segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Utopia Acadêmica: Realidade e Desprezo.

                                     


                                                                                                    Ubiracy de Souza Braga*

Político não entende de universidade. Geralmente tem desprezo absoluto por elas. Talvez Darcy Ribeiro tenha sido uma honrosa exceção. Transitou à vontade tanto pelos “caminhos ocidentais” como pelas veredas do mundo tribal amazônico, ou pelos corredores de mais de dois “palácios de governo”. Seu compromisso foi vital, não setorial. Produziu na cátedra, na prolongada convivência com os índios, na criação de universidades, dentro e fora do país, como ministro da Educação ou como chefe da Casa Civil, como preso político, nas peregrinações do exílio, ou, como um sábio romancista.
Após Leonel Brizola, de Orestes Quércia a FHC, inclusive o Lula, todos estes desprestigiaram a universidade brasileira, exceto a presidenta da nação ainda exceção. Estes a viram apenas em seu sentido heteróclito, como ocorre no Ceará, destinada a formar tipos de profissionais que o funcionamento da sociedade local requer. Ignoram a relação entre o local e global. Esse é o propósito de se manter o “establishment”: para eliminar de uma vez por todas o sentido das palavras, eis o objetivo do Terror!
As jovens universidades estatais cearenses estão passando por problemas profundos de ordem político-administrativa, isto é, de liderança, pois tendem: a) aos riscos da burocratização: que tornam os professores irresponsáveis e, só atentos a regras administrativas; b) assim, esterilizam o ensino e liquidam com a pesquisa, a formação em tempo contínuo, como exigência do CNPq, só para atender a este ou aquele requisito regimental, e, c) não há interface permanente entre a burocracia estatal e as universidades públicas. Temos um governo de corte populista autoritário.
A universidade é a agência fundamental de renovação dos seus quadros e a formadora de seus corpos de professores e pesquisadores. Trata-se de irresponsabilidade social do governo. Tão grave quanto aquela que pretendeu corrigir em 2008. A somatória destas deformações resulta em greve prolongada, sem abertura de canais de negociação como em toda ordem democrática dentro ou fora do país. E infelizmente com um governo que estraga e despersonaliza a rica cultura da quinta economia do país!
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* Sociólogo (UFF) e cientista político (UFRJ). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE). 

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