Ubiracy de Souza Braga*
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* Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
“O
conceito universal do belo entrou em declínio com a modernidade”. Samuel Chaim Katz
Gabriela Isler (Venezuela), vencedora do concurso multinacional
denominado: “Miss Universe” (2013).
Escólio: Chamamos de “conceito” o
que Platão parece demonstrar não como culto ao belo, posto que só tivesse
validade se correspondesse a uma “essência no mundo das ideias”. A busca
platônica pelo belo, o bom e o justo fixam-se na história do Ocidente em torno da
busca do “belo em si”. Com as grandes religiões, o belo situa-se sempre fora da
experiência sensível. Seria o divino aquilo que o humano tem como referência e
que tenta alcançar. Para sermos breves, Immanuel Kant realiza uma virada,
dizendo que é impossível ter uma regra universal acerca do belo, pois todo
juízo a respeito do belo é singular, determinado pelo gosto; não há mais uma
determinação dita “universalizante”. Ao mesmo tempo, se para Kant, apesar de o
gosto ser singular, todo mundo tem faculdades semelhantes; portanto a decisão
sobre o que é belo se rompe com a universalização, mas as condições são
universalizáveis. Contudo, a descrição de Michel Foucault sobre Erasmo (c.
1466-1536) no livro: “Elogio da Loucura”, de Erasmo, não há mais essa
universalização. Para um homem bem velho que tem dinheiro, por exemplo, essas
questões sobre o belo não aparecem. A loucura interna a cada um, sim, é
universal, mas que não trataremos agora.
Tese: O
Brasil pode ter ganhado cinco Copas do Mundo, e a Argentina, 22 Taças
Libertadores da América, mas quando se trata de mulher bonita, nenhum país da
América Latina é páreo para a Venezuela. O país já conquistou seis títulos do concurso
“Miss Universo”, e só fica atrás dos Estados Unidos, que têm oito por razões
óbvias: origem e significado comercial da competição. Como se não bastasse, em
2009 a pátria de Chávez entrou para o Livro Guinness dos Recordes ao se tornar
o primeiro país a conquistar o título por dois anos consecutivos em 2008 e
2009. A trajetória que levou as venezuelanas ao topo do ranking mundial da beleza começou em 1952, quando a “Panamerican
Airways” (Pan Am) idealizou o concurso Miss Venezuela para escolher a
representante do país no então recém-criado “Miss Universo”, concurso de beleza
realizado nos Estados Unidos para escolher a mulher mais bela do mundo. Com o
passar dos anos, a competição virou um fenômeno de público na Venezuela e, a
partir da década de 1970, passou a ser transmitido em cadeia nacional pelo
canal Venevisión e se tornou o
programa de televisão mais assistido do país.
Foto: As
cinco finalistas do concurso “Miss Universo”, ano 2013. Alexander Nemenov/AFP.
A
Venezuela, oficialmente República Bolivariana da Venezuela, é um país tropical,
na costa norte da América do Sul. O país possui várias ilhas fora de seu
território continental situadas em sua costa no mar do Caribe (português
brasileiro) ou mar das Caraíbas (português europeu). A república é uma antiga
colônia espanhola que conquistou a sua Independência em 1821. A Venezuela tem
fronteiras com a Guiana a leste, com o Brasil ao sul e com a Colômbia a oeste.
Os países Trinidad e Tobago, Granada, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e
Barbados, além de Curaçao e Aruba, que são países constituintes do Reino dos
Países Baixos, e a municipalidade neerlandesa de “Bonaire”, estão a norte, ao
largo da costa venezuelana. Sua área territorial é de 916 445 km², sendo o 32º
maior país no mundo em território. Sua população é estimada em 28 892 735
habitantes e a capital nacional é Caracas. As cores da bandeira venezuelana são
o amarelo, azul e vermelho, nessa ordem: o amarelo representa a riqueza da
terra, o azul o mar e o céu do país, e o vermelho o sangue derramado pelos
heróis da Independência. A Venezuela está entre os países mais urbanizados da
América Latina; a grande maioria dos venezuelanos vive nas cidades do norte,
especialmente na capital Caracas, que é também a maior cidade do país.
Visão
parcial de Caracas com seus teleféricos.
Do
ponto de vista estético não demorou muito para que a Venezuela emplacasse uma “Miss
Universe”: em 1979, Maritza Sayalero se tornou a primeira representante do país
a conquistar a coroa. Dali em diante, o feito foi repetido por Irene Sáez em
1981, Bárbara Palacios em 1986, Alicia Machado em 1996 e pela dobradinha Dayana
Mendoza em 2008 e Stefania Fernandez em 2009. Todas essas conquistas apontavam
para um novo status dos concursos de beleza: “inteligência, os valores pessoais
e a capacidade liderança da mulher”, os quais fizeram com que o concurso Miss
Venezuela, realizado todo ano entre setembro e outubro em Caracas, passasse a
ser transmitido pela Venevisión para
toda a América Latina, num processo midiático aparentemente de “incomunicação”
(cf. Sfez, 2000; Menezes, 2005), como se referem alguns teóricos dos mass mídia e até para os Estados
Unidos. No último dia 10 de outubro foi realizada a edição de 2013, que coroou
Migbelis Castellanos como a nova Miss Venezuela. A corporação Venevisión é uma rede de televisão da
Venezuela, sendo a principal deste país.
É
comandado pelo magnata Gustavo Cisneros, que a adquiriu em 1960. Foi criada no
dia 4 de maio de 1953 com o nome de “Venezolana de Televisión, SA”. A companhia
foi a falência em 1960, quando Diego Cisneros comprou o restante da sociedade.
Em, 1961 e Venevisión foi inaugurada em definitivo com um show inaugural. O
canal era transmitido ao vivo, pois ainda a emissora não tinha o “videotape”,
com a exceção dos noticiários onde eram exibidos em filme. Em 1961 a emissora
assinou um acordo com a rede de televisão norte-americana ABC, para apoios
técnicos e direitos civis de emissão de programas de TV. Na década de 1970 a
emissora passou a testar o sistema de transmissão em cores e em 1986 passou a
transmitir via parabólica, sendo a primeira da Venezuela. Em 1994 passou a
operar 24 horas por dia e em 2007 transmitiu o Miss Venezuela e a Copa América
em “alta definição”.
Marelisa
Gibson, Miss Venezuela, disputou o Miss Universo em 2010. Foto: Jerryn
LV/Shutterstock.
No
caso brasileiro, Vera Fischer foi coroada Miss Brasil no de 1969 aos 18 anos. Nascida
em uma família de origem alemã, em 1951, na cidade de Blumenau, no Vale do
Itajaí, Santa Catarina. Em recente autobiografia (cf. Serena, 2011) declarou
“que seu pai era nazista”. Vera Fischer, contrariando Freud (1972), nunca teve
uma boa relação com o pai. Iniciou a carreira como atriz fazendo
pornochanchadas, um gênero de filmes brasileiros que fez parte do popularesco
nas décadas de 1970 e início da década de 1980, mas em sua démarche passou a
fazer telenovelas, cinema e teatro. No cinema, interpretou personagens
antinômicos de Rubem Fonseca, Plínio Marcos e Nelson Rodrigues. A beleza física
da atriz é um dos seus pontos altos, para lembramos de Vinícius de Moraes,
quando afirma: “que me desculpem as feias, mas beleza é fundamental”, o que
reitera as edições da revista Playboy (cf. Braga, 2012) de agosto de 1982 e de
janeiro de 2000, sendo que nesse último ensaio fez fotos nuas em Paris aos 48
anos clicados pelo renomado fotógrafo Bob Wolfenson.
Nos
primeiros dez anos do concurso de 1952 a 1962 diversas coroas foram usadas
pelas vencedoras do concurso. De 1960 a 1990, o “Juramento da Miss Universo”
foi lido após a coroação de cada vencedora. Sempre em “off”, primeiro por uma
co-apresentadora e depois pela voz gravada da eleita em inglês: - “We, the
young women of the universe, believe people everywhere are seeking peace,
tolerance and mutual understanding. We pledge to spread this message in every
way we can, wherever we go” (- Nós, as jovens mulheres do universo, acreditamos
que as pessoas de todos os lugares buscam a paz, a tolerância e o entendimento
mútuo. Nós prometemos difundir esta mensagem de todas as maneiras que pudermos,
em todos os lugares que formos”). Em 1963 uma coroa com mais de mil diamantes e
ouro branco confeccionada por uma joalheria norte-americana passou a ser
utilizada como a coroa oficial. O modelo foi usado por 38 anos de 1963 a 2001. A
coroa usada pela vencedora do concurso entre 2002 e 2007 foi desenhada pela
joalheria japonesa Mikimoto, patrocinadora oficial da “Miss Universe
Organization” nestes anos.
Ela
descreve a ascensão da Fênix, símbolo mitológico do poder, da beleza e do status. A coroa tem 500 diamantes num
total de quase 30 quilates, 120 pérolas de tamanhos entre 3 e 18 mm de diâmetro
e tem o valor de U$250 mil dólares. Foi criada pelos artesãos japoneses
especialmente para o concurso na Ilha da Pérola Mikimoto, no Japão. A partir de
2009, uma nova coroa criada pela empresa Diamond Nexus Labs passou a ser usada
para a coroação. Ela foi incrustada com 1.371 gemas num total de 16,09 quilates
(83.22 g) e contém 544,31 gramas de ouro branco e platina. A coroa também foi
manufaturada com rubis sintéticos que representam a plataforma de educação e
precauções contra doenças sexualmente transmissíveis. Entretanto, quando foi
usada no primeiro ano, pela venezuelana Stefania Fernández, Miss Universo 2009,
acabou ficando tão pesada que provocava dores de cabeça. Com isso, ela foi
reformulada e tornada mais leve, sendo retirado o arco superior, passando a ter
a forma atual usada a partir da Miss Universo 2010, Ximena Navarrete. A nova
coroa da Diamond Nexus na cabeça da Miss Universo 2011, Leila Lopes (foto).
Instantes
após vencer o concurso de “Miss Universo” na noite de segunda-feira (12/11/2011),
em São Paulo, a angolana Leila Lopes, de 25 anos, passou a receber ofensas
racistas na rede mundial de computadores - internet
pelo fato de ser negra e bela. Mensagens em português e em inglês postadas num
site internacional que se define “nacionalista branco e possuem adeptos do
ditador nazista Adolf Hitler” compararam a ganhadora do título de mais bela do
mundo a uma “macaca”, contrariando Charles Darwin que admitiu que o homem é o
centro da espécie. A brasileira Priscila Machado, 25 anos, que ficou em
terceiro lugar, também sofreu insultos, sendo chamada de “crocodilo”. A miss
Ucrânia Olesia Stefa, de 23 anos, segunda colocada no concurso, foi “garfada”
na opinião de alguns dos participantes dos fóruns de discussão “Miss Universo
2011” e “Angolan negress crowned Miss Universe” do Stormfront. A sigla refere-se à chamada “Comunidade Stormfront de
Nacionalistas Brancos” representada no site da internet que se define como: “Fórum
para discussões racialistas para ativistas pró-Brancos e interessados na
sobrevivência dos Brancos”. Foi iniciado em 1990. O Stormfront tem mais de 60 000 membros racistas registrados por todo
o mundo, sendo aproximadamente 33 000 dos EUA, 20 000 da Europa e o restante no
âmbito da América Latina, África do Sul e Austrália. Além de Don Black, o Stormfront conta com diversos políticos
e ativistas da causa racialista de todo o mundo, como David Duke, Paul Fromm e
Jurgen Graf, dos EUA, Reino Unido e Suíça, respectivamente.
A beleza fulgurante de Leila
Lopes (2009).
O
discurso racista fora expresso da seguinte forma: - “Confesso que nem assisti,
pois já imaginava o que viria a acontecer. Agora só falta Hollywood chamar a
vencedora para fazer o papel da filha do King Kong”, afirma outro integrante na
página do Stormfront, sobre a
escolha da nova miss Universa. Este
diz morar em Santa Catarina. Outro membro se mostra revoltado ao afirmar que a
escolha de uma negra, na opinião dele, é uma ofensa às europeias. - “Sabia que
ia dar preta… como uma Miss Universa no Brasil não escolheria uma preta? E olha
que cara horrível, cabelo repulsivo, como consegue escolher uma coisa dessas?
Eu me indigno, não com os jurados, que são comprados para promover tais
afrontas à cultura europeia, mas sim com as ovelhas que assistem isso e acham
normais”, diz um participante que afirma morar no Rio Grande do Sul. Outro
integrante racista do stormfronter,
como os membros do site se referem um
a outro, alega que as mensagens postadas no site não são ofensivas e não
incitam o preconceito. - “Até porque não estamos pregando a intolerância/ódio,
apenas nos divertindo com a situação. Sabíamos que ia acabar em várzea…”, diz
um participante. Esse “gênio” não percebe que racismo é crime dentro e fora do
Brasil e não diversão. Essa é a particularidade do racismo contemporâneo (cf. Braga,
2011).
O
racismo é a tendência do pensamento, ou o “modo de pensar”, em que se dá grande
importância à noção da existência de raças humanas distintas e superiores umas
às outras, normalmente relacionando características físicas hereditárias a
determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais. O
racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré-concebidas
que valorizam as diferenças biológicas entre os seres humanos, atribuindo
superioridade a alguns de acordo com a matriz racial. A crença da existência de
raças superiores e inferiores foram utilizadas muitas vezes para justificar a
escravidão, o domínio de determinados povos por outros, e os genocídios que
ocorreram durante toda a história da humanidade e ao complexo de inferioridade,
se sentindo, muitos povos, como inferiores aos europeus.
Embora
existam classificações raciais propostas pelas mais diversas correntes
científicas, pode-se dizer que a taxonomia referencia uma oscilação de cinco a
duas centenas de raças humanas espalhadas pelo planeta, além de micro raças
regionais, locais ou geográficas que ocorrem devido ao isolamento de grupos de
indivíduos que cruzam entre si. Portanto, a separação racial torna-se completamente
irracional em função das composições raciais, das miscigenações, recomposições
e padronizações em nível de espécie que houve desde o início da caminhada da
humanidade sobre o planeta. Todas as raças provêm de um só tronco, o Homo sapiens, portanto o patrimônio
hereditário dos humanos é comum. E isto por si só não justifica o racismo, pois
as raças não são nem superiores, nem inferiores, são apenas diferentes. E a
diferença e a diversidade é o que constitui o princípio de vida em qualquer
sistema vivo.
Vera
Fischer foi coroada Miss Brasil no ano de 1969, e por pouco não “abocanha”, na
falta de melhor expressão, também o prêmio de Miss Universo, chegando a ser
semifinalista. Nos anos seguintes, ela seguiu carreira como atriz, conseguindo
grande destaque em filmes e novelas até os dias de hoje - e também muita
polêmica graças à sua atribulada vida pessoal. Um dos principais papéis de Vera
Fischer nas novelas foi em “Mandala”, de 1987. Escrita por Dias Gomes, era uma
adaptação do clássico “Sófocles Édipo Rei”, onde a atriz interpretava a personagem
Jocasta. “Mandala” foi extremamente polêmica, lidando com assuntos como
incesto, bissexualismo, drogas, etc. e é também lembrada por ser a novela cuja
música tema era o “hino trasher” da cantora Rosana, “O Amor e O Poder”,
como vemos abaixo:
“A música na sombra/O ritmo no ar/Um
animal que ronda/No véu do luar/Eu saio dos seus olhos/Eu rolo pelo chão/Feito
um amor que queima/ Magia negra, sedução/Como uma deusa/Você me mantém/E as
coisas que você me diz/Me levam além/Aqui nesse lugar/Não há rainha ou rei/Há
uma mulher e um homem/Trocando sonhos fora da lei/Como uma deusa/Você me
mantém/E as coisas que você me diz/Me levam além/Tão perto das lendas/Tão longe
do fim/Afim de dividir/No fundo do prazer/O amor e poder/A música na sombra/O
ritmo no ar/Um animal que ronda/No véu do luar/Tão perto das lendas/Tão longe
do fim/Afim de dividir/No fundo do prazer/O amor e poder/Como uma deusa/Você me
mantém/E as coisas que você me diz/Me levam além/Tão perto das lendas/Tão longe
do fim/Afim de dividir/No fundo do prazer/O amor e poder/Como uma deusa/Você me
mantém/E as coisas que você me diz/Me levam além”.
Já
demonstrei noutro lugar (cf. Braga, 2010), que chamamos de “conceito” o que
Platão parece “demonstrar” não como “culto” ao belo, posto que só tivesse
validade se correspondesse a uma “essência no mundo das ideias”. Mas a busca
platônica pelo belo, o bom e o justo ficam na história do Ocidente para buscar
o “belo em si”. Com as grandes religiões, o belo situa-se sempre fora da
experiência sensível. Seria o divino aquilo que o humano tem como referência e
que tenta alcançar. Para sermos breves, Kant realiza uma virada, dizendo que é
impossível ter uma regra universal acerca do belo, pois todo juízo a respeito
do belo é singular, determinado pelo gosto; não há mais uma determinação
“universalizante”. Ao mesmo tempo, se para Kant, apesar de o gosto ser
singular, todo mundo tem faculdades semelhantes; portanto a decisão sobre o que
é belo se rompe com a universalização, mas as condições são universalizáveis.
Gabriela
Isler, representante da Venezuela, é a nova vencedora do concurso multinacional
denominado: “Miss Universe”. Ela venceu as outras 85 candidatas de diversas
nacionalidades no concurso de 2013, realizado neste sábado (9/11) em Moscou, na
Rússia. Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil ficou em quinto lugar, com
Jakelyne Oliveira, de 20 anos, natural de Mato Grosso. No ano passado, a Miss
Brasil 2012, a
gaúcha Gabriela Markus, de 24 anos, também ficou na quinta colocação. Agora, a
venezuelana sucede a norte-americana Olivia Culpo, vencedora em 2012. A cerimônia de
coroação ocorreu no “Crocus City Mall”, uma grande sala de concertos da cidade.
Em segundo lugar ficou a espanhola Patricia Rodriguez, em terceiro, a
equatoriana Constanza Baez, e em quarto, a filipina Ariella Arida. As
candidatas foram julgadas em três categorias: traje de banho, traje de noite e
entrevista. Dias antes do concurso Miss Universo, são realizadas as provas
preliminares de traje e para a escolha do melhor traje típico dentro de um
evento intitulado: “Presentation Show”. Os resultados são mantidos sob sigilo
até o dia do concurso.
Historicamente
o concurso de Miss Universo é inspirado no antigo “International Pageant of
Pulchritude”, que dentre o período de 1926 a 1935, se realizava anualmente,
atribuindo o título de “Miss Universo” à vencedora. Entre nós, a gaúcha Yolanda
Pereira foi a primeira e a única brasileira a conquistar o título em sua versão
antiga, em 1930 - sem nenhuma relação com o evento posterior - quando houve dois
concursos, um nos EUA e outro no Brasil. No pós-guerra, organizou-se novamente
o concurso, com novas modelos e a competição voltou a acontecer a partir de
1952. Em 1950, o concurso “Miss América”, prêmio nacional de beleza
norte-americano até então existente, foi realizado sob o patrocínio dos maiôs
Catalina. Então, em 1952, no balneário norte-americano de Long Beach,
completamente reconstruído após um terremoto em 1933, aconteceu a primeira
edição do concurso. Com um investimento de US$1 milhão, uma fortuna, ontem como
hoje, e a participação de 29 concorrentes de boa parte do mundo, além de
participantes de estados norte-americanos, em que a Miss Havaí foi a segunda
colocada, a finlandesa Armi Kuusela foi a vencedora, recebendo o prêmio máximo,
um contrato com a Universal. Desde então, o concurso se realiza anualmente. Um
fato ocorrido durante o ano de reinado de Kuusela acabaria criando regras mais
rígidas para o concurso dali em diante. Numa de suas inúmeras viagens pelo
mundo, ela conheceu um empresário filipino em Manila, por quem se apaixonou à
primeira vista, mas ao que parece, neste caso, amor e poder não se combinam.
Dorothy Britton, Miss Universo 1927.
“Con un
record de público el evento de Galveston reunió a más de 5,000 personas que
permanecieron hasta casi la una de la madrugada esperando el resultado final. -
Las chicas que participaron este año han sido sin duda las más lindas que se
hayan visto en los ocho años de concursos en Galveston - comentaban algunos -.
El imponente escenario, con un arreglo muy atractivo de cortinas tornasol de
terciopelo negro, estaba dispuesto al fondo, por donde las bellezas hacían su
entrada a una pasarela entre la concurrencia. Las concursantes norteamericanas
fueron las primeras en ser presentadas, luciendo sus trajes de noche
exquisitamente elaborados. Todas las muchachas se veían preciosas. Más adelante
posarían en sus tenidas de baño”.
De 1978 a 2002 era comum ver as
notas das misses na TV para saber quem tinha passado e quem não tinha chances
de ir às semifinais, bem como as notas de maiô, entrevista individual e trajes
de gala. Mas o que determinava a classificação de uma candidata a Miss Universo
era a média das notas das preliminares. Terminadas as provas de maiô,
entrevista e trajes de gala, aparecia uma última ponderação de notas, desta vez
para determinar as cinco finalistas. A partir de 2000, a entrevista passou a
ser restrita às cinco finalistas. Com as mudanças na classificação implantadas
em 1990, a entrevista final era feita para as misses do “top 6” e
posteriormente às três primeiras finalistas, saídas do “top 6” até 1997 e “top
5” de 1998 a 2000. Em 2001, as cinco finalistas voltaram a ser submetidas a
essa prova, o que acontece até hoje. As notas chegaram a ficar extintas entre
2003 a 2006, mas a partir de 2007, as notas parciais voltaram a ser divulgadas
pela TV, somente nos desfiles de Traje de Banho e o Traje de Gala. A partir de
2011 as notas dadas pelos jurados as candidatas voltaram a ser mantidas em
sigilo.
A
vencedora, Yolanda Betbeze, porém, se recusou a posar para fotos vestindo os
trajes de banho da patrocinadora. A atitude de Yolanda apontava para um novo
status dos concursos de beleza: “inteligência, os valores pessoais e a capacidade
liderança da mulher”. Olivia Culpo corou Gabriela Isler, “Miss Universo” de
2013 e ainda desfilou com um traje de banho avaliado em US$ 1 milhão. Ela
venceu as outras 85 candidatas de diversas nacionalidades no concurso de 2013,
realizado neste sábado (9/11) em Moscou, na Rússia. Pelo segundo ano
consecutivo, o Brasil ficou em quinto lugar, com Jakelyne Oliveira, de 20 anos,
natural de Mato Grosso. A Miss Brasil 2012, a gaúcha Gabriela Markus, de 24
anos, também ficou na quinta colocação. Ora, antropologicamente falando, o
concurso Miss Universo, nada mais é do que a representação dos ritos de
passagem enquanto celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no
seio de sua comunidade ou nação.
A
relação afetiva (Freud) foi tão fulminante que a Miss Universa abandonou as
obrigações com a organização ao meio e voou com o empresário para Tóquio, no
Japão, onde se casaram, e ela renunciou à coroa nos dias seguintes. O fato fez
com que a partir dali mulheres casadas não pudessem mais participar do evento
e, oficialmente, as regras passaram a estipular que caso uma “Miss Universa”
não pudesse por qualquer motivo completar seu mandato, ela seria imediatamente
substituída pela segunda colocada, que assumiria o título e as obrigações
decorrentes dele pelo restante do mandato anual. Entre 1952 e 1971, todas as
edições do concurso foram realizadas nos Estados Unidos, divididos entre a
Califórnia e a Flórida. A partir daí, espalhou-se pelo mundo, globalizando-se em
cidades anfitriãs na Ásia, Europa, Oceania, África, Caribe e América do Sul. Nos
primeiros anos, o certame esteve sob a responsabilidade da empresa de vestuário
Pacific-Mills e teve como patrocinador principal a marca de maiôs Catalina.
Mais
tarde, foi vendido para a empresa Kayser-Roth. Em 1977, a Kayser-Roth foi
comprada pela Gulf + Western Industries, então dona dos estúdios de cinema
Paramount. Em 1996, Donald Trump comprou os direitos comerciais do concurso em
parceria com a rede CBS, então geradora em nível internacional. No final de
2002, Donald Trump revenderia dois contratos relativos aos direitos de
transmissão: a) um com a rede NBC, para transmissão em território
norte-americano que incluiria uma transmissão em espanhol por sua subsidiária,
a Telemundo e outro, b) com a empresa Alfred Haber, para a distribuição
internacional do evento. Desde junho de 2002, o concurso vem sendo realizado
numa parceria entre a “Miss Universe Organization”, baseada em Nova Iorque (cf.
Braga, 2012), e a rede de televisão NBC. A atual presidente é Paula Shugart. A
organização também vende comercialmente, os direitos de transmissão da final
para outros países, além de produzir e organizar o concurso “Miss USA” e o concurso
“Miss Teen USA”. A vencedora do concurso “Miss USA” representa o país no âmbito
“Miss Universo”. Temos assim a globalização do corpo e sua comercialização
transnacional em crescente escala global. O céu já não é mais o limite! Enfim, a partir de 2012, a Miss Universe Organization
passou a aceitar transexuais nos eventos organizados por ela, o concurso: “Miss
Universa”, “Miss USA”, “Miss Canadá” e “Miss Teen USA”, - “deixando a critério
das suas franqueadas autorizarem ou não a participação de transexuais em seus
concursos nacionais”.
Gabriela Isler
quando foi anunciada como uma das finalistas do concurso. Foto: Alexander
Nemenov/AFP.
Embora
o ano de 2010 tenha sido marcado positivamente por um movimento “pró-beleza
natural”, com revistas estampando atrizes sem “photoshop” e modelos “plus
size”, as mulheres ainda desejam ser magras e continuam a buscar a uma
aparência perfeita. Para a psicanalista carioca Joana de Vilhena Novaes,
coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de
Pesquisa e Intervenção Social (LIPIS) da PUC-Rio, antes de fazer qualquer
crítica ao culto extremado ao corpo e à vaidade, é preciso contextualizar a
“corpolatria”, pois para ela, - “vivemos um momento histórico sem utopias ou
ideais. A sociedade não luta por causas sociais, por um bem comum, daí o
narcisismo”. Homens e mulheres enxergam o próprio corpo como seu maior bem,
como um projeto a ser sempre aperfeiçoado. Além disso, Joana é pós-doutoranda
em Clínica Médica (UERJ), pós-doutora em Psicologia Social (UERJ), doutora em
Psicologia Clínica (PUC-Rio). Pesquisadora correspondente do Centre de
Recherches Psychanalyse et Médecine -Université Denis-Diderot Paris 7
CRPM-Pandora, autora dos livros O intolerável peso da feiúra. Sobre as mulheres
e seus corpos. Ed. PUC/Garamond (2006) e Com que corpo eu vou? Sociabilidade e
usos do corpo nas mulheres das camadas altas e populares. Ed.
PUC/Pallas.(2010). Especialista em Transtornos Alimentares, consultora de
campanhas publicitárias ligadas à estética e à saúde feminina.
Para
Joana Vilhena Novaes, que é autora dos livros: “O Intolerável Peso da Feiúra –
Sobre as Mulheres e Seus Corpos” (Ed. PUC/Garamond) e, “Com que Corpo Eu Vou? –
Sociabilidade e Usos do Corpo nas Mulheres das Camadas Altas e Populares” (Ed.
PUC/Pallas), é impossível desprezar, ainda, a importância econômica deste
setor, o da beleza, que movimenta bilhões de reais – leia-se: Spas, academias, clínicas de estética,
cirurgias plásticas, cosméticos, salões etc. Há quem analise a “corpolatria” (cf.
Braga, 2011) como uma forma de repressão, mas houve outros períodos históricos
que também “satanizaram” o corpo, como na época vitoriana, quando a sexualidade
era reprimida ao extremo. Mas convém colocar uma questão mais geral a propósito
desse típico “individualismo”, ou “individuação” que se invoca tão
frequentemente para explicar, em épocas diferentes, fenômenos bem diversos. Sob
tal categoria misturam-se, frequentemente realidades completamente diferentes.
De fato, convém distinguir três aspectos: a) a atitude individualista, caracterizada pelo valor absoluto que se atribui ao
indivíduo em sua singularidade e pelo grau de independência que lhe é atribuído
em relação ao grupo ao qual ele pertence ou às instituições das quais ele
depende; b) a valorização da vida
privada, ou seja, a importância reconhecida às relações familiares, às formas
de atividade doméstica e ao campo de interesses patrimoniais; e, c) finalmente,
a intensidade das relações sociais
para consigo, isto é, através das formas nas quais se é chamado a tomar a si
próprio como objeto de conhecimento e campo de ação para transformar-se,
corrigir-se, purificar-se e promover a própria salvação.
Bibliografia geral consultada:
Bibliografia geral consultada:
MITCHELL, Juliet, “Mulheres: a Revolução mais
Longa”. In: Revista Civilização
Brasileira, nº 14. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1967; PROCHET,
Neyza, “Corpo, Identidade e Globalização”. Disponível no
site: http://www.achegas.net/numero/30/; BARTRA, Roger, El Modo de Produción Asiático. México:
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Dicionário de Sociologia Marxista. México: Editorial Grijalbo, 1973; SAFFIOTI,
Heleieth, “Relaciones de sexo y de classes sociales”. In: LA MUJER en America Latina. Ciudad de México: Sepsetentas, 1975, v.
2; Idem, A mulher na sociedade de classes.
Petrópolis (RJ): Vozes, 1976; KATZ, Samuel, Psicanálise
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