convite se deu pela Irlys Barreira que é a presidente as SBS. A ideia da comissão é estimular a discussão sobre o ensino de sociologia no ensino médio.

Pedro Mourão
Vocês estão organizando o ENESEB (Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia)?

Danyelle Nilin Gonçalves
Isso mesmo, será em 31 de maio a 3 de junho em Fortaleza na Universidade Federal do Ceará, no campus Benfica. O Eneseb terá boas discussões sobre o ensino de sociologia e terá como tema central Juventude e Ensino Médio. Teremos como convidado Bernard Lahire para a conferência inicial.


Pedro Mourão
Gostaria que falasse sobre seu último livro que lançou.

Danyelle Nilin Gonçalves
Os dois livros, tanto o que resultou da dissertação e o da tese foram lançados um pela Editora Pontes (dissertação) e outro pela Expressão Popular (tese).

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Kieślowski & Irène Jacob: Magia & Técnica, Arte & Política.


              
                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*

____________________
Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).




                          Todos os filmes que faço são sobre a necessidade de se abrir”. Krzysztof Kieslowski
                                                
                            Foto: Bust of Kieślowski, Celebrity Alley, Kielce, Poland.
A carreira cinematográfica de Krzysztof  Kieślowski (1941-1996) se divide entre a fase polonesa e a francesa (cf. Furdal e Turigliatto, 1989; Esteve, 1994; Amiel, 1995; Attolini, 1998; Furdal, 2001). Depois de concluir a faculdade, o jovem diretor começa a produzir documentários. A narrativa dos documentários (cf. Wisner, 2002; Haltof, 2004; Ramos, 2005) passa a influenciar os primeiros filmes de ficção do diretor, tais como: “A Cicatriz”, “Blind Chance” e “Amador” que são exemplos desse estilo (cf. Stok, 1993; Haltof, 2004). Mais tarde, Kieślowski realizou para a televisão polonesa uma série de filmes chamada Dekalog (1989) - “um filme por mandamento”, todos tratando de conflitos não apenas éticos e morais. Dekalog (cf. Loretan, 1993), é um projeto “difícil de classificar e árduo de descrever”. Alguns críticos preferem vê-lo não como um filme, mas, como dez médias-metragens independentes entre si. E temos no primeiro caso,  um funcionário do correio que obcecado por uma mulher madura e independente tenta  uma aproximação, mas é um  voyeur. O segundo, através de uma visão amarga da vida, e cena das mais chocantes da história do cinema. O provérbio chinês sobre a imagem não tem sentido para o cinema.
           
                  Título original: Krótki film o milosci, quer dizer: “Um pequeno filme sobre o amor”.
Kieślowski's early documentaries focused on the everyday lives of city dwellers, workers, and soldiers. Though he was not an overtly political filmmaker, he soon found that attempting to depict Polish life accurately brought him into conflict with the authorities. His television film Workers '71, which showed workers discussing the reasons for the mass strikes of 1970, was only shown in a drastically censored form. After Workers '71, he turned his eye on the authorities themselves in Curriculum Vitae, a film that combined documentary footage of Politburo meetings with a fictional story about a man under scrutiny by the officials. Though Kieślowski believed the film's message was anti-authoritarian, he was criticized by his colleagues for cooperating with the government in its production. Kieślowski later said that he abandoned documentary filmmaking due to two experiences: the censorship of Workers '71, which caused him to doubt whether truth could be told literally under an authoritarian regime, and an incident during the filming of Station (1981) in which some of his footage was nearly used as evidence in a criminal case. He decided that fiction not only allowed more artistic freedom, but could portray everyday life more truthfully”.
           
                     
Tese: O deslocamento entre as duas dimensões do real e do imaginário (cf. Deleuze, 1974; 1976; 1980; 1985; 1988) ocorre necessariamente por disjunção, por divergência: o transcendental (Kant) não pode se assemelhar ao empírico, “senão retornaríamos ao contexto redundante da experiência possível”. Portanto, ainda que sumariamente, diremos que sair do plano dos entes, do vivido, e mergulhar na direção do transcendental, é dissolvê-lo no denso e múltiplo conjunto de forças a partir do qual ele emerge....

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Três Reisados Cearenses: Crato, Juazeiro & Barbalha.


                              
Ubiracy de Souza Braga*

 ___________________
Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências (USP) junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

           
             Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha formam a região metropolitana, na região do Cariri, sul do Ceará: a distância que separa as 3 é de menos de 10 km. Crato e Barbalha são as cidades mais antigas, fundadas no século XVIII. Juazeiro do Norte foi emancipada no início do século XX pelo extraordinário Padre Cícero Romão, que depois de morto “passou a ser considerado um santo pela maioria absoluta dos católicos nordestinos” (cf. Della Cava, 1976; Silva, 1982; Aquino, 1997; Neto, 2009). Milhões de pessoas vão a Juazeiro do Norte todos os anos, por causa do Padre Cícero. Na devoção popular, é conhecido como “Padim Ciço”. Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará bem como do Nordeste.
Em março de 2001, foi escolhido “O Cearense do Século” em votação promovida pela TV Verdes Mares em parceria com a Rede Globo de televisão. Em julho de 2012, foi eleito um dos “100 maiores brasileiros de todos os tempos” em concurso realizado pelo SBT com a BBC. Juazeiro do Norte tem quase 250.000 habitantes, e é a maior cidade do interior do Ceará. Crato tem quase 100.000 e Barbalha, mais de 50.000. As três juntas formam um complexo urbano de mais de 400.000 habitantes. Trataremos de aspectos gerais desse processo social de comunicação que transcende a região vista como mero instrumento da ação política e/ou religiosa.
             
- “Ha um ano atrás surge a ideia de estimular o contato entre os jovens da região CRAJUBAR, já que, Crato, Juazeiro e Barbalha são três das cidades maiores e mais conhecidas do Cariri. Mas de que forma? Sabemos que as redes sociais são, atualmente, um dos meios mais influentes e mais utilizados por jovens em todo o mundo, sendo assim, as redes sociais foram a melhor maneira para atrair os jovens e proporcionar a cada um deles a oportunidade de manter o contato entre jovens de sua própria cidade e de cidades vizinhas. Já que até então não havia nenhuma comunidade no Orkut voltada para os jovens da região e pelo fato do Orkut ser uma das redes sociais mais influentes entre os jovens do Cariri, surge a ideia de se criar uma comunidade totalmente voltada para os jovens. Surge então a marca CRAJUBAR TEEN. A comunidade atinge o seu objetivo e em pouco tempo ganha destaque entre os jovens. Hoje estamos presente em quase todas as redes sociais e estreamos a pouco tempo esse Blog. Quero agradecer desde então todos que colaboram e torcem pela Crajubar Teen, todos os membros da comunidade, seguidores no Twitter, amigos no Facebook e a toda galera que esta diariamente visitando o Blog. Para comemorar essa data segue as fotos enviadas a Crajubar Teen, e mais uma vez, obrigado pelo carinho e apoio!”.

Tim Maia foi um cantor, compositor, produtor, maestro, multi-instrumentista e empresário brasileiro, responsável pela introdução do estilo.....

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Economia Política da Extração de Minérios em Carajás.


                        A Economia Política da Extração de Minérios em Carajás.
                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*


______________________
Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).






Depois de 30 anos tirando minério, em Marabá não tem uma fábrica de faca para o sujeito se matar”. (comerciante Eliomar Freitas)
                                 Mina na Serra Norte de Carajás. Foto: Jeremy Bigwood.

            Escólio: Não há dúvida alguma que a economia política espelhou as tendências das principais transformações sociais e econômicas que emergiam, sobretudo na Inglaterra e França, a partir dos meados do século XVIII. Sendo assim, ideias que surgiram em meio às mudanças do capitalismo passaram a ser consideradas como detentoras do “segredo científico da escravidão”, perdendo o status de representação das transformações do capitalismo europeu dos fins do século XVIII e princípios do XIX. Importa é que essas ideias foram transformadas em paradigmas pela historiografia da escravidão, a despeito de terem nascido dentro de uma ideologia que foi edificada há mais de dois séculos e que dava conta de um determinado “mundo do trabalho”. Neste caso, portanto, a ideologia transformou-se numa memória da qual o conhecimento histórico continua retirando instrumentos para o exame da escravidão (cf. Fanon, 1954; 1961; 1963; 1967; 1983; Genovese, 1976; Temperley, 1977; Williams, 1978; Rocha, 1989; Lopes, 1983; 1984; Vieira, 1985; Almeida Jr., 1986; Martins, 1993; 1997).
Trabalho escravo contemporâneo é o “trabalho forçado” (cf. OIT, “forced labour”, 2001) que “envolve restrições à liberdade do trabalhador” (“Involves restrictions on freedom of the worker”). O trabalhador é obrigado a prestar um serviço, “sem receber um pagamento ou recebem um valor insuficiente para suas necessidades e as relações de trabalho costumam ser ilegais”. Diante destas condições, as pessoas não conseguem se desvincular do trabalho. A maioria é forçada a trabalhar para quitar dívidas, muitas vezes contraída por um ancestral. Estima-se que existam no mundo entre 12 a 27 milhões de pessoas escravizadas nos diversos ramos da indústria, serviços e agricultura, ou seja, 10% da  população brasileira estimada em torno de 193.946.886 habitantes em 2012. Em geral, os escravos provêm de regiões muito empobrecidas, com pouco acesso à educação e saúde e ao crédito formal. São locais onde as leis de proteção são fracas,...